A Andrea Peniche critica as posições do Daniel Oliveira, relativamente ao pedido de demissão da direcção do Bloco de Esquerda, no blog do próprio Daniel Oliveira. Tirando este facto, que acho interessante, nada mais de relevante esta "militante" trouxe para a discussão. Aliás, este texto mais não é do que uma sumula de argumentos a defenderem mascaradamente o centralismo-democrático que o BE há muito pratica e que Louçã nunca assumiu nos seus discursos.
Os principais críticos a Francisco Louçã, nos últimos anos, foram afastados (a Joana Amaral Dias é o melhor exemplo) e as personagens que lhe podiam fazer frente foram colocadas discretamente na prateleira (Daniel Oliveira desapareceu para o "comentário" e Miguel Portas foi colocado na Europa). Isto para não falar do Ruptura/FER que, mesmo quando representou uma fatia importante da Mesa Nacional do BE, nunca conseguiu ter um único lugar elegível na lista de deputados.
Mas sobre este assunto, já confrontei directamente Francisco Louçã, na blogconf do BE, em 2009. Os vídeos podem ser vistos aqui e aqui. Afinal tinha razão.
A blogosfera revoltou-se, da esquerda à direita, com a integração de Fernando Nobre nas listas do PSD. Os políticos, que estão sempre a acusar a sociedade civil de se afastar dos partidos, criticaram afincadamente o facto de um independente aceitar aproximar-se de um partido. O PS desmentiu que tenha havido um convite formal a Fernando Nobre para integrar as suas listas, mas nenhum dirigente, até ao momento, negou terem existido contactos.
Infelizmente, o nosso país é assim. Ninguém pode ser livre, pelo menos o suficiente para ter a liberdade de apoiar circunstancialmente e em momentos diferentes, candidatos de vários partidos. Para estar na política, no nosso país, precisamos de olhar os movimentos políticos e os partidos como se de clubes de futebol se tratassem, vestindo eternamente uma camisola inquestionável. Felizmente Fernando Nobre é diferente e tem tido a liberdade e abertura de espírito para apoiar quem deseja, em cada momento da sua vida, sem se preocupar com julgamentos públicos.
1) O Daniel Oliveira diz que a campanha presidencial de Fernando Nobre foi "alimentada" por Mário Soares. A verdade é que Mário Soares, e os seus dirigentes socialistas mais próximos, nunca participaram em nenhuma iniciativa da campanha de Fernando Nobre. Ainda de referir que João Soares foi um dos elementos mais activos da campanha de Manuel Alegre.
2) Segundo o Daniel Oliveira, "quando Fernando Nobre começar a falar o PSD vai ter de se virar do avesso para limitar os danos". A verdade é que Fernando Nobre conseguiu falar suficientemente bem para atingir uma votação de 14%, congregando à sua volta várias personalidades ímpares da sociedade portuguesa.
3) Segundo o cronista do Expresso, "a esmagadora maioria dos eleitores de Nobre nem com um revólver apontado à cabeça votará em Passos Coelho. Porque ele afastará eleitorado que desconfia de gente com tanta ginástica política". Provavelmente será o mesmo eleitorado que vota no Bloco de Esquerda e que desconfia da ginástica política de maoistas, trotskistas, estalinistas e sociais-democratas, que andaram quase trinta anos a agredirem-se mutuamente e que aparecem agora em público como uma feliz e unida família.
4) O mais interessante é este tipo de discurso, sobre Nobre, obviamente: "A chave que usam para abrir a porta da sala de estar do sistema é o discurso contra o sistema. Não querem "tachos", dizem eles, certos de que todos os eleitos apenas procuram proveitos próprios". Portanto, isto é dito pelo ex-dirigente de um partido que utiliza este tipo de campanha, e este, e também este e mais este...
5) Também gosto muito deste final: "Nobre decidiu-se: escolheu a direita ultraliberal em troca das honras de um lugar no Estado". Ou seja, para a extrema-esquerda, as pessoas não têm direito de apoiarem um candidato a primeiro-ministro, sem que para isso não tenham que levar com uma série de rótulos e chavões herdados do verão quente.
No entanto, o discurso do Daniel Oliveira não é o pior, porque o que tenho visto no Facebook (e que levou ao encerramento da sua conta), feito na maior parte das vezes por militantes e simpatizantes de partidos políticos que não o PSD, é infeliz e em nada honra o nosso país. O cerco que está a ser feito a Fernando Nobre é dos acontecimentos mais tristes a que assisti na democracia portuguesa. Tenho pena e espero que todos aqueles que o têm atacado, ao menos o façam com o mínimo respeito e dignidade que um homem da sua grandeza e com o seu percurso de vida merece.