A Europa está perigosa
Há uns anos o Vasco Pulido Valente, figura que muito admiro e que hoje em dia é muito replicada, dizia que "o mundo está perigoso". Pois bem, ao ler certas declarações que têm sido feitas nos últimos dias a propósito do resgate de Portugal, fiquei com a nítida sensação de que a Europa não está nada bem. Um exemplo: hoje, enquanto participava num encontro do chamado Grupo de Arraiolos, em Budapeste, o Presidente da República disse esperar que os nossos parceiros europeus tivessem em consideração que o País vai entrar num período eleitoral, pelo que o programa de ajuda devia ser a dois tempos, se bem percebi. Um imediato e um de médio prazo, que possa ser negociado e assinado pelo futuro Governo que irá sair das eleições de dia 5 de Junho.
Cavaco Silva acrescentou que, por aquela razão, seria necessário usar de "alguma imaginação" para que o tal programa interino fosse uma realidade. E o que aconteceu a seguir ou praticamente em cima das declarações do Chefe do Estado português? O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, veio dizer isto: "Já mostrámos muita imaginação e, principalmente, responsabilidade no que respeita à forma como ultrapassar as dificuldades de Portugal", tendo acrescentado que "para o bem de Portugal e para o bem da Europa, preferia não ter de dialogar na praça pública todos os dias com os dirigentes de Portugal".
Sucede que o Presidente da República não é um "dirigente" qualquer de Portugal, foi eleito por sufrágio universal e directo, ao contrário do nomeado Olli Rehn. É por estas e por outras que o projecto europeu devia ir beber a sua inspiração a alguns dos seus primeiros ideólogos e impulsionadores, já que os actuais intérpretes parecem estar a léguas em termos de cultura política e respeito institucional.