Sou um leitor atento de algumas revistas de viagens (Volta ao Mundo, Condé Nast Traveller, Viajes, só para citar as minhas preferidas) e não perco a "Fugas" ao sábado no Público. Sempre que posso fazer férias vou para a net procurar toda a informação dos possíveis locais de visita. Sei bem a força das campanhas de promoção turística e como elas influenciam as nossas escolhas. Um bom exemplo que me anda a perseguir desde 2010 é Orlando, Miami e Las Vegas. Estes destinos estão, desde 2010, presentes nas diferentes revistas. Seja com publicidade, seja com reportagens. Uma constante. E dou por mim a "salivar" por uma viagem aos Estados Unidos e a estes destinos muito por culpa dessas campanhas (directas ou subliminares). Porém, terei que trabalhar ainda mais para o conseguir.
Ora, Portugal, é um verdadeiro paraíso turístico por explorar. A Madeira, o Algarve e Lisboa já conseguiram entrar nos principais roteiros das revistas internacionais. Porém, o Douro e o Alentejo, o Minho e o Porto, necessitam de um esforço suplementar em termos de investimento em campanhas promocionais fora de portas. O destino Porto e Norte de Portugal continua a crescer mesmo em tempos de crise. A estada média dos turistas é que continua a ser baixa (1,6 dias) e o esforço do Turismo do Porto e Norte de Portugal, digno de registo e estudo, mesmo estando, como está, a fazer verdadeiros milagres fruto de muitas omoletes com tão poucos ovos, necessita de ter mais apoios para campanhas promocionais (sobretudo em Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Brasil, paises nórdicos e nos principais mercados emissores da Ásia). Neste momento, temos inúmeros investidores privados a construir hotéis em todo o Norte e temos produtos excepcionais. É hora de aproveitar o crescimento presente, de apanhar a boleia da promoção que deriva do Vinho do Porto, da exposição mediática do F.C. Porto, da aposta da Ryanair e das potencialidades gastronómicas, culturais e patrimoniais de toda a Região.
Espero que o novo Governo olhe para o turismo como ele é: uma das poucas industrias em que vale a pena apostar e investir. Que olhe para o esforço que o TPNP está a realizar e para todos aqueles que estão a investir no turismo da região, fomentando a riqueza, criando postos de trabalho e, pelo caminho, aproveite para analisar este estudo encomendado pela U.S. Travel Association.
Portugal não pode parar e este é um dos caminhos para a mudança.
É oficial: Portugal está em recessão. O nosso produto interno recuou 0,7% no primeiro trimestre de 2011. Portugal foi, aliás, a péssima excepção à regra: todas as economias da União Europeia - incluindo a da Grécia - cresceram em relação ao trimestre anterior. Para o ano em curso, a Comissão Europeia prevê um crescimento de 1,6% na zona euro enquanto a economia portuguesa deverá recuar 2,2%.
Isto é matéria de facto, não de opinião.
Enquanto escrevo estas linhas, escuto o ainda primeiro-ministro, falando em directo a dois canais de televisão, a gabar-se de que "as exportações portuguesas subiram 17% neste primeiro trimestre". Sempre a mesma atitude: o secretário-geral socialista vive em permanente negação da realidade. Habita um país onde não há desemprego, onde não há cortes brutais de apoios sociais, onde não há diminuição evidente dos salários reais, onde não há um nítido recuo do Estado-providência, onde não há divergência constante com os padrões de vida europeus.
Tão notória como esta discrepância entre o chefe do Governo e a realidade é a atitude de alguns dos seus apaniguados. Com destaque para Vital Moreira, que em época de campanha eleitoral persiste em ser um dos maiores produtores de pérolas blogosféricas. Eis a mais recente: «A crise teria existido qualquer que fosse o governo e nenhum faria melhor». Frase bombástica, digna de enriquecer o espólio de qualquer coleccionador de epígrafes. Por mim, já a guardei numa vitrina de peças raras.
1) Sair do Euro (a Grécia) quase que implica sair da União Europeia: começa com a imposição do controlo de capitais e seguem-se outras restrições: na prática, as componentes mais básicas da União Europeia deixarão de ser aplicadas. E, como afirma e bem Luís Menezes Leitão, a saída de um país da União é o princípio do desmoronar da mesma.
2) A moeda única, por estranho que possa parecer, é um desígnio europeu: basta lembrar que todos os países das últimas adesões (os dez que entraram em 2004 e os dois do último alargamento) NÃO têm opção de ficar de fora do euro. Foram estes países que assim quiseram auto-limitar-se ou terá sido isto uma exigência dos país que já faziam parte da União? E, de entre estes, quais terão sido mais veementes nessa imposição?
3) "A aceitação da moeda única pela Alemanha" e "A Alemanha aceitou o euro": estas expressões, se compreendi bem, parecem sugerir que o euro terá sido um terrível sapo engolido pela Alemanha. É um erro de análise gigantesco esse de que a Alemanha engoliu um sapo e de que fez um grande favor ao resto da Europa: a Alemanha é a maior beneficiária da moeda única. E está melhor com o euro do que estaria com o seu marco robusto mas rodeado de moedas fracas prontas a desvalorizarem-se por tudo e por nada.
Se a aceitação do euro na Alemanha não foi coisa popular na altura e se hoje os alemães pensam que o euro não lhes trouxe benefícios líquidos (se é que, de facto, a maioria deles pensa assim) - é porque também o eleitorado alemão se engana e vota mal ("lembram-se" de Março de 1933?) e o seu conhecimento económico não é infalível. A questão principal não é a Alemanha ter abandonado a sua moeda forte. A questão relevante é a Alemanha ter deixado de ser prejudicada por várias moedas prontas a serem desvalorizadas a qualquer instante (as dos seus parceiros económicos antes de aderiram ao euro).
