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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

O essencial sobre José Sócrates e o Partido Socialista

 

Gostei imenso da crónica do Manuel Falcão, no Metro de hoje. De facto, desde que José Sócrates perdeu as eleições, o PS nem tempo de luto deu aos seus militantes e eleitores - os dirigentes rapidamente limparam as lágrimas, esqueceram o Primeiro-Ministro demissionário e trataram de escolher um lado nas novas barricadas: Seguro, Assis ou Fonseca Ferreira.

 

O problema é que, como diz Falcão, a factura ficou por pagar e vai sobrar novamente para nós, contribuintes. Obrigadinho Zé, será que quando for a Paris me pagas um almoço?

 

A crónica, pode ser lida aqui.

O Partido Socialista é muito parecido com o Sporting. Mas será ainda mais se António Costa concorrer para a liderança do partido.

 

 

José Sócrates está para o Partido Socialista como José Eduardo Bettencourt estava no dia em que abandonou o Sporting. António José Seguro é portanto o novo Bruno Carvalho do PS. Já António Costa aparece na mesma posição de Godinho Lopes e Assis resume-se a um mero Dias Ferreira do tabuleiro cor-de-rosa.

Tal como no Sporting, a luta entre António José Seguro (Bruno de Carvalho) e António Costa (Godinho Lopes), caso fosse candidato, poderia ser muito dura. Tal como no Sporting (contra mim falo por ser sócio), não me parece que nenhum deles consiga ganhar já o próximo campeonato.

A diferença entre o Sporting e o Partido Socialista é que tudo aponta para que neste último ganhe António José Seguro (Bruno de Carvalho).

 

PS1 - Tudo podia ter sido diferente se Godinho Lopes tivesse apoiado Dias Ferreira.

PS2 - Dizem-me que a foto de Francisco Assis não está correcta (que se lixe!).

Legislativas (22)

 

A DESCER

 

José Sócrates. Os portugueses fartaram-se de José Sócrates, das suas contínuas promessas por cumprir, do défice monstruoso, dos 700 mil desempregados, da pesada herança que deixa ao sucessor no palácio de São Bento. Esta legislativa, como era de antever, funcionou como um plebiscito ao homem que encabeçava o Governo desde 2005. O veredicto das urnas foi claro: o pior resultado do PS dos últimos 20 anos. Deixando sem margem de manobra o homem que ainda há bem pouco tinha recebido uma votação esmagadora no mais inútil e mais patético dos congressos do seu partido.

 

Francisco Louçã. Dir-se-ia que estas eleições seriam ideais para capitalizar os votos de descontentamento no Bloco de Esquerda. Nada disso aconteceu: os bloquistas sofrem uma pesada derrota que os faz reduzir para metade o grupo parlamentar eleito em 2009. Consequência directa dos clamorosos erros estratégicos do Bloco que foram sendo cometidos nos últimos meses e que mereceram aqui diversas críticas. O erro principal foi a tentativa de copiar o Partido Comunista, esgotando-se numa força de mera oposição, sem propor qualquer solução governativa. Louçã é o rosto da derrota eleitoral do BE.

 

Ferro Rodrigues. Regressado de Paris, foi o maior trunfo de Sócrates na elaboração das listas eleitorais. Cabeça-de-lista do partido da rosa, teve um discurso errático durante a campanha, em que destacou como um dos principais defensores de uma solução de bloco central - repetindo, aliás, um apelo que já fizera em 2009. Conduziu o partido a uma pesada derrota na capital, frente ao PSD encabeçado por Fernando Nobre, e perde assim margem de manobra para influenciar um cenário de sucessão nas hostes socialistas.

 

Participação eleitoral. Apesar da profunda crise em que o País mergulhou, com um cenário iminente de bancarrota, demasiados eleitores portugueses continuam divorciados das urnas. Estas foram, aliás, as legislativas menos participadas em quase quatro décadas de regime democrático: 41% dos inscritos recusaram votar. Esta questão faz suscitar outra, cada vez mais premente, sobre a profunda desactualização dos cadernos eleitorais. A percentagem oficial corresponderá à percentagem real?

 

Sondagens. Foi vergonhosa a tentativa de manipulação dos eleitores através de sucessivas sondagens que apontavam para "empates técnicos". Nunca houve tantas sondagens numa campanha e nunca as sondagens falharam tanto. Os resultados das urnas demonstraram que não podia haver situações de efectivo empate técnico a tão poucos dias do exercício do voto. Aqui está um tema de urgente reflexão por parte dos responsáveis das empresas de sondagens e por parte dos responsáveis editoriais que as divulgam.

