"Com o seu arzinho presunçoso e professoral, economistas, financeiros, banqueiros, filósofos e arraia-miúda vieram revelar ao indígena atónito que nada, ou quase nada, se fizera de lógico e sensato de 1990-95 para cá. (...) Infelizmente, esta constatação pede uma pergunta óbvia: em que se ocupavam os sábios que hoje com tanto gosto nos predicam, enquanto os partidos (o PS e o PSD) arruinavam o país?" escreve Vasco Pulido Valente no Público (citado aqui).
É muito injusto este parágrafo de VPV: desde os governos de António Guterres que vários economistas (e não só) alertaram para o despesismo e para a necessidade de corrigir os excessos das contas públicas em época de crescimento económico mundial, europeu e nacional. Guterres desaproveitou a última grande oportunidade de implementar as eternamente necessárias e nunca realizadas "reformas estruturais". Aliás, Guterres agravou em muito a situação das contas públicas portuguesas, aumentando despesa, número de funcionários e compromissos futuros do Estado numa época em que até os mais "keynesianos" recomendariam moderação orçamental. António Guterres forçou os governos seguintes - incluindo os de Sócrates - a seguirem políticas contracionistas em época de crise económica.
Os erros de Sócrates são sobretudo o resultado de desonestidade e populismo sem quaisquer limites, para além de um vazio absoluto de ideologia e de tino.
Já os erros de Guterres foram, pelo menos, a consequência de incompetência técnica pura e dura e de um olímpico desprezo por quem defendia as melhores e mais avisadas opiniões económicas. (A enorme dose de eleitoralismo travestido do coraçãozinho de manteiga que os respectivos assessores de imagem lhe inventaram também contribuiu e muito para a prodigalização guterrista).
Ao contrário do que Vasco Pulido Valente afirma, já vai para dezasseis anos que uma série de economistas, mais ou menos politizados, mais à esquerda ou mais à direita, têm continuadamente alertado para o regabofe das contas públicas que veio a desembocar na presente desgraça nacional.
editado por Pedro Correia às 23:47
2 comentários
lucklucky 08.04.2011 19:25
"É muito injusto este parágrafo de VPV: desde os governos de António Guterres que vários economistas (e não só) alertaram para o despesismo e para a necessidade de corrigir os excessos das contas públicas em época de crescimento económico mundial, europeu e nacional."
Não é nada injusto. É aliás a verdade. Banalidades como corrigir os excessos não valem nada se o teor do discurso não se for agravando com o agravamento da situação. Se não se disser vamos a caminho do desastre. Algum economista disse: "Vamos a caminho do desastre"
VPV está correcto. Em Portugal houve mais preocupação com o Aquecimento Global do que com as contas publicas Já agora como explica a reacção ao Medina Carreira?