4) Tema para paper: quantificar os ganhos acumulados decorrentes do euro (e, de caminho, da criação do Sistema Monetário Europeu) para a Alemanha e compará-los com as perdas de uma eventual default grego e hair cuts das dívidas irlandesa e portuguesa.
«Tenho idade suficiente para me lembrar como eram o Portugal de Salazar e a Espanha de Franco há 40 anos. Não há comparação possível com os países que são agora.»
«Nos EUA os jovens, quando não encontram emprego, criam o seu próprio emprego. Mas temos uma rede de segurança social menos forte do que a europeia. Na Europa, pelo contrário, existe uma rede de segurança tão forte que por vezes estrangula a inovação.»
«O capitalismo é o sistema mais extraordinário inventado pelos seres humanos para maximizar a produtividade. Até os chineses estão de acordo, pois têm um capitalismo de Estado. O maior perigo do capitalismo são os capitalistas.»
«O programa de austeridade em Portugal será doloroso mas é necessário.»
«Um dos maiores problemas dos países periféricos [da União Europeia] é a falta de reformas estruturais, que estão a decorrer de forma muito lenta.»
«A zona euro é uma experiência importante, a nível mundial. Mas não podemos enfiar a cabeça na areia: é fundamental haver crescimento económico. O essencial é saber se conseguiremos restaurar o crescimento em Portugal, na Grécia e na Irlanda. Caso contrário a situação na Europa tornar-se-á insustentável.»
«Uma das grandes armadilhas dos novos processos democráticos [no mundo árabe] é a corrupção. Não há nada que mine mais a sua legitimidade.»
«Portugal, em 1974, recebeu muito apoio dos sociais-democratas e dos democratas-cristãos europeus, o que se revelou decisivo para o sucesso da transição democrática.»
«Grande parte dos jovens licenciados que saem de Harvard vão para Wall Street. Não vão para a medicina, para a advocacia, para a indústria transformadora... Há má distribuição dos recursos humanos nos EUA.»
«O Egipto é hoje uma panela de pressão. Como resultado da repressão, a sociedade está muito fragmentada. Há muitas tendências a apontar para muitos caminhos. A coesão social é inexistente.»
«As pessoas na Tunísia apressaram-se a adoptar o lema de Obama: 'Yes, we can'. Depois os egípcios pensaram: se os tunisinos conseguem, nós também vão conseguir.»
«Personalidades como Henry Kissinger e George Shultz, que estiveram no olho do furacão durante a Guerra Fria, defendem hoje um mundo sem armas nucleares. Porque corremos o risco da autodestruição.»
Para quem se interessa por economia mas não é especializado no assunto e não tem vontade de ler em estrangeiro - a bibliografia básica e de qualidade inclui aquele jornalista do Expresso.
Primeiro, a reestruturação de dívida deve ser suficientemente significativa de forma a tornar a dinâmica de dívida sustentável.
O capitalismo tem, na sua génese, a tomada de risco e em consequência a possibilidade de insucesso. (...) Ou seja, o processo de reestruturação de dívida é intrínseco a economias de mercado.
* "Saída do euro ou resgate? Economistas dos PIGS discutem opções": também no Expresso. Faço notar que a saída do euro não é solução nem remédio em caso algum: não só é a opção com custos económicos mais elevados como também é a que implica maiores custos políticos para o país em causa e para a União Europeia. Sair do euro é meio caminho andado para sair da própria União Europeia.
Os precedentes históricos sugerem que, dado esse nível de endividamento externo, a reestruturação dessa dívida é, na prática, inevitável e que os custos da crise serão menores se a reestruturação for feita o mais rapidamente possível.
As taxas de juro que têm sido exigidas nos pacotes de resgate da Grécia e Irlanda são demasiado elevadas. Resultam num crescimento do endividamento externo mais rápido que o crescimento da economia e, portanto, não permitem a esses países escapar da armadilha do juro composto e dívida crescente.
Este argumento é, em toda a evidência, correcto e justifica a minha "chantagem dos 3%".
Conclusão: durante cinco dias, o vasto País estatal vai manter-se paralisado. Entretanto, os funcionários da CP - empresa pública à beira do colapso financeiro - anunciaram já que estarão em greve na Sexta-Feira Santa, no domingo de Páscoa e na segunda-feira, 25 de Abril.
Reestruturar ou deixar o país estagnado por décadas: aqui.
Daqui por uns trinta anos vai ser generalizadamente óbvio que os bailouts da Grécia, da Irlanda e de Portugal foram erros muito grandes. Como lamenta Jorge Costa do Cachimbo, as perspectivas de crescimento económico em Portugal são tão baixas que não há maneira de garantir a solvabilidade das contas públicas no longo prazo.
E como eu escrevi aqui no Albergue, repudiar ou reestruturar a dívida hoje custará menos ao país e à Europa do que deixar o país economicamente sufocado por décadas.
É preciso ver que a medida da nossa desgraça já não se contabiliza em "milhares de milhões de euros" mas antes em "décadas de desenvolvimento perdidas".
"A reestruturação de dívida externa nacional é a decisão económica mais premente e mais importante de uma geração" defende também Ricardo Cabral aqui.
O Governo vai, daqui a pouco, anunciar o pedido oficial de ajuda.
(Será que além dos mercados, da oposição e do mundo em geral também irá, Sócrates, culpar o F.C. Porto? Sempre são 6 milhões que ficaram com uma valente depressão...)