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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

O Chefe do "Governo Económico Europeu".

 

Hermann Van Rompuy, até agora Presidente do Conselho Europeu, mas ao que parece já nas suas novas funções de Chefe do "Governo Económico Europeu" para que foi designado na cimeira Merkel-Sarkozy, pronuncia-se contra os Eurobonds. Tal não constitui propriamente novidade, uma vez que, como já aqui escrevi, fiquei absolutamente convencido de que a Alemanha nunca os aceitará. A novidade, no entanto, é que, sendo os Eurobonds defendidos por tantos países europeus, não deixa de ser curioso que alguém no centro de um órgão comunitário, onde deveria ter independência das posições dos Estados-Membros, venha afinal ter um alinhamento tão grande com a posição da Alemanha. Tal demonstra, para quem ainda tivesse dúvidas, que o "Governo Económico Europeu" será de facto dirigido por Angela Merkel e Van Rompuy se limitará a executar as suas determinações. E de facto nestas declarações de ontem o que se ouviu foi his master's voice.

Visto da Alemanha

Estando presentemente na Alemanha por motivos profissionais, posso ver a perspectiva com que aqui é encarado o resultado da cimeira Merkel-Sarkozy. Aqui acentua-se essencialmente a recusa dos Eurobonds, sendo manifesto que os cidadaos alemaes veriam com muito maus olhos qualquer tentativa de os criar. Parece-me por isso que Merkel nunca alinhará nessa proposta, uma vez que tal lhe custaria inevitavelmente o cargo.

 

Os resultados da cimeira demonstram, por outro lado, mais uma vez o apagamento total da Comissao Europeia e de Durao Barroso. O pretenso "governo económico europeu" constitui apenas uma submissao dos outros Estados-Membros ao Diktat da Alemanha, tanto assim que a sua presidencia é oferecida sem qualquer escrutínio democrático a uma figura totalmente apagada como Hermann Van Rompuy, que se limitará a executar as ordens da Alemanha. Quanto à referida taxa Tobin nao me parece que vá resolver problema algum. É evidente por isso que, a continuar-se assim, o descalabro do euro será uma realidade, mais dia menos dia.

 

Mas de uma coisa fiquei convencido. Levar a Alemanha a aceitar os Eurobonds é um sonho de uma noite de Verao. E o Verao este ano na Alemanha está a ser muito frio, pouco propício a sonhos.

Finalmente, a Reestruturação da Dívida Começou

Custou muito, demorou muito tempo mas finalmente os responsáveis políticos alemães ganharam juízo: segundo o DN,

 

a Alemanha enviou uma carta aos outros países da União Europeia (UE) propondo que o pagamento da dívida soberana da Grécia seja reescalonado por sete anos e que os actuais detentores de títulos gregos contribuam de forma substancial para o segundo plano de resgate a Atenas.

União Europeia a Resvalar

Discordo do António Figueira, concordo com o Luís Menezes Leitão:

 

1) Sair do Euro (a Grécia) quase que implica sair da União Europeia: começa com a imposição do controlo de capitais e seguem-se outras restrições: na prática, as componentes mais básicas da União Europeia deixarão de ser aplicadas. E, como afirma e bem Luís Menezes Leitão, a saída de um país da União é o princípio do desmoronar da mesma.

 

2) A moeda única, por estranho que possa parecer, é um desígnio europeu: basta lembrar que todos os países das últimas adesões (os dez que entraram em 2004 e os dois do último alargamento) NÃO têm opção de ficar de fora do euro. Foram estes países que assim quiseram auto-limitar-se ou terá sido isto uma exigência dos país que já faziam parte da União? E, de entre estes, quais terão sido mais veementes nessa imposição?

 

3) "A aceitação da moeda única pela Alemanha" e "A Alemanha aceitou o euro": estas expressões, se compreendi bem, parecem sugerir que o euro terá sido um terrível sapo engolido pela Alemanha. É um erro de análise gigantesco esse de que a Alemanha engoliu um sapo e de que fez um grande favor ao resto da Europa: a Alemanha é a maior beneficiária da moeda única. E está melhor com o euro do que estaria com o seu marco robusto mas rodeado de moedas fracas prontas a desvalorizarem-se por tudo e por nada.

 

Se a aceitação do euro na Alemanha não foi coisa popular na altura e se hoje os alemães pensam que o euro não lhes trouxe benefícios líquidos (se é que, de facto, a maioria deles pensa assim) - é porque também o eleitorado alemão se engana e vota mal ("lembram-se" de Março de 1933?) e o seu conhecimento económico não é infalível. A questão principal não é a Alemanha ter abandonado a sua moeda forte. A questão relevante é a Alemanha ter deixado de ser prejudicada por várias moedas prontas a serem desvalorizadas a qualquer instante (as dos seus parceiros económicos antes de aderiram ao euro).

 

4) Tema para paper: quantificar os ganhos acumulados decorrentes do euro (e, de caminho, da criação do Sistema Monetário Europeu) para a Alemanha e compará-los com as perdas de uma eventual default grego e hair cuts das dívidas irlandesa e portuguesa.

Um Efeito Positivo da Moção Anunciada

Um efeito positivo da moção de censura anunciada pelo Bloco de Esquerda foi este: Daniel Oliveira passou a escrever coisas com que uma pessoa de direita (ou de alguma ou algumas direitas...) pode concordar com gosto. São três os exemplos pós-moção anunciada:

 

"Cinco más razões para um disparate" faz a análise das "causas" do anúncio de moção (só não posso concordar com aquela opinião extrema da "direita extremista").

 

"Alemanha e as lições da história": este é um texto excelente (e é a razão principal para que eu escreva este post). Há muitíssima gente a precisar de ler e reflectir neste texto palavrinha por palavrinha, a começar precisamente por muito boa gente de direita! Sim. E, para que não haja confusões, atenção a isto: criticar quem faz de conta que a História Europeia não existe ou que já foi há muito tempo - não é e não pode ser confundido com criticar quem tem sabido governar-se bem. E também não é confundível com a defesa de nenhum governo socialista português...

 

Finalmente, "Salto à Vara". Sobre aquele ser humano socialista que passa à frente de tudo e de todos. A crítica comedida e justa, sem histeria. Em geral, discordo de argumentos baseados na responsabilidade "colectiva" ou "do sistema" e do "somos todos culpados". Mas naquele último parágrafo, Daniel Oliveira tem razão: qualquer pessoa que tenha tido um poucochinho de poder, por mais pequenicles que fosse, já experimentou a bajulação e a graxa - e, provavelmente, sentiu-se "ditadorzinho" - e, menos provável porém, até terá beneficiado um bocadinho. A sobranceria e abuso de uns é também suscitada pela adulação de muitos.

 

 

P.s.: "Os países periféricos (...) Limitaram-se a estar mais expostos aos ataques a uma moeda criada à imagem e semelhança do marco": isto não é bem verdade... as responsabilidades pela crise e seus efeitos, sobretudo nos casos português e grego, não se limitam ao facto de que aqueles países "coitadinhos" perderam a política cambial: se tivessem sabido governar-se, não só a crise não seria tão pesada como o euro até teria sido uma oportunidade muitíssimo mais bem aproveitada.