 

Pequenos partidos. Alternativas? Que alternativas? Os pequenos partidos continuam sem mobilizar os portugueses. Não há justificação para que muitos deles, que nunca conseguiram eleger ninguém ao longo de sucessivas eleições legislativas e autárquicas, continuem a receber apoios do Estado, nomeadamente na realização de tempos de antena eleitorais. A lei deve ser revista nesta matéria fazendo depender esses apoios de números mínimos de votos obtidos nas urnas.

Calados à espera do desaire

 

Tenho a maior consideração por vários socialistas. Mas, neste momento, apetece-me destacar três: Ana Gomes, José Medeiros Ferreira e Manuel Maria Carrilho. Foram eles que pregaram no deserto clamando contra a falta de debate interno no PS, alertando contra sucessivos erros de governação hoje evidentes aos olhos de todos e acentuando os aspectos mais negativos do carácter autoritário de José Sócrates - um autoritarismo sem fundamento pois nem sequer pode justificar-se pela competência governativa.

Há outras vozes lúcidas de socialistas - a começar pelo patriarca do partido, Mário Soares - que incluem alguns destacados autores de blogues cuja leitura não dispenso. Mas são vozes demasiado isoladas face ao descalabro dos erros cometidos por Sócrates no Executivo e na própria direcção do partido. O PS, outrora a força partidária portuguesa com mais fecundo debate interno, reduziu-se há muito a uma câmara de louvores ao líder que teve o seu baptismo político como militante da Juventude Social Democrata. O último congresso socialista foi um esclarecedor exemplo de como neste partido hoje não se debate nada nem sequer se admite um erro: é a política a copiar as piores características de certos clubes de futebol, em perpétua e acrítica veneração aos líderes.

Escrevo hoje estas linhas a pensar em 5 de Junho. Por não ter a menor dúvida de que alguns socialistas que não esboçaram o menor reparo ao actual secretário-geral do partido serão os primeiros a exigir a demissão de Sócrates no provável cenário de uma derrota eleitoral. Enquanto Ana Gomes, Carrilho e Medeiros Ferreira iam lançando sinais de alerta, ao longo destes anos, eles mantiveram-se em silêncio ou alinharam mesmo no coro de ladainhas ao líder. Reservavam-se para o momento em que o veriam enfim aparentando alguma fragilidade: a política, como sabemos, é fértil nestas súbitas erupções de heroísmo tardio e em figuras incapazes de esboçar um protesto em tempo útil mas prontas para dar nas vistas mal soa a hora inevitável da mudança de ciclo e do ajuste de contas.

Nesse dia, o jornalismo político, sempre pronto a eleger novos heróis de turno, há-de bafejá-los com o fervor dos holofotes. Por mim, direi o que digo hoje: uma palavra de elogio aos que no PS viram, ouviram, leram - e não calaram. São poucos. Escandalosamente poucos.

 

Quadro: A Queda dos Anjos Rebeldes (1562), de Pieter Bruegel

 

Legislativas (12)

 

PARA MAIS TARDE RECORDAR

 

Toda a regra tem excepção. Lendo a imprensa de hoje, registo que apenas dois 'analistas' dão a vitória ao secretário-geral socialista no debate de ontem com Pedro Passos Coelho: o jornalista Manuel Tavares, director do diário desportivo O Jogo, e a escritora Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa.

Vale a pena registar os argumentos de ambos.

Diz Tavares, escrevendo no Diário de Notícias: "Passos Coelho preferiu uma estratégia assente na ideia de explicar por capítulos que toda a crise (em especial os 700 mil desempregados) é da responsabilidade do primeiro-ministro recandidato. E José Sócrates conseguiu colocar em xeque essa estratégia, lendo do relatório e contas de uma empresa assinado por Passos Coelho no ano passado a confisssão de que Portugal set inha portado acima da média de desempenho perante a crise, durante 2009."

Diz Inês, ao Correio da Manhã: "Claramente ganha Sócrates, porque consegue dizer mais em menos tempo. Passos Coelho adoptou uma estratégia de ataque, mas não apresentou programa."

Rendo-me à evidência perante tão poderosos argumentos. De tal maneira que vou guardá-los no meu caderninho de citações. Para mais tarde recordar.

