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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

O PS de Mário Soares não é isto:

 

 Ver o vídeo AQUI

 

 

"Não tenho documentos", diz o primeiro.

"Foi na embaixada", diz a segunda.

"Não sou portuguesa, não tenho os papéis", diz.

 

Eu pergunto: quem foi que se lembrou de transformar estas pessoas em meros figurantes de comício? Aproveitar a esperança destas pessoas em ter os "papéis", em viver legalmente em Portugal - sabe-se lá com que promessas - em cumprir o seu sonho de uma vida melhor, levando-as para um comício partidário é um asco. Pior, é um atentado aos mais elementares direitos. É uma vergonha.

 

Fica a questão: o partido socialista de Mário Soares, de Manuel Alegre e de tantos outros democratas aceita isto? Fica em silêncio perante isto? A esquerda portuguesa, a dos valores, aquela que sempre admirei e ao lado de quem estive no referendo pelo direito da mulher à IVG, pelo direito dos homossexuais a casar, onde está nesta hora de vergonha?

 

"Não percebo o chárivári com os imigrantes no comício do PS", escreve a Ana. Eu sei que a Ana não está a falar a sério, eu acredito que ela não se sinta confortável ao ver a peça da TVI que aqui coloquei. Os partidos, todos, utilizam formas inacreditáveis de arrebanhar povo para os seus comícios? É verdade. Uma triste verdade. Mas nunca, mesmo nunca, nenhum tinha descido a este nível, a este grau zero do respeito pelos outros.

 

Numa das caixas de comentários deste blogue um bacano foi mais longe, referindo-se em tom jocoso ao facto de um deles utilizar telemóvel. Ao ler o comentário, percebi. Percebi que não vale a pena explicar que aproveitar seres humanos que pretendem vir trabalhar para Portugal, que querem os "papéis", não é apenas vergonhoso mas indigno de um partido democrático.

 

Eu gostava de ouvir os responsáveis da embaixada de Moçambique (referida por uma das participantes).

Frases das Conferências do Estoril

Howard Dean:

«Tenho idade suficiente para me lembrar como eram o Portugal de Salazar e a Espanha de Franco há 40 anos. Não há comparação possível com os países que são agora.»

«Nos EUA os jovens, quando não encontram emprego, criam o seu próprio emprego. Mas temos uma rede de segurança social menos forte do que a europeia. Na Europa, pelo contrário, existe uma rede de segurança tão forte que por vezes estrangula a inovação.»

«O capitalismo é o sistema mais extraordinário inventado pelos seres humanos para maximizar a produtividade. Até os chineses estão de acordo, pois têm um capitalismo de Estado. O maior perigo do capitalismo são os capitalistas.»

Nouriel Roubini:

«O programa de austeridade em Portugal será doloroso mas é necessário.»

«Um dos maiores problemas dos países periféricos [da União Europeia] é a falta de reformas estruturais, que estão a decorrer de forma muito lenta.»

«A zona euro é uma experiência importante, a nível mundial. Mas não podemos enfiar a cabeça na areia: é fundamental haver crescimento económico. O essencial é saber se conseguiremos restaurar o crescimento em Portugal, na Grécia e na Irlanda. Caso contrário a situação na Europa tornar-se-á insustentável.»

Larry King:

«Nunca senti que aquilo que fazia [jornalismo] era trabalho. Para mim sempre foi algo muito melhor do que trabalho.»

«Não consegui encontrar a plena paz interior. Não conheço ninguém que a tenha conseguido.»

«O mundo é surpreendente. Eu não consigo fazer previsões. Por isso é que quero viver para sempre: quero saber o que vai acontecer.»

Francis Fukuyama:

«Uma das grandes armadilhas dos novos processos democráticos [no mundo árabe] é a corrupção. Não há nada que mine mais a sua legitimidade.»

«Portugal, em 1974, recebeu muito apoio dos sociais-democratas e dos democratas-cristãos europeus, o que se revelou decisivo para o sucesso da transição democrática.»

«Grande parte dos jovens licenciados que saem de Harvard vão para Wall Street. Não vão para a medicina, para a advocacia, para a indústria transformadora... Há má distribuição dos recursos humanos nos EUA.»

 

Dominique de Villepin:

«A austeridade, em si mesma, não é a única resposta. Não podemos ter austeridade sem crescimento económico.»

