A mulher chamava-se Siddiqa, tinha 19 anos, e o homem era Khayyam, de 25. Foram mortos por lapidação, no domingo, numa aldeia da província de Kunduz, no Afeganistão. Leiam aqui a história sem final feliz.
Não me apetece fazer rigorosamente nada, só quero ficar aqui para sempre, a olhar para a linha do mar sem fim que voltou a encantar-me os olhos cansados, de tão fartinhos que estavam da paisagem citadina e da leitura de jornais. Costumo viver aqui durante o verão e nunca me arrependo, não queiram entender porquê... De manhã, ainda vocês estarão a dormir, é o cheiro da maresia que vem acordar-me. À tarde... é o sol que me chama e o mar que me recebe de corpo nu. Ao fim da tarde, well... acabo invariavelmente a passear junto à água, perdida da vida em conversas intermináveis sobre questões filosóficas com os bandos de gaivotas, sempre na companhia dos meus dois cães.
Se a realidade não fosse tão má seria muito gira, "pá"... Chego a pensar se não andam a dar-me cogumelos mágicos misturados na salada de frutas frescas que é especialidade da tasquinha de praia cá do sitio, propriedade de um socialista ferrenho que pensa do Sócrates que é um génio incompreendido a quem "os jornalistas e esses gajos do PSD estão fartos de tentar fazer a cama". Leary1 estava certo ao dizer que a civilização era insuportável, embora fosse muito menos quando se estava no topo... Há verdades que são eternas, no matter what, e essa ainda não mudou.
Leary e os cogumelos mágicos... mas claro que sim, é exactamente isso, só pode... Tenho que deixar o bom do Timothy mais a sua "poesia" maldita e escolher outra tasquinha para ir comer a salada de frutas. Porque já vejo um polvo que prevê resultados de futebol e nunca se engana! Uma holandesa que oferece felatios a 110.885 seguidores do twitter se a Holanda ganhar a taça! Outra, uma modelo paraguaia... vai correr nua pelas ruas do Paraguai e já ninguém sabe ao certo porquê! Depois é aquele jogador de futebol de ar duvidoso a quem aparecem filhos relâmpago, feitos numa "barriga de aluguer" por uns milhões... Só mesmo na America! E também há o jornalista que cita as palavras de Queirós e... quando acusado de mentir e chamado a jogo, se escusa a ir a provas... São os cogumelos, não tenho dúvidas... porque se não fossem, isso eu sei, tudo estaria bem.
1(wiki) Timothy Francis Leary, Ph.D. (22 de outubro de 1920 - 31 de maio de 1996), Professor de Harvard, psicólogo, neurocientista, escritor, futurista, libertário, ícone maior dos anos 60 e do hedonismo. Ficou famoso como um proponente dos benefícios terapêuticos e espirituais do LSD. De facto, o Professor Leary defendia os benefícios desta substância psicadélica como o substructio do progresso humano.
O centro-direita venceu as eleições na Eslováquia, derrotando os pós-comunistas de Robert Fico (SMER, social-democratas), que estavam coligados com populistas e extrema-direita. A campanha foi marcada por tentativas de tentar incendiar as relações com a minoria húngara e também por escândalos de corrupção e declínio económico.
Apesar de tudo, Fico ficou em primeiro lugar e tentará formar uma coligação, embora isso pareça improvável, já que os partidos de centro-direita e húngaros têm maioria no parlamento.
Há um padrão nos chamados países de leste. Começou na Polónia, continuou na Hungria e já se estendeu à República Checa e Eslováquia, nestes dois por margens mais pequenas: os partidos pós-comunistas, que dominaram a política durante duas décadas, estão a ser afastados do poder. Eles repetiram alguns dos defeitos do antigo regime comunista, apropriando-se do Estado, comprando corruptamente empresas como se fossem suas, boicotando os reformistas sempre que estes governavam. Eles usaram a mentira sistemática e controlaram os meios de comunicação, por vezes com violência. Foram levados ao colo por Bruxelas. Os antigos partidos comunistas, travestidos de social-democratas, até aderiram à Internacional Socialista e fazem parte do grupo socialista do Parlamento Europeu. Nunca hesitaram em aliar-se à extrema-direita (alguns desses partidos nacionalistas radicais com que se aliaram tinham sido inventados por antigos comunistas) e foram sempre desculpados pela imprensa ocidental, que foi impiedosa com todos os políticos de direita.
Na blogosfera portuguesa (e na imprensa) Bernardo Pires de Lima é hoje um autores mais perspicazes a escrever sobre temas internacionais. Mas discordo desta sua opinião. O autor de União de Facto menciona a "margem e folga" da diplomacia americana, além do "papel de mediador" para Washington, que estaria agora facilitado. Julgo ser o caso inverso. Há menos margem de manobra e a mediação do processo de paz será mais difícil.
