As recentes notícias sobre a comunicação social no Norte permitem antever um conjunto interessante de mudanças.
O Porto Canal vive momentos de entusiasmo com a perspectiva de novos investidores e consolidação do projecto. Por sua vez, o Jornal de Notícias procura retomar o ponto de partida, algures perdido no último terço dos anos noventa, cujos bons exemplos são o recente caderno “Cidades” e a aquisição de Marcelo Rebelo de Sousa para o seu painel de comentadores. O semanário Grande Porto procura manter o projecto e, quem sabe, encontrar novos parceiros. E a RTP-N?
A RTP-N nasceu do fim prematuro e nunca bem explicado da NTV – numa altura em que esta crescia, foram-lhe “cortadas as pernas”, porquê? – dando lugar a um espaço da RTP na cabo com o acrescento de um “n” envergonhado pois nunca assumido, inicialmente, do seu real significado: era “n” de Norte? De Notícias? De Nada? Ficou N de Notícias. Essencialmente, transformaram a RTP-Porto num concorrente da SIC Notícias.
Nos últimos anos a “N” melhorou imenso e jornalistas como o Daniel Catalão, Carlos Daniel, Hugo Gilberto, João Adelino Faria, entre muitos outros e em especial, a equipa de jovens jornalistas que apresentam os diferentes blocos de notícias, marcaram a diferença pela positiva. Acresce um conjunto de programas que se afirmaram no panorama televisivo da cabo – um bom exemplo veio do “A Liga dos últimos”. Em suma, a RTP-N está no bom caminho.
Porém, diz-me a experiência, que quando assim é, quando as coisas começam a resultar a Norte, surge uma decisão superior, vinda das profundas do inferno, que decide acabar com os projectos e deitar tudo a perder. Uma espécie de castigo divino. Por isso já estou a temer pelo futuro da “N”. Está a ficar demasiado boa para agradar a certas almas.
Já tinha ouvido falar da petição e hoje ao ler o 31 da Armada fui recordado.
Sempre que me falam em novos projectos de Comunicação Social bato palmas. Sempre que me falam em petições torço o nariz (coisa dolorosa, por sinal e por causa de um sinal).
O projecto em causa é tão válido como outro qualquer projecto privado. A Rádio Europa foi adquirida e os direitos da Liga Espanhola idem. Muito bem. Nalguma imprensa fala-se num novo semanário e da aquisição dos direitos de transmissão dos jogos do Benfica. Uma boa jogada. Uma mini-TSF, um jornal e direitos televisivos de enorme valor comercial. Falta o canal televisivo para o projecto não morrer à nascença. Vamos por partes.
Os jogos da Liga Espanhola arrastam alguma audiência. Sobretudo enquanto Ronaldo e Mourinho continuarem no Real. Pelo que dizem foram adquiridos por um valor várias vezes superior ao que a SporTV pagava. O Grupo espanhol fez um bom negócio. Pelo menos melhor do que era costume. Se o projecto de Emídio Rangel e Rui Pedro Soares conseguir os direitos dos jogos do Benfica então estamos perante uma verdadeira "revolução" na televisão portuguesa. Mesmo sendo, como todos sabem, Portista, não tenho problemas em assumir que a perda desses direitos por parte da SporTV significam o princípio do fim deste canal temático dado o peso relevante do factor "Benfica" em termos de audiências e consequentes receitas publicitárias. Mais, sendo o Rui Pedro Soares Portista, com Dragão de Ouro e tudo, não me espantaria uma oferta milionária deste ao F.C.Porto em troca dos mesmos direitos. As consequências, em termos de comunicação social, não se ficam por aqui. A SporTV é o porta-aviões de Joaquim Oliveira e uma perda destas seria bem grave para todo o grupo Controlinvest. Não sei se estão a perceber bem o cenário.
Sem um canal, pelo menos na cabo, o projecto de Rui & Emídio não passará de algo puramente comercial.
A aquisição da Rádio Europa e consequente criação de uma mini-TSF é interessante mas redutor. A frequência em causa limita-se à Grande Lisboa e ao seu mercado. Por sua vez, a TSF é uma rádio nacional. Para ter importância real, teriam de adquirir mais frequências e isso, não sendo impossível, é tarefa improvável. Excepto se Rui & Emídio conseguirem um acordo com algum grupo regional relevante que consiga alargar a mini-TSF para o Norte e Centro, pelo menos o Litoral Norte e a A25. Se o conseguirem, uma vez mais, a Controlinvest estaria na mira ao ter de dividir um bolo que actualmente é só seu.
Sem um conjunto relevante de frequências, pelo menos Litoral Norte e Centro/A25, o projecto ficará manco e comprometido.
O lançamento de um semanário é um risco elevado. Apostar no papel nos tempos que correm é comercialmente complicado. Excepto se ancorado num projecto integrado (televisão/rádio/imprensa). A não ser que a história do semanário esteja mal contada e depois de tanto ataque aos interesses de Joaquim Oliveira na Comunicação Social, o verdadeiro objectivo seja adquirir os dois jornais da controlinvest, o JN e o DN. Ficando de fora o "O Jogo" e a "TSF". Ou não.
Falta perceber uma coisa muito simples: a origem de todo este dinheiro. Se é investimento privado, ninguém tem nada com isso e façam o favor de investir na Comunicação Social. É um acto corajoso e que merece o nosso aplauso. É muito dinheiro? É, sim senhor, mas cada um gasta-o/investe no que muito bem entende.
O problema pode ser outro: E se não é investimento privado. Ou dito de outra forma, a dúvida lançada pelos autores da petição é simples (vamos chamar os bóis pelos nomes, sff), será que estamos perante um projecto empresarial de cariz político com dinheiros públicos, via PT ou quejandos? Nesse caso a conversa muda de figura. O Estado não precisa nem deve envolver-se nestes negócios. Já existe a RDP e a RTP. E chega perfeitamente. Já estamos fartos de ver o nosso dinheiro desbaratado.
Nesse caso digo: Basta!
Por isso, o melhor mesmo, é os visados esclarecerem. Na falta, a ERC que faça o favor de investigar.