Como já nem me lembro da última vez que escrevi sobre o Porto, nada como citar o enorme Hélder Pacheco, um catedrático do tema e que, no JN de Sábado, conseguiu com arte e mestria resumir tudo o que penso:
“Nós, portuenses, não temos tal problema (a língua): o país unificou-se em torno de um idioma que, moldado às variantes locais, é o mesmo de norte a sul. Mas temos, como dizia o poeta catalão Miguel Marti i Pol, “o espaço de história concreta que nos pertence e um minúsculo território onde vivê-la”.
“E este espaço deve ser defendido. Para isso, sem conivências com a hidra centralista, gritemos quem somos e que todos o escutem. Porque numa cidade que tem de se emancipar pela cultura, ciência, conhecimento e afirme a sua matriz, as conivências são ridículas e quase caricatas. Dentro desta linha estão documentários que correm na internet sobre o Porto.
Com imagens bairristas, mostram a sua incultura quando, como fundo musical, incluem fados de Lisboa, baladas coimbrãs e outras escolhas alheias à cidade.
(...)
Como é possível afirmar o Porto, por quem não percebe que o que torna as cidades competitivas é sobretudo a diferença relativamente às concorrentes – a sua identidade?
Hélder Pacheco, JN de 23 de Julho de 2011 (sem link)
É isto que pretendo quando escrevo sobre o Porto e, mutatis mutandi, sobre o Norte. O sublinhar da diferença mais não é do que a afirmação identitária de um território. Só assim teremos, ou poderemos ter, regiões ganhadoras. E com isso é Portugal que ganha.
Será mais fácil a qualquer um de nós ganhar o próximo jackpot do euromilhões do que Portugal avançar para o processo de Regionalização.
A CP acabou com a linha Porto-Vigo. O motivo parece óbvio e simples: só tinha, em média, 12 passageiros. Como alguém escreveu, surpreendente é ter tantos passageiros dispostos a demorar mais de três horas para fazer pouco mais de uma centena de quilómetros. Num país decente, estes gestores de brincar da CP terminavam na cadeia pela forma como geriram a empresa ao longo destes anos.
Então, nos tempos que correm, demorava três horas de comboio uma viagem destas? Solução: em vez de criar condições para que a viagem decorra no tempo normal (uma hora), não. Toca a fechar a linha e desprezar o potencial da mesma. Talvez os senhores da CP não saibam que a Galiza (e Vigo em especial) é o principal emissor de turistas do Grande Porto e Norte de Portugal e um dos principais eixos de negócios. Talvez não saibam que uma linha ligando o Porto à Corunha teria um enorme potencial. Para isso seria necessário saberem e conhecerem a realidade desta Região e das suas principais “ligações” económicas.
Entretanto, pode ser que o Aeroporto Internacional do Porto seja, finalmente, privatizado. Espero que a Junta Metropolitana do Porto e os seus autarcas se organizem de modo a tomarem uma posição accionista minoritária e, dessa forma, serem tidos e achados na sua gestão. O AIPorto é fundamental para o desenvolvimento de toda a Região (os utentes galegos, por sinal, valem já 20%) e não pode continuar a depender apenas da Ryanair cujo investimento em novas rotas continua a ser fantástico e é um dos motivos para o crescimento do turismo na região (em contra-ciclo com o resto do pais). Porém, são necessárias novas ligações directas para os outros continentes e isso a Ryanair, para já, não pode oferecer e a TAP prefere a Portela.
Enquanto a Regionalização continuar a ser mais difícil de concretizar que ganhar o jackpot do euromilhões, valha-nos estas pequenas oportunidades. Assim saibam aproveitar os poderes políticos e económicos da região.
Hoje é dia de grande Final. Os dois melhores entre os melhores. O meu Porto e o grande Braga. É um dia de festa, uma grande festa do Norte com dois dos seus mais ilustres representantes. Uma lição, uma grande lição de mérito e humildade. Um enorme Porto e um grande trabalhador Braga. Uma região deprimida que esconde no pontapé na bola as poucas coisas boas que ainda lhe restam.
Ontem, na TSF, ouvi o Dr. Sardoeira Pinto, um gigantesco Portista, dizer uma das coisas mais bonitas e só possíveis por estas bandas: "Quero que o meu Porto ganhe mas se o Braga ganhar fico contente". É o Norte, a minha terra, as minhas gentes orgulhosas do seu canto. A nossa terra.
Isto foi escrito por mim no passado dia 27 de Março...