O facto é que a diplomacia americana está a ser forçada a apoiar um acto de legalidade duvidosa de um seu aliado. Não há alternativa, não existe aqui qualquer flexibilidade. A superpotência tem de escolher entre amigos e é obrigada a cobrir a trapalhada israelita, por muito que isso lhe custe. Chama-se a isto estar refém de uma política alheia.
O governo israelita sabe que a administração americana não tem outra opção, excepto a de impedir sanções contra Israel, condenações internacionais, travar qualquer iniciativa que beneficie o lado árabe. Estando em posição de força perante Washington, Israel encontra-se numa situação internacional de grande fraqueza, pois o bloqueio a Gaza não é sustentável. Para mais, não parece existir saída política para a questão, pelo que os árabes só têm de pressionar: multipliquem-se as flotilhas humanitárias, faça-se uma intifada de protestos navais. No fundo, se virmos bem, só existe uma solução para os israelitas, a demissão de Benjamin Netanyahu. Mas acho que eles vão escolher o endurecimento. Há uns dias, havia uma notícia (daquelas pequeninas, que são geralmente as importantes) sobre uma missão de submarinos israelitas no Golfo Pérsico.
Os europeus estão divididos, como é costume. É interessante observar que o Reino Unido e a França se abstiveram na votação da ONU sobre a comissão de inquérito internacional. Más notícias para Telavive.
Esta discussão levava-nos longe, não vou elaborar, só adianto o meu espanto pela forma como tantos bloggers sérios estão a repetir a propaganda israelita ou seguem acriticamente o blitz mediático que Israel organizou (a organização islâmica IHH terá relações com extremistas, mas essa acusação israelita tem de ser tratada com pinças). Qualquer voz sensata que adiante um suspiro de dúvida sobre algo que noutras circunstâncias seria indefensável, nomeadamente a operação militar contra a flotilha, é imediatamente classificado como anti-semita, amigo do Hamas ou membro da aliança vermelha-verde.
Por outro lado, defensores de Israel que critiquem os extremistas islamitas que têm naturalmente tentado incendiar a situação são perigosos sionistas. Se bem percebi este post, Filipe Nunes Vicente acabou com os comentários no seu blogue por delito de opinião.
É lamentável que a sociedade portuguesa esteja nesta situação crítica: qualquer questão que se queira discutir é imediatamente transformada num coro de excessos, a ver quem grita mais alto ou quem tem o argumento mais engraçadinho e irracional. A blogosfera portuguesa está a ficar muito estúpida.
O problema com esta posição de Jorge Costa é o de impedir qualquer tipo de saída. Somos forçados a viver no labirinto que Israel criou para si próprio.
O problema com o bloqueio é a circunstância de não existir nenhum exemplo histórico moderno de bloqueio naval bem sucedido. Israel está de facto em guerra com o Hamas, mas até a guerra tem regras, nomeadamente o respeito pelos aliados, a vontade de negociar e a capacidade de distinguir entre inimigos e amigos. Em poucos minutos, os israelitas destruíram a sua relação com o seu único amigo no mundo muçulmano, a Turquia. Os estragos parecem irreparáveis. E só a incompetência pode explicar a forma como o governo de Benjamin Netanyahu lidou com esta situação: a brutalidade da operação (seja ou não armadilha, o erro está em quem cai na armadilha) torna mais difícil o apoio dos países ocidentais, sobretudo na Europa, onde a opinião pública é cada vez mais hostil a acções como esta.
O problema da estratégia israelita é a circunstância de se basear na chantagem dos radicais de Israel (uma minoria), que obrigam as diplomacias alheias e todos os partidos do seu país a apoiarem as políticas de ocupação de espaço e de paranóia perante a destruição iminente.
E se Bibi decide atacar o Irão, como fez com os barquinhos desarmados? Se não se condena este caso, então pode perfeitamente atacar as instalações nucleares de Teerão, acção que é bem mais fácil de justificar. E quem o vai impedir? Aliás, Israel é o único país do mundo que consegue arrastar a diplomacia americana para situações que esta não deseja, como se a verdadeira superpotência fosse o minorca do Médio Oriente e não o gigante da América do Norte. Se Obama condenar esta acção será trucidado pelos media americanos, por isso não tem alternativa. O caso terá de ficar por uns protestos retóricos e um sacudir da poeira para debaixo do tapete.