«Temos de lembrar à Alemanha que não há uma solução boa para a Europa que seja apenas boa para um só país.»

«Alguém se sente europeu olhando para as instituições europeias?»

Mohamed ElBaradei:

«O Egipto é hoje uma panela de pressão. Como resultado da repressão, a sociedade está muito fragmentada. Há muitas tendências a apontar para muitos caminhos. A coesão social é inexistente.»

«As pessoas na Tunísia apressaram-se a adoptar o lema de Obama: 'Yes, we can'. Depois os egípcios pensaram: se os tunisinos conseguem, nós também vão conseguir.»

«Personalidades como Henry Kissinger e George Shultz, que estiveram no olho do furacão durante a Guerra Fria, defendem hoje um mundo sem armas nucleares. Porque corremos o risco da autodestruição.»

Os valores acima dos interesses

A Líbia constitui "o pior pesadelo" dos dias que correm. A opinião, sem rodeios de qualquer espécie, foi ontem expressa por Mohamed ElBaradei nas Conferências do Estoril, que encerraram esta segunda edição com chave de ouro ao darem o palco ao ex-director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, Prémio Nobel da Paz de 2005. Durante cerca de hora e meia, que pareceu pouco a quem assistia no Centro de Congressos do Estoril, o candidato à próxima eleição presidencial no Egipto defendeu uma intervenção mais activa da comunidade internacional para impedir a continuação dos massacres da população civil às ordens dos esbirros de Muammar Kadhafi, o ditador que permanece no poder desde Setembro de 1969, cego e surdo às aspirações de liberdade dos líbios.

Voz autorizada na defesa dos direitos humanos, participante activo na revolução de Fevereiro que levou à queda do regime despótico de Hosni Mubarak no Cairo, ElBaradei foi claro: "Não podemos aceitar que os ditadores massacrem os seus povos. Gostaria de ver uma intervenção internacional mais robusta, mais activa na Líbia." Na sua perspectiva, as relações internacionais contemporâneas são indissociáveis do respeito permanente da dignidade humana. "Temos de agir como mebros da mesma família global. A Líbia é um grande teste. Temos de espalhar esta mensagem: não continuaremos quedos e mudos, não assistiremos impávidos ao massacre de civis."

'A natureza das revoluções no Magrebe e no Médio Oriente' foi o tema abordado nesta excelente conferência, acompanhada com atenção por uma vasta plateia, em que se integravam muitos jovens. Baradei afirmou que o mundo "pode e deve ajudar" as populações do mundo islâmico que lutam pela liberdade - contribuindo para o "desenvolvimento económico, a coesão social e a promoção dos direitos humanos" em países como o Egipto, onde os militares estão com "demasiada pressa" em devolver o poder aos civis. Na sua perspectiva, a elaboração de uma nova Constituição devia ser o primeiro passo para fundar um regime democrático no Cairo - de preferência com um artigo basilar inspirado na primeira norma da lei fundamental da Alemanha: "A dignidade humana é inviolável."

Esta foi a grande mensagem que deixou no Estoril: "Não podemos pôr os interesses antes dos valores." Uma mensagem que contraria os cultores da realpolitik, sempre prontos a estabelecer relações cordiais com os piores tiranos contemporâneos. "Os EUA e a Europa apoiavam as ditaduras [na Tunísia e no Egipto] recorrendo ao argumento da estabilidade. No segundo dia das revoltas populares, Hillary Clinton chegou a dizer que o governo de Mubarak era estável. Como pode um regime que governa durante 30 anos com lei marcial ser um modelo de estabilidade? Nunca há estabilidade quando os governos não são livremente eleitos pelo povo."

Estive entre a assistência que o aplaudiu com entusiasmo ao fim da tarde de ontem. Gosto de ouvir um Nobel da Paz falar assim.

Os inimigos da liberdade

              

 

O que há de comum entre Robert Mugabe, Hu Jintao, Mahmoud Ahmadinejad, Raúl Castro e Kim Jong-il? São todos inimigos da liberdade de imprensa. A lista completa, agora divulgada pelos Repórteres Sem Fronteiras, inclui também organizações criminosas, como a Mafia e a ETA. Vale a pena consultá-la aqui. Uma lista com 38 nomes - menos dois do que em 2010 devido à queda dos ditadores do Egipto e da Tunísia, duas das melhores notícias do ano.