Legislativas (11)

 

 

 

DEBATE JOSÉ SÓCRATES-PEDRO PASSOS COELHO

 

Se este frente-a-frente era "o debate decisivo" das legislativas de 2011, como vinha apregoando a RTP, Pedro Passos Coelho tem motivos para estar satisfeito. Porque foi ele o vencedor deste confronto com José Sócrates. O primeiro-ministro mostrou-se, mais que nunca, esgotado e sem ideias neste embate - o seu primeiro de sempre - com o actual presidente do PSD. Tentou reeditar com Passos a estratégia que montou com eficácia perante Manuela Ferreira Leite no debate televisivo das anteriores legislativas. Objectivo: procurar conduzir a discussão para as propostas sociais-democratas, evitando assim o escrutínio ao seu Governo.

Ferreira Leite, em 2009, caiu na esparrela. Passos - que deve ter visto várias vezes o vídeo desse debate - não se deixou enredar na armadilha do secretário-geral socialista. E disse-lhe algumas das frases mais fortes que Sócrates tem escutado desde sempre. "Este foi um governo incapaz e um governo incompetente", acentuou. Sem se esquecer, desta vez, de aludir aos 700 mil desempregados: "Temos o desemprego mais elevado de sempre em Portugal."

Sócrates ainda ensaiou o habitual número de 'animal feroz'. Mas desta vez sem sucesso. Embrulhou-se, uma vez mais, na questão da taxa social única. Aludiu à crise internacional como tentativa de justificar o estado em que o País se encontra, esquecendo que até a economia grega já está a crescer e Portugal deverá ser o único país do mundo em recessão no próximo ano. E regressou a um tema já morto e enterrado, procurando atirar para cima do PSD a responsabilidade do chumbo do PEC 4. Aqui, Passos interrompeu-o sem meias palavras: "Sabe porque é que o PSD não votou o PEC 4? Porque não servia. E porque o senhor falhou o PEC1 e o 2 e o 3."

A única fase do debate em que o líder socialista conseguiu remeter o social-democrata à defesa foi na questão das posições do PSD sobre a saúde, acusando o partido laranja de pretender acabar com o Serviço Nacional de Saúde "tendencialmente gratuito", como indica a Constituição da República. Mas Passos acabou por reagir com uma contundência de que muitos não o imaginavam capaz antes deste debate: "Porque é que não tem a coragem de discutir a sua responsabilidade à frente do governo de Portugal num país que chegou praticamente à bancarrota?"

O líder socialista, a partir daí, perdeu margem de manobra: talvez se lembrasse daquele tempo, não muito recuado, em que elogiava Passos Coelho como um bom parceiro para "dançar o tango". A certa altura já não conseguia melhores argumentos do que acusar o seu adversário de "dizer mal do País" e de "utilizar expressões como bancarrota" no seu discurso político. "O senhor diz mal de tudo", concluiu.

Era um Sócrates já nitidamente fatigado que se repetia no ecrã - facto que se tornava ainda mais evidente quando era filmado em grande plano. Sem ideias, sem recursos estilísticos, sem o dom da iniciativa, sem capacidade para surpreender. Como, de algum modo, já tivesse interiorizado a derrota eleitoral. A televisão, nesta matéria, pode ser um instrumento cruel. Sócrates, que tantas vezes beneficiou dela, hoje foi sua vítima. O debate terá mesmo sido decisivo. A RTP estava cheia de razão.

 

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FRASES

Passos - «José Sócrates é o primeiro-ministro que mais maldades e malfeitorias fez ao estado social. Foi o primeiro primeiro-ministro que cortou salários na função pública, que mais reduziu as prestações sociais, que elevou os custos do acesso à saúde, diminuindo as comparticipações de medicamentos, que eliminou milhares de abonos de família...»

Sócrates - «As suas propostas rompem com o consenso social na Europa.»

Passos - «Portugal é o único país da Europa que enfrenta uma recessão séria.»

Sócrates - «O senhor é responsável por ter criado uma crise política no nosso país. Essa crise política foi uma completa irresponsabilidade.»

Passos - «O senhor está agarrado ao lugar de primeiro-ministro.»

Sócrates - «O senhor quer combater o desemprego permitindo mais despedimentos.»

Passos - «O engenheiro Sócrates não gosta de ouvir falar dos resultados do seu governo nem dos 700 mil desempregados.»

Sócrates - «Por amor de Deus! O senhor diz sempre mal de tudo, diz mal do País, utiliza expressões como bancarrota...» 

Passos  - «Não é por amor de Deus. São os factos.»

 

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ADENDA

Por curiosidade, recordo o que escrevi sobre o debate José Sócrates-Manuela Ferreira Leite da campanha legislativa de 2009.

