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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Quando a bola de cristal se embacia

 

"O PSD começou a dar gigantes passos para perder as próximas eleições."

Clara Ferreira Alves, SIC N (20 de Março)

 

"Passos provavelmente não chegará a governante, medíocre ou não."

Vasco Pulido Valente, Público (15 de Abril)

 

«Por este andar, o PSD só governará quando os maluquinhos da Exponor lhe pedirem ou as galinhas do dr. Nobre tiverem dentes, de acordo com o que acontecer primeiro.»

Alberto Gonçalves, DN (17 de Abril)

 

«Um dos casos mais evidentes foi o radicalismo inconsciente de “correr o Sócrates o mais depressa possível”, a que no PSD se deu ouvidos e cujo resultado ameaça ser ou mantê-lo, contra todas as evidências, ou dar-lhe o melhor cenário possível para um retorno ao poder a curto prazo. E o melhor cenário possível, não custa perceber, é um PSD ganhador por uma pequena margem sobre um PS que sai do seu annus horribilis sem grandes estragos.O radicalismo inconsciente de "correr o Sócrates o mais depressa possível", a que no PSD se deu ouvidos, ameaça mantê-lo, contra todas as evidências.(...) [Sócrates] estará na primeira bancada da Assembleia a conduzir uma oposição revanchista e perigosa face a um PSD muito debilitado por uma vitória que será de Pirro.»

Pacheco Pereira, Público (23 de Abril)

A Ler:

Vale a pena repetir a evidência: em 200 anos de poder constitucional, o eleitorado português nunca tinha derrubado o primeiro-ministro entrincheirado no poder (a comédia Santana não conta). No domingo passado, isso aconteceu pela primeira vez. Passos foi o primeiro a conseguir derrubar nas urnas o poder do statu quo. Na Monarquia Constitucional, quem estava no poder ganhava sempre as eleições. Sempre. Na I República e no Estado Novo, as eleições não eram bem eleições. E, nesta III República, nós nunca tivemos a oportunidade para derrubar eleitoralmente o primeiro-ministro: Cavaco saiu antes de ser derrubado, Guterres fugiu, Barroso pulou a cerca, porque quis ser o imperador burocrático. Sócrates foi o primeiro a cair nas urnas. No domingo, o país fez história. Eis um facto que merecia mais atenção. Henrique Raposo no Expresso.

Os Três Trabalhos de Pedro Passos Coelho

 

1. Implementar o plano da tróica, com isso contribuindo para um aumento da credibilidade internacional do país (e dos governantes do país).

2. Reformar Portugal.

3. Renegociar a dívida.

Quanto melhor realizar os dois primeiros trabalhos, mais fácil será para ele - e para todo o país - a renegociação da dívida pública. Tudo converge para aí. Só um país credível, capaz de respeitar compromissos e de se reorganizar por si mesmo conseguirá uma boa reestruturação da dívida.

Provavelmente, não convém declarar desde já que se estará a trabalhar desde o início para o terceiro objectivo; caso contrário, é a realização dos dois primeiros que fica em risco (a certeza da renegociação futura pode abrandar o primeiro objectivo e amolecer a prossecução do segundo).

 

Legislativas (21)

A SUBIR

 

Pedro Passos Coelho. Venceu as legislativas suplantando todos os vaticínios e contrariando até o que alguns companheiros de partido antecipavam. A sua clara vitória no frente-a-frente com José Sócrates, como aqui logo se sublinhou, foi vital para que os portugueses acreditassem nele. O seu discurso de vitória, contido e sóbrio, contribuiu ainda mais para se perceber que entrámos num novo ciclo.

 

Paulo Portas. O CDS cresceu em número de votos e número de deputados, consolidando-se em áreas urbanas como Lisboa e Setúbal. Mais importante que isso: fará parte da próxima solução governativa. Um momento alto na carreira política de Portas.

 

Jerónimo de Sousa. A CDU ganha apenas um deputado mas é a única força de esquerda que resiste nestas legislativas. E alcança sobretudo um saboroso triunfo sobre um rival de estimação: o Bloco de Esquerda. A personalidade do secretário-geral comunista desempenhou um papel importante neste resultado.

 

Debates. Não há campanha sem debates. Esteve mal, portanto, um jornal que titulava recentemente em manchete "O povo não vai em debates". Pelo contrário, nestas legislativas os debates televisivos tiveram nível, substância e uma influência determinante. Com destaque natural para aquele que opôs Sócrates a Passos Coelho. Porque o povo vai mesmo em debates.

 

Fernando Nobre. Foi uma aposta arriscada de Passos Coelho para encabeçar o distrito de Lisboa. Aposta ganha: Nobre contribuiu para reforçar a votação social-democrata no principal círculo eleitoral do País (mais cinco deputados e mais 9% dos sufrágios), onde o PSD obtém o melhor resultado desde 1991, depois de ter vencido claramente um debate televisivo na TVI 24 com o cabeça-de-lista do PS em Lisboa, Ferro Rodrigues.