Do ponto de vista árabe, o ataque à flotilha da liberdade é mais um exemplo dos critérios enviesados do Ocidente. Os ocidentais estão sempre a debitar doutrina sobre democracia e direitos humanos, mas se o Hamas vencer eleições, isso já não conta como democracia. Um ataque a navios desarmados em águas internacionais devido a um bloqueio ilegal (o que seria um acto de guerra em qualquer outra circunstância) é apagado com uma esponja. Não admira o ponto de vista de muitos turcos: para que nos serve a aliança da NATO?
A proposta da Comissão Europeia sobre o reforço da coordenação económica na UE, que se pode ler aqui, terá enormes consequências políticas, caso seja aprovada. Quando no próximo ano Portugal quiser elaborar o seu orçamento para 2012, terá de enviar à Comissão, na Primavera de 2011, um programa de estabilidade com objectivos definidos. A comissão pode criticar as metas e rever os números. Pode enviar o Eurostat para certificar que a estatística nacional cumpre os requisitos do rigor. Se lhe for pedido, o país altera os seus planos e elabora o orçamento de Outubro em função dos números que Bruxelas aprovou. O parlamento não terá qualquer espaço de manobra para negociar.
Não será apenas o défice a ser vigiado, mas a dívida pública. A nossa é altíssima, portanto, as metas de défice de 3% do PIB não chegam para a reduzir. Ou seja, teremos de continuar a cortar para valores bem abaixo dos 3%.
Se um país se porta mal, a comissão não tem grandes poderes para actuar. Pode dar conferências de imprensa, fazer umas ameaças, iniciar procedimento de défice excessivo, mas as sanções estarão a cargo do Conselho Europeu, onde reside o verdadeiro poder da UE.
Aqui, tudo se passa por maioria qualificada e entre membros da zona euro. É o clube dos grandes. As sanções podem ser duras mas, segundo os tratados, o conselho não pode obrigar um país a mudar o seu orçamento. No entanto, a prática da UE dá vastos poderes à pressão negocial dos países fortes. Se havia dúvidas sobre isso, bastaria reflectir sobre a forma como Portugal e Espanha estão de facto a alterar os seus orçamentos deste ano, na sequência de um conselho europeu extraordinário onde certamente foram exercidas fortíssimas pressões.
O meu ponto é o seguinte: a proposta da comissão, certamente inspirada nos desejos da Alemanha e França, equivale à consagração do chamado governo económico europeu. Os países pequenos pensavam que este governo económico lhes seria favorável, mas isso era na fase das loucuras. Se fintassem o Pacto de Estabilidade, poderiam votar no Conselho, obrigando os ricos a pagar as contas. Este mecanismo acaba de vez com as ilusões: pode não ser a Europa a várias velocidades, mas já se parece muito com um directório.
Parece estar concretizada a ideia do governo económico europeu. Os dirigentes da UE já tinham feito afirmações nesse sentido, por exemplo a frase de Angela Merkel de que era preciso combater a crise do euro com decisões políticas. Depois, foi concretizado um fundo de emergência para financiar países em dificuldades. E uma cimeira extraordinária mudou a atitude de pelo menos dois governos, o português e o espanhol, que anunciam novos cortes na despesa e novos impostos, numa viragem abrupta.
O governo económico europeu foi durante anos defendido pela França, mas sempre contrariado pela Alemanha, que desconfiava da interferência política nos mercados. A actual crise parece ter mudado tudo. O eixo franco-alemão optou por esta via, garantindo que os assuntos orçamentais dos Estados são decididos por maioria qualificada.
No fundo, qual o significado desta evolução? O Conselho Europeu terá poderes (não previstos nos tratados) sobre a maneira como os países gastam o seu dinheiro. Até agora, a Comissão tinha influência, podia enviar avisos, mas pouco mais do que isso. Há um artigo que prevê a imposição de sanções fracas (perda de fundos comunitários e proibição de emissão de obrigações), mas nunca foi utilizado e nunca assustou ninguém.
A confirmar-se o governo económico, estamos perante uma cedência de soberania de enorme alcance, imposta no meio da tempestade financeira. Talvez seja a única forma de salvar a moeda única, mas não está previsto em lado nenhum que o directório de potências possa decidir a despesa e a receita de cada país, as prioridades nos gastos, o levantamento de impostos, os cortes nos salários dos funcionários públicos, as obras públicas. O PEC sempre foi voluntário e não era contestado. E não estamos perante a UE a decidir sobre dinheiro comunitário, pois ninguém fala em aumentar o orçamento de 1% do PIB.
Agora, para quem não cumprir os critérios de Maastricht, a vigilância sobre o respectivo PEC pode tornar-se uma imposição permanente, passando a existir poderes de alteração de orçamentos nacionais, algo que só os parlamentos eleitos deviam ter.
Neste fim-de-semana, a União Europeia mudou de forma fundamental e ninguém parece ter reparado nisso.