Legislativas (8)

 

 

DEBATE JERÓNIMO DE SOUSA-JOSÉ SÓCRATES

 

José Sócrates, como é costume, levava a estratégia bem montada. Pretendeu fazer do frente-a-frente desta noite na SIC, com Jerónimo de Sousa, uma espécie de ensaio geral para o decisivo debate de sexta-feira com o presidente do PSD. E atacou o secretário-geral comunista como fará certamente com Pedro Passos Coelho: utilizando o programa eleitoral do seu antagonista como arma de arremesso. Isto permitiu-lhe, durante alguns minutos, marcar o tom e o ritmo da contenda. "Já debati aqui com dois líderes que não tinham programa. Hoje estou a debater com um líder que tem o mesmo programa de há dois anos", ironizou o líder do PS, reduzindo as propostas comunistas a três grandes ideias-força: a reestruturação da dívida ("igualzinha à do Bloco de Esquerda"), sair do euro ("isto nem o Bloco de Esquerda!") e um amplo programa de nacionalizações. Rematando em bom estilo: "Onde iria buscar dinheiro para comprar estas empresas [a nacionalizar]? São mais de 50 mil milhões de euros."

Esta tirada do líder socialista teve o condão de acicatar Jerónimo. Que não tardou a dar-lhe o troco: "José Sócrates, quando ouve falar em nacionalizações, fica com urticária. Mas foi lesto a nacionalizar o BPN, ficando os milhões de milhões de custos para o povo português." Isto assinalou uma certa viragem no debate - e raras vezes, a partir daqui, voltámos a ver Sócrates na ofensiva. Pelo contrário, o secretário-geral do PCP conseguiu ultrapassar Paulo Portas e Francisco Louçã na capacidade de forçar o líder do PS a justificar o seu controverso currículo governativo. Lembrou o abortado cheque-bebé de 200 euros acenado por Sócrates na campanha legislativa de 2009, o "corte de mais de 600 mil abonos de família", o congelamento de salários e de pensões, e"uma política fiscal que carrega sempre contra os mesmos". Curiosamente, ao invocar a obra feita, o secretário-geral socialista limitou-se a mencionar medidas assumidas entre 2005 e 2009 - do complemento solidário para idosos à reforma da segurança social.

O debate foi vivo e pelo menos num sentido também foi esclarecedor: a unidade da esquerda portuguesa continua a ser um sonho adiado. O PCP persiste em manter as portas fechadas a qualquer entendimento com os socialistas. "Os três partidos - PS, PSD e CDS - têm um programa comum", justificou Jerónimo. Sócrates, se vencer a 5 de Junho, tem um problema sério pela frente: nenhuma força política, à esquerda e à direita, parece disposta a coligar-se com ele. "Deve haver um governo maioritário", sublinhou o líder socialista, que em resposta à moderadora, Clara de Sousa, deixou um recado ao Presidente da República lembrando uma enraizada "tradição" na política portuguesa: "Quem ganha as eleições é que vai para o Governo." Mas a sensação que transmitiu neste debate é que para ele isso será um quebra-cabeças. O que sucede, em boa verdade, por culpa própria: em nenhum momento do frente-a-frente Sócrates fez um esforço mínimo para cativar um voto comunista. Pelo contrário, chegou a revelar - por palavras e esgares - alguma arrogância, nomeadamente quando acusou Jerónimo de ser "incapaz de compreender" a lógica do sistema fiscal português.

São pormenores. Mas que ajudam a perceber por que motivo José Sócrates é hoje a figura mais solitária da cena política nacional.

 

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FRASES

Jerónimo - «O candidato José Sócrates tem uma forma esquisita de defender o estado social.»

Sócrates - «O PCP cometeu um erro de análise ao aliar-se à direita para provocar uma crise política.»

Jerónimo - «O ónus está sempre nas costas de quem trabalha.»

Sócrates - «Reestruturar a dívida significa calote. Pagar-se-ia com pobreza, desemprego, miséria e falências.»

Jerónimo - «Ainda havemos de assistir a José Sócrates a defender a reestruturação da dívida.»

Clara de Sousa - «Porque é que este memorando [com a Comissão Europeia e o FMI] não foi traduzido oficialmente em versão portuguesa para que os portugueses o percebam?»

José Sócrates - «Estou convencido que essa tradução existe. (...) Se não há, devia haver.»

 

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ADENDA

Por curiosidade, recordo o que escrevi sobre o debate Manuela Ferreira Leite-Paulo Portas da campanha legislativa de 2009.