Nos últimos dias ficamos a saber que a RTP-N foi decapitada. Pois. Embora concorde com parte do que o Carlos disse hoje ao Público não posso deixar de lhe dar um ligeiro puxão de orelhas (ligeiro só pela amizade que nos une): É verdade que o Norte está a perder voz na comunicação social? É e não é. É verdade quando se olha para os casos RTP-N ao para o Público mas deixa de o ser quando se vê nascer o semanário Grande Porto ou o reforço do JN (com o JN Cidades, com os novos comentadores como o Prof. Marcelo - e o próprio Carlos ) e, sobretudo, com o Porto Canal.
Eu sei, bem sei, se sei, que a perda de influência do Norte na RTP (e restantes televisões) é nítida e grave. Como se combate? Simples. Em vez de estarmos sempre a bramir contra o centralismo, investimos criando os nossos próprios meios e o Porto Canal é disso o melhor exemplo. Todo o cão e gato o criticavam mas vejam bem, agora todos o querem e todos o desejam. Paulatinamente, afirmou-se como importante meio de comunicação. Na minha profissão, aqui no Norte, sempre que o Porto Canal não aparece num evento já se dá pela sua falta e dá direito a puxão de orelhas à equipa de comunicação que o organizou. É a melhor prova da sua importância.
Por isso, caro Carlos, eu compreendo as tuas palavras mas não posso perdoar a omissão. O Porto Canal, os nossos media na região, são a solução para o problema. Se não formos nós a tratar dos nossos problemas, ninguém o fará. Essencial é continuarmos a lutar para o seu crescimento e para o surgir de novos projectos filhos da nossa pronúncia, a pronúncia do Norte.
Hoje, ao início da noite, conversava telefonicamente com um amigo (igualmente Alberguista) e carpíamos mágoas sobre o estado do nosso Porto e da nossa Região Norte. Algumas palavras trocadas sobre o tema são irreproduzíveis.
Um dos lamentos era a falta de liderança. O Porto e o Norte são, actualmente, “liderados” por indivíduos que se limitam a ser a voz do dono com a agravante de o dono não ser de cá. Por isso afirmo e reafirmo: a culpa é nossa.
Sem indústria, sem comércio, sem as autarquias locais, já mais nada resta. Lembro-me de ler, no início dos anos noventa, um livro chamado “As Regiões Ganhadoras” e a forma como estas necessitavam de autonomia política para vencerem as dificuldades e combaterem o centralismo naturalmente asfixiador. Nós não temos forma de as diferentes regiões concorrerem entre si na obtenção de investimento privado e público. Como pode uma região, que não existe politicamente, competir com outra quando esta é subsidiada por investimento público em detrimento da anterior? Mas vamos ser práticos e utilizar um exemplo que a maioria percebe:
Como pode o Sporting de Braga competir com o Porto, Benfica e Sporting quando não consegue negociar valores próximos dos recebidos por estes seus adversários pela estatal PT/TMN/SAPO? Dirão os mais conhecedores que é uma questão de mercado. Não, não é. Se assim fosse, como me dói escrever isto, o Benfica teria de receber bem mais do dobro do Porto e Sporting pois o seu “mercado” é duplamente (ou mais) superior. Quando não se praticam as regras do mercado este não pode servir de desculpa.
Ora, o futebol é um espelho do país que somos e temos, reflectindo esta realidade “distorcida” e cujo exemplo máximo é o actual QREN e o anterior QCA III (Quadro Comunitário de Apoio). Numa recente tese de mestrado apresentada numa universidade portuense, uma estudiosa da matéria prova, com números e factos concretos, a diferença entre a taxa de execução de candidaturas apresentadas em sede de Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional em contraponto com a taxa de execução de candidaturas apresentadas aos Programas Operacionais não regionais decididos pelo Poder Central.
E essa taxa é bem menor no segundo caso. Não estamos a falar “em teoria” mas na prática corrente e puramente real. Estes desequilíbrios não são ficção nem “mania da perseguição destes gajos labregos do Norte”. Não. E a realidade é bem pior no Interior. A diferença é que a Norte e, em especial, no litoral, a situação social é explosiva fruto de crescentes focos de pobreza onde, como já alguns dizem sem qualquer freio nas palavras, “quando o meu filho começar a passar fome mais não me resta do que roubar”. Quando na “sopa dos pobres” encontramos professores, profissionais liberais e famílias inteiras e se soma o esgotar do leite e do arroz, estamos já a caminhar rente à linha negra do desespero.
Não perceber a realidade e nada fazer para a inverter é brincar com o fogo. É esta realidade que explica a “revolta das SCUTs”. Por vezes, como a história nos ensina, são as coisas menores amplificadas pelas dores maiores que levam à revolta popular.