Os resultados quase definitivos das eleições britânicas: vence o partido conservador, com 306 deputados eleitos (faltam 20 para a maioria). Os conservadores tiveram mais de 10 milhões de votos e 36% do voto popular. Aparentemente, prepara-se uma negociação entre David Cameron e o líder dos liberais-democratas, Nick Clegg. Isto pode resultar numa aliança parlamentar ou numa coligação de governo a representar quase 60% do eleitorado, o que é uma novidade. Os liberais tiveram um mau resultado, apenas 23% do voto, elegendo 57 deputados. só subiram um ponto percentual mas são decisivos. Devem pedir à cabeça reformas no sistema eleitoral. Os trabalhistas perderam as eleições (29%, 258 deputados), podem entrar numa fase de confusão interna e, sobretudo, desorientação ideológica. Irá a ala mais à esquerda voltar a dominar o partido?
Do ponto de vista português, a grande consequência de uma eventual coligação entre conservadores e liberais será a possível mudança nas políticas europeias. Em nome da coligação, Cameron terá razões para suavizar a influência da ala anti-europeia do seu partido. O Reino Unido não está em condições de aderir ao euro, mas as grandes realizações da UE surgiram sempre após crises severas. Esta é a pior de que há memória, mas pode resultar em alterações políticas de âmbito europeu, desta vez com maior apoio britânico. Estamos todos no mesmo barco. Aliás, Cameron e Clegg têm personalidades próximas, pelo que será natural que se entendam. Do ponto de vista português, este é um excelente resultado.
Há políticos que dizem ser necessária mais solidariedade europeia para sair da crise. Nunca explicam que o orçamento europeu representa apenas 1% do PIB global do grupo e que o maior contribuinte é a Alemanha. De onde viria o dinheiro? Certas posições quase colocam as coisas ao contrário: a Alemanha devia pagar o endividamento de países como a Grécia para salvar a Europa, sem contrapartidas; a senhora Merkel (que responde perante os seus eleitores) devia ser mais europeísta e solidária, sem pensar em eleições.
O facto é que o actual salvamento da Grécia nem sequer está previsto nos tratados. Se o dinheiro não chegar ou houver efeitos de contágio, será o próprio euro a estar em causa. Fala-se em próximas vítimas, Portugal ou Espanha. A união monetária até pode desabar e a Grécia falir. Os mercados derrotaram a libra no mecanismo europeu de taxas de câmbio, em 1992. O euro é muito maior, mas tem aparentes fragilidades.
Existe uma outra visão, em certos blogues mais à direita ou mais à esquerda, segundo a qual o fim do euro nem era assim tão negativo. Não percebem que com o euro iria também o mercado único, que haveria desvalorizações competitivas, que as dívidas contraídas em euros seriam pagas com salários em escudos. Uma tragédia, obviamente.
Perdoem a especulação numa crise tão complexa, mas existe uma interpretação alternativa. Isto pode ser um importante momento de viragem na UE, resultar não em mais Europa, mas numa Europa diferente. A versão do modelo social dos países do sul parece ter estoirado e a periferia enfrenta problemas difíceis. O Pacto de Estabilidade e Crescimento vai ser alterado e acabam as facilidades. Quem tiver de sair, sai. Se é preciso cortar um membro gangrenado para salvar o conjunto, não tenho dúvidas de que os líderes europeus seguem pelo caminho da cirurgia. Depois, haverá uma solução qualquer para os gregos.
O que é que isto significa? A meu ver, a Europa caminha a passos largos para um clube a múltiplas velocidades. Esta crise implicará soluções que passam pela constituição de um núcleo duro de países, liderado pela Alemanha.
Alguns Estados podem ficar no exterior deste arco central. A Grécia, sem dúvida; talvez a Irlanda, Portugal; a Espanha parece mais difícil, mas não me espantaria. Estes países podiam regressar às suas moedas, desvalorizavam, ganhavam competitividade, teriam mais inflação. A Eslováquia podia também sair e mais nenhum do leste entrava no euro. São demasiado pobres.
A zona euro concentrava-se nos países ricos. O mercado único não era muito afectado, dada a pequenez dos que saíam da união monetária, o que permitiria manter o orçamento europeu a 1%. Pode até acontecer algo ainda mais negativo para Portugal: França e Alemanha avançarem com um projecto muito defendido em cada um dos países, que é o aprofundamento da sua integração. Paris conseguiria relegar de vez os ingleses para o segundo patamar da UE. A Turquia entrava no terceiro, quase a par da Grécia e do despromovido Portugal.
Uma UE flexível e em rede dava incentivos ao bom comportamento, à subida de divisão. E os mal comportados sabiam qual seria a penalidade.