 

Cavaco Silva. Estaria agora a ser alvo de todas as críticas se o PS voltasse a ganhar as legislativas. A clara derrota eleitoral dos socialistas, menos de dois anos após o anterior escrutínio, confirmou que a maioria parlamentar já não correspondia à maioria sociológica do País. A dissolução do Parlamento foi, portanto, a melhor decisão que havia a tomar.

O Pecado Original de Pedro Passos Coelho

O pecado original de Pedro Passos Coelho foi, há coisa de meses atrás, ter ameçado que José Sócrates teria de se demitir se decidisse recorrer à ajuda financeira externa. Se Sócrates o tivesse feito, teria tomado a decisão correcta. Se Portugal tivesse recebido a ajuda mais cedo, não teria contraído novas dívidas a taxas da ordem dos dez por cento (em quase todas as maturidades!).

 

A diferença entre essas taxas e aquelas que teriam sido oferecidas a Portugal pela tróica nessa altura são os milhares de milhões de euros de puro desperdício que os contribuintes portugueses terão de pagar por causa da casmurrice de José Sócrates. Esses milhares de milhões de euros são bem superiores ao custo reputacional de que falava Passos Coelho no caso do país pedir ajuda.

 

É verdade que o que levou Sócrates a não recorrer mais cedo à ajuda externa não foi a pressão imposta por Passos Coelho. Também é verdade que Passos Coelho estava certíssimo ao afirmar que a necessidade de ajuda externa era a prova definitiva da incompetência do governo socialista (ele não usou estas palavras mas a ideia foi essa). Mas foi um erro dar a Sócrates os incentivos errados: segundo Passos Coelho, Sócrates deveria demitir-se mal tomasse a decisão correcta e necessária.

 

Talvez que se os primeiros três PECs, aprovados com a anuência do PSD, tivessem sido integralmente cumpridos nunca se tornaria necessário o auxílio internacional. Mas já era claro, nos finais de 2010, que os PECs não estavam a ser aplicados e que, portanto, Portugal se dirigia velozmente para a ruptura financeira. A própria sequência dos PECs era sintoma da sua não implementação ou da sua insuficiência. Era notório que Portugal precisava da ajuda externa.

 

José Sócrates e o Partido Socialista merecem ser responsabilizados duramente (entre muitíssimas outras coisas...) pela riqueza nacional que será perdida sem razão nem racionalidade nem proveito nenhuns em juros daquelas dívidas, a pagar agora e no futuro. E a punição eleitoral, apenas e só, é castigo demasiado leve!

 

Porém, este é um argumento que Pedro Passos Coelho já não pode, com legitimidade, utilizar na presente campanha eleitoral. Isto porque defendeu a demissão de Sócrates no caso de este tomar a medida que já se havia tornado inevitável: financiar a despesa pública não através do mercado mas por via das agências internacionais o mais cedo possível.

 

Novas Oportunidades: Já Temos um Vencedor

Ao colocar mais uma vez o dedo na ferida, criticando o programa Novas Oportunidades, Pedro Passos Coelho demonstra coragem.

 

Independentemente dos resultados do 5 de Junho que aí vem, Pedro Passos Coelho está já a revelar-se um vencedor. Só falta que os eleitores se apercebam disso... para bem dos próprios.

 

Do ponto de vista da estratégia eleitoral, é um erro criticar o Novas Oportunidades? Talvez mas é também um modo muito claro de sinalizar um filosofia política com efeitos muito práticos: o facilitismo e o governo para as estatísticas provocam injustiça e frustração: Portugal precisa de ser regenerado por via do esforço e do mérito.

 

Se para chegar a Primeiro Ministro for necessário mentir, manipular e iludir - então eu não quero ser Primeiro Ministro. Cada vez mais me parece que é assim que Pedro Passos Coelho pensa - e é por isso que ele merece ser o vencedor.

Sócrates Segue Soares

Depois de Mário Soares afirmar que Pedro Passos Coelho é uma "pessoa com quem se pode falar" e "bem-intencionada", é a vez de José Sócrates declarar que acha "possível e desejável um ententendimento entre PS e PSD e outros partidos que estiverem interessados".

 

Sócrates adopta, mais uma vez, a postura dialogante. Mas considerando o crédito que merece, quem pode ainda estar disposto a dialogar com Sócrates? O diálogo PS-PSD é muito necessário mas é triste que o principal interlocutor do lado socialista ainda seja o mesmo político tão pouco digno de confiança.

Sociedade Civil? - Não: o Nobre é Político

"Fica a pergunta aos meus companheiros/camaradas/colegas de blogue: Não andam todos, desde sempre, a clamar, quiçá vociferar, pela abertura dos partidos à sociedade civil?" pergunta Fernando Moreira de Sá.

 

A minha resposta:

 

O Nobre não é "sociedade civil". O Nobre é "político". O convite de PPC não abre o parlamento à "sociedade civil". Abre sim o PSD a um trotskista-troca-tintas.