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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Um Efeito Positivo da Moção Anunciada

Um efeito positivo da moção de censura anunciada pelo Bloco de Esquerda foi este: Daniel Oliveira passou a escrever coisas com que uma pessoa de direita (ou de alguma ou algumas direitas...) pode concordar com gosto. São três os exemplos pós-moção anunciada:

 

"Cinco más razões para um disparate" faz a análise das "causas" do anúncio de moção (só não posso concordar com aquela opinião extrema da "direita extremista").

 

"Alemanha e as lições da história": este é um texto excelente (e é a razão principal para que eu escreva este post). Há muitíssima gente a precisar de ler e reflectir neste texto palavrinha por palavrinha, a começar precisamente por muito boa gente de direita! Sim. E, para que não haja confusões, atenção a isto: criticar quem faz de conta que a História Europeia não existe ou que já foi há muito tempo - não é e não pode ser confundido com criticar quem tem sabido governar-se bem. E também não é confundível com a defesa de nenhum governo socialista português...

 

Finalmente, "Salto à Vara". Sobre aquele ser humano socialista que passa à frente de tudo e de todos. A crítica comedida e justa, sem histeria. Em geral, discordo de argumentos baseados na responsabilidade "colectiva" ou "do sistema" e do "somos todos culpados". Mas naquele último parágrafo, Daniel Oliveira tem razão: qualquer pessoa que tenha tido um poucochinho de poder, por mais pequenicles que fosse, já experimentou a bajulação e a graxa - e, provavelmente, sentiu-se "ditadorzinho" - e, menos provável porém, até terá beneficiado um bocadinho. A sobranceria e abuso de uns é também suscitada pela adulação de muitos.

 

 

P.s.: "Os países periféricos (...) Limitaram-se a estar mais expostos aos ataques a uma moeda criada à imagem e semelhança do marco": isto não é bem verdade... as responsabilidades pela crise e seus efeitos, sobretudo nos casos português e grego, não se limitam ao facto de que aqueles países "coitadinhos" perderam a política cambial: se tivessem sabido governar-se, não só a crise não seria tão pesada como o euro até teria sido uma oportunidade muitíssimo mais bem aproveitada.

Moção de Censura de Louçã

Ainda falta quase um mês para ser discutida no parlamento e a moção de censura de Louçã já está a ser de grande utilidade para a democracia portuguesa: nunca Louçã foi tão publicamente censurado por membros do seu próprio partido. A moção de Louçã, mais do que um tiro no pé do Bloco de Esquerda, foi um tiro no pé do próprio Louçã. É bem feita!

Como Votar Não à Moção

Na perspectiva do PSD, é ainda muito cedo para ir para o Governo. E é fácil votar contra a moção de censura que o Bloco de Esquerda diz que apresentará a 10 de Março. Quem deixou passar o Orçamento do PS ainda há tão pouco tempo não pode vir de repente derrubar o Governo. E o primeiro relatório de execução orçamental só chega no fim de Março, depois da apresentação da moção de censura.

 

Ao PSD basta pois afirmar o seguinte: a avaliação do Governo só pode ser feita depois daquele relatório; até lá, o Governo mantém-se. O PSD ganha assim em credibilidade - respeitando o compromisso implícito na passagem do Orçamento - sem que com isso deixe que seja colado ao PS - a reprovação da moção de censura é apenas um "benefício da dúvida" concedido ao PS, não é nenhum voto de confiança.

 

A moção de censura bloquista é, nas certeiras palavras de Ferreira Fernandes, apenas mais um caso da "luta privada entre o BE e o PCP" que não passa de um "dos grandes e inúteis dados da política nacional". E, claro está, entre troskistas e estalinistas, inúteis ambos, ninguém tem nada a ganhar metendo por lá a colher.

A moção de censura do Bloco de Esquerda.

Ao contrário do que muita gente tem dito, a moção de censura do Bloco de Esquerda era um acto mais do que previsível. E não deve ser dramatizada. Na verdade, nos países democráticos a apresentação de uma moção de censura não pode ser vista como um crime de lesa-majestade. O Governo depende do Parlamento e a qualquer momento pode ser derrubado no Parlamento. O que nos distingue de países como o Egipto é que elegemos um Parlamento para fiscalizar e se necessário demitir o Governo, não sendo necessário apelar a manifestações de rua para o efeito.

 

Ora, tendo o Bloco de Esquerda se associado ao Governo na desastrada candidatura de Alegre, é manifesto que teria agora que quebrar essa associação e a moção de censura é o instrumento ideal para o conseguir. Por outro lado, o timing é perfeito. O Bloco antecipa-se ao PCP na censura ao Governo, que se vê obrigado a discutir a sua manutenção em funções nas vésperas de um Conselho Europeu, e logo a seguir à tomada de posse do Presidente. Por outro lado, circula na internet a convocação de uma manifestação da "geração sem remuneração" para 12 de Março, o que permitirá ao Bloco surfar previamente essa onda no Parlamento.

 

A outra grande vantagem da moção de censura do Bloco é que não tem a mínima hipótese de ser aprovada. Discordo por isso do que escreve aqui abaixo o Fernando Moreira de Sá. O Bloco de Esquerda não se vai transformar num novo PRD pela simples razão de que Passos Coelho não vai querer ser o Vítor Constâncio do PSD. É manifesto que o PSD não tem condições para aprovar a moção de censura. E não as tem por culpa própria. Na verdade, os sucessivos apoios do PSD ao Governo manietaram o Partido num Bloco Central parlamentar, da qual não vai conseguir sair sem uma causa muito séria. Na verdade, ninguém compreenderia que, tendo deixado passar medidas altamente gravosas para os cidadãos como a redução de salários, o PSD fosse logo a seguir derrubar o Governo.

 

Ora, quer o Bloco, quer o PCP, quer até o CDS sabem disso, pelo que é de esperar a apresentação sucessiva por estes partidos de moções de censura em 2011, que o PSD será sistematicamente forçado a rejeitar, acentuando assim na opinião pública a ideia de que é o sustentáculo do Governo. É por isso que as moções de censura não serão apenas dirigidas contra o Governo, mas também contra o apoio que lhe tem sido dado pelo PSD. Este estará igualmente debaixo de fogo e será prejudicado por essa censura. No fim, quando o país estiver de rastos, o PSD não deixará de ser responsabilizado eleitoralmente por essa situação. Mas tudo isto era previsível a partir do primeiro momento em que Passos Coelho aceitou ser o parceiro de tango de Sócrates.

 

O que me choca, por isso, é a falta de sentido estratégico que o PSD tem demonstrado na oposição a este Governo. O Partido envolve-se voluntariamente em assuntos que nada interessam ao cidadão comum, como uma inoportuna revisão constitucional ou a enésima comissão de inquérito parlamentar ao caso Camarate trinta anos (!) depois de ele ter ocorrido. Mas não é capaz de dizer imediatamente qual o seu sentido de voto perante uma moção de censura no parlamento. As declarações de Miguel Macedo de que o PSD irá avaliar o assunto com "frieza, ponderação e responsabilidade" só servem para dar gás ao Bloco de Esquerda e dão a imagem de um Partido hesitante numa questão política óbvia e que por isso tem que ter uma resposta imediata. E não vale a pena Passos Coelho estar à espera de uma nova peregrinação de notáveis para anunciar a inevitável rejeição da moção de censura. A política do principal partido da oposição deve estar previamente definida, não andar a reboque de iniciativas alheias e não ser alterável a pedido de ninguém.