Com lugar cativo na lista figura um ditador que ainda não caiu - o sírio Bachar al-Assad, responsável por 632 mortes e pelo menos três mil detenções desde que começaram os protestos populares contra o regime de Damasco, a 15 de Março. E também o ditador líbio, Muammar Kadhafi, que persiste em bombardear Misrata, cidade-mártir, surdo aos apelos à demissão feitos até por antigos aliados como o primeiro-ministro turco Recep Erdogan, agora estupefacto por ver que o tirano líbio condena o seu próprio povo a "sangue, lágrimas e opressão".

O dóberman do Ocidente no Magrebe

 

Enquanto escrevo, ouço o ainda ditador da Líbia discursar em directo a propósito do 34º aniversário do seu proclamado regime de "poder popular". Menciona dezenas de vezes a palavra "povo" - o mais pervertido termo vindo da boca de qualquer tirano logo a seguir a "liberdade". Escuto-o na BBC falando para umas dezenas de pessoas arrebanhadas para o efeito, algumas das quais o interrompem de quando em quando, em gestos devidamente coreografados, com gritos de "líder eterno" e demais palavras de ordem que já ouvimos serem proclamadas por todas as multidões, grandes ou pequenas, em louvor de todos os ditadores em todos os quadrantes. Muammar Kadhafi, aparentando ser magnânimo, afirma que desde 1977 não tem nenhum cargo institucional da Líbia, onde todo o poder reside no "povo" e não pode, portanto, renunciar a posto algum.

Escuto isto enquanto vou reflectindo sobre a estranha alquimia do poder político que enebria e cega tantos dos seus detentores, incapazes de renunciarem a ele quando todas as evidências deveriam levá-los a proceder na direcção contrária. Penso no admirável exemplo de Winston Churchill, derrotado nas urnas pelo eleitorado britânico em Julho de 1945, dois meses após ter levado o Reino Unido à vitória na mais inclemente de todas as guerras. Conhecido o desaire eleitoral, limitou-se a comentar: "Fui sumariamente despedido pelo eleitorado britânico da futura condução da coisa pública." E abandonou Downing Street para escrever os seus livros e pintar as suas aguarelas.

Penso no que Ignacio Camacho, talvez o melhor dos colunistas da imprensa espanhola, escreveu há dias no ABC sobre o mesmo indivíduo que há largos minutos vai perorando no ecrã que mantenho ligado: «El tipo que puso la bomba que mató a 260 personas en un avión que volaba sobre Lockerbie cumplió tan solo diez años mal contados de cárcel: Gran Bretaña lo devolvió el ano pasado a su país, Libia, por compasivas "razones hamanitarias". El hombre que ordenó el atentado, el coronel Muammar El Gadafi, no sólo no cumplió pena alguna sino que recibió durante anos atenciones preferentes de de los grandes líderes europeos, que lo agasaharon con reiteración, le pasaron la mano por la espalda y se rieron mucho con él agradecidos porque les vendía petróleo, les compraba armamento y contenia a los integristas islámicos plantado com su jaima como un dóberman en el patio de atrás del Magreb.»

«Neste país quem manda é o povo», insiste o "dóberman do pátio das traseiras do Magrebe" a quem a ONU chegou a confiar a presidência da sua Comissão de Direitos Humanos. O mesmo que em 2005 mandou matar o escritor Daif Gazal, que figurava na primeira linha dos que reclamavam liberdade. Antes de morrer, este opositor foi barbaramente torturado: cortaram-lhe os dedos para que não pudesse voltar a escrever.

Durante anos, o Ocidente perdoou todos os crimes ao carrasco de Daif Gazal. Há ainda hoje quem o defenda, alegando que o seu regime "laico" é o melhor antídoto contra o "fundamentalismo islâmico". Concluo como Ignacio Camacho: «La complacencia con Gadafi ha sido tan obscena, obsequiosa y evidente que no deja resquicio al disimulo.»

Por isso o tirano permanece impune no momento em que escrevo. Falta pouco para cair, mas cada dia em que se prolongar no poder é mais um dia de sofrimento para os líbios. E de vergonha para o mundo.

