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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Emoções básicas (8)

A direita portuguesa

Muito interessante verificar o silêncio incomodado, em relação a isto, nos blogues ditos próximos do PSD. Chuta-se para canto, em vez de tentar explicar as razões do descontentamento.

Já aqui manifestei a minha incompreensão pelo fenómeno do verdadeiro ódio a Passos Coelho que se encontra na blogosfera. Estou a referir-me concretamente aos principais blogues políticos da direita, onde muitos textos revelam uma estúpida sobranceria e superioridade social.

Na direita portuguesa estamos a assistir a uma mudança de geração e ao fim do chamado cavaquismo (embora Cavaco Silva, a meu ver, tenha vantagem na sua eventual reeleição). Falo obviamente da geração política associada a Cavaco, aos barões que levaram aquele partido a várias derrotas. Na blogosfera, a direita ligada ao CDS acolheu mal a subida do PSD, sobretudo a forma como Passos Coelho conseguiu em semanas unir o seu partido e transformá-lo no verdadeiro motor da oposição. Mas a maioria dos autores da blogosfera (e na imprensa) supostamente ligados ao PSD continua a destilar uma hostilidade a Passos Coelho que não corresponde minimamente aos dois terços de votos que este político conseguiu no seu partido. Em resumo, a blogosfera não reflecte a realidade. Há blogues de protesto, o bloco de esquerda é gigantesco, os monárquicos são super-influentes, há ainda alguns apoiantes de Sócrates (agora todos entrincheirados nas barricadas) e a oposição interna do PSD domina o centro-direita. O eleitorado real é muito diferente da blogosfera. 

 

Há autores que nunca acertaram numa análise e que continuam a insistir na tecla "não gosto daquele gajo" sem um único argumento. Dou um exemplo: pessoas inteligentes repetem a tese de que Passos e Sócrates são uma espécie de Dupond e Dupont da política portuguesa. A ideia, digna de um bom barbeiro, não resiste a cinco segundos de reflexão. Não podia haver dois políticos mais diferentes, no estilo, no discurso, na actuação. Um é arrogante, impulsivo, agressivo e autoritário; o outro tenta estabelecer alianças alargadas, é paciente, controlado e com um estilo de liderança consensual.

Este fim-de-semana havia uma notícia de que o PSD estava a preparar uma aliança pós-eleitoral com o CDS. Mas a parte interessante da notícia era a informação de que os social-democratas se poderiam aliar aos conservadores mesmo se conseguissem maioria absoluta (um cenário que pelos vistos admitem na sua estratégia).

Julgo ser uma novidade na política portuguesa.

 

A conjuntura económica é muito mais grave do que nos andam a dizer, veja-se a polémica em torno das declarações do Presidente sobre a insustentabilidade da situação. A resposta do PS foi uma barragem de propaganda, fuga para a frente e autismo; vimos destas coisas durante vários anos e já ninguém acredita, sobretudo os mercados.

As pessoas sensatas afirmam até que já devia existir um governo de bloco central para fazer o que tem de ser feito, governo esse que parece impossível de concretizar, pois exigiria uma mudança de líder no PS, o que não se vislumbra.

Sabendo que o país está à beira do abismo e que continuará endividado nos próximos cinco ou seis anos, os políticos tentam um equilíbrio difícil. Se derrubasse o governo sem estar preparado para governar, como desejam alguns mais impacientes, Passos Coelho arriscava-se a ser o responsável pelo agravamento da crise. E o PS poderia mais facilmente sacudir a água do seu capote, como fez no passado.

O Governo que nos colocou nesta situação será forçado pelas circunstâncias a tomar decisões que são contrárias às suas convicções socialistas. No fundo, trata-se de tirar regalias sociais que o PS introduziu e sempre defendeu. Os cortes na despesa são inevitáveis e o eleitorado socialista vai resistir.

 

A sondagem citada acima mostra o início de uma erosão do PS, que se irá agravar ao longo dos próximos meses. A situação económica não vai melhorar e, após anos de empobrecimento, os portugueses enfrentam um futuro sombrio da continuação do declínio talvez por mais uma década. Não há perspectivas de crescimento económico e o desemprego só poderá ser minorado pela imigração para países que entretanto recomecem a crescer.

A breve prazo, o centro-direita (PSD e CDS) deverá voltar ao poder. Mas julgo que o próximo governo vai actuar num contexto de grandes limitações, a ter de impor reformas dolorosas e politicamente difíceis, algumas delas por exigência externa. A tal nova geração de políticos será testada num cenário de crescente descontentamento social. 

Sempre achei que a direita intelectual portuguesa pensa pouco e pensa mal. Neste caso, a que se manifesta na blogosfera e em certa imprensa, está a ver o filme completamente desfocado. Para estes autores, a ideia de ver esta nova geração de políticos no poder é um horror pior do que a crise. E é curioso verificar que Cavaco produziu a mesma reacção de aversão: enfim, o filho do gasolineiro e self-made man também não era da classe social certa.