Um dia triste.
A única coisa que posso sentir neste dia é uma profunda tristeza pelo estado a que se deixou chegar o país e especialmente pelo que que aí vem. Tive já ocasião de visitar a Grécia e a Irelanda depois do que eufemisticamente se chama "resgate" do FMI. Tradicionalmente "resgate" era o dinheiro que se pagava para libertar alguém que tinha sido aprisionado por outrem. O que pude verificar, porém, nestes países é que esse pretenso "resgate" correspondia antes a uma verdadeira prisão, sendo especialmente sacrificadas as classes mais baixas com cortes violentíssimos nos salários, aumentos brutais de impostos, e tudo isto sem que a desconfiança dos mercados seja minimamente aliviada, pois as taxas de juro mantêm-se a níveis altíssimos. O "resgate" do FMI é um verdadeiro atentado à soberania nacional, como aliás bem se afirmava na Irlanda, onde as pessoas me diziam que estavam a perder o que tinha custado tantos mortos a conseguir. E quer-se lembrar às pessoas a vinda do FMI a Portugal em 1983 para referir que não foi problema. Pois eu lembro-me bem da vinda do FMI em 1983 com o subsídio de Natal retirado através de um imposto extraordinário e retroactivo, e da fome que na altura assolou o país, sendo confrangedora a situação de miséria que víamos atingir cada vez mais pessoas. O que se deve perguntar é que culpa as classes média e baixa tiveram para ter que suportar as medidas de austeridade. Não deveriam ser aqueles que deixaram irresponsavelmente acumular os défices públicos e privados que os deveriam pagar? E disse Passos Coelho ontem que "o País não pode ser tomado pela responsabilização da culpa". Pois eu acho precisamente o contrário: que pode e deve ser tomado por essa responsabilização. É precisamente nas eleições que os políticos devem prestar contas dos seus actos.