Os jagunços do ditador líbio

 

Financiou o terrorismo internacional. Sob o seu mandato, pelo menos 250 presos políticos "desapareceram" misteriosamente. Os partidos são rigorosamente proibidos no país. A tristemente célebre Lei 71 pune a "dissidência", em casos extremos, com a pena de morte. Agora o ditador há mais tempo em funções no planeta não hesita em virar as armas contra o seu próprio povo para se perpetuar no poder: a tentativa de esmagamento do movimento pró-democracia na Líbia já ali provocou 173 mortos, segundo o Observatório de Direitos Humanos. Muammar Kadhafi, que procura censurar toda a informação, tem no entanto direito a assento oficial na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. Não é preciso mais nada para se avaliar como é urgente a reforma das instituições internacionais e para se perceber a que ponto chegou o descrédito da ONU, que alguns sonham ver como sede de um futuro governo mundial.

Portugal, que em Dezembro de 2007 o recebeu com honras de estadista na lamentável cimeira dos ditadores realizada em Lisboa, mantém um envergonhado e vergonhoso silêncio sobre o massacre de cidadãos líbios às mãos dos jagunços de Kadhafi, como já muito bem o Rui Rocha sublinhou aqui. Um silêncio que não pode prolongar-se. Ser membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas não pode servir só para os habituais rodriguinhos de propaganda interna

Mirar o Cairo e ver o Apocalipse

 

 

Depois de José Pacheco Pereira, também Vasco Graça Moura se debruça, angustiado, sobre os perigos do fundamentalismo islâmico num texto de pendor apocalíptico em que não há uma só linha de congratulação pela queda de Ben Ali na Tunísia e Hosni Mubarak no Egipto - ditadores que perfaziam 53 anos somados de mandato, com o requinte suplementar, no caso egípcio, de que já estava praticamente assegurada a sucessão para um dos rebentos do cleptocrata, travestindo a república em monarquia, em jeito de regresso aos tempos faraónicos do rei Faruk.

Bom estilista do idioma, Graça Moura compõe o seu texto no DN em jeito de valsa lenta que vai acelerando e crescendo de emoção à medida que os parágrafos se sucedem.

 

Primeiro parágrafo: «O mundo ocidental deveria olhar com grande apreensão as perturbações consecutivas que ali [Tunísia e Egipto] estão a acontecer e ameaçam alastrar rapidamente aos restantes países islâmicos do Médio Oriente e do Norte de África.»

Segundo parágrafo: «Está na cara que [as coisas] vão correr mal, mesmo muito mal.»

Quarto parágrafo: «O rastilho do fundamentalismo islâmico alastrará imparavelmente pelos caminhos da Al-Qaeda a todo o mundo árabe, ainda por cima com o risco de também acabar por envolver a Turquia.»

Quinto parágrafo: «O Ocidente não está já em condições de se defender, por falta de valores éticos e cívicos que foi dissipando em nome de uma permissividade politicamente correcta e desastrosa.»

 

Custa-me entender três coisas.

Primeira: que um democrata não se congratule calorosamente, em termos inequívocos, com a queda de um ditador.

Segunda: que seja sempre invocado o exemplo do Irão de 1979 como uma espécie de garantia prévia de que os movimentos pró-democracia no mundo islâmico estão condenados a ser mal sucedidos. Que eu saiba, a Indonésia também é um país islâmico - é aliás o maior país islâmico do globo - e transitou com sucesso da ditadura para a democracia no final da década de 90.

Terceira e última: que não se perceba que todos estes persistentes receios são afinal a prova mais evidente de que as ditaduras foram incapazes de travar o passo à ameaça fundamentalista. E como poderiam ter sido, designadamente no Egipto, sob o mando despótico e decrépito de Mubarak?

Lamento, sinceramente, que Graça Moura não tivesse espaço, tempo ou paciência para acrescentar um parágrafo ao seu texto. Um parágrafo em que aludisse à corrupção, à pobreza, às desigualdades, à repressão, às eleições fraudulentas, à censura aos meios de informação, à falta de liberdades fundamentais no Egipto. Por um simples motivo: este quadro confrangedor é que constitui o maior caldo de cultura do extremismo islâmico. Não perceber isto é não perceber o fundamental.

Liu Xiaobo

O Prémio Nobel da Paz de 2010, Liu Xiaobo, foi preso no dia de Natal de 2009 e condenado a 11 anos de prisão. O dissidente chinês é considerado um "criminoso" na China, por pedir a democracia e o respeito dos direitos humanos no seu país.

O crime deste activista de 54 anos parece ser muito grave. Democracia parlamentar? Controlo público dos funcionários? Magistratura independente? Eleição das autoridades? Liberdade de expressão?