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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

A verdadeira quadratura do círculo

 

Pelos sinais de partida dados, é já nítido que esta campanha eleitoral tenderá a ser das mais discursivamente instáveis na história da Democracia portuguesa, desde que os Governos passaram de Provisórios a Constitucionais.

O tempo é demasiado curto para a transmissão dos fundamentos que sustentam as diferentes mensagens-chave; A pressão é fortíssima no sentido da clarificação imediata do discurso programático possível do lado dos partidos. E isto por contraponto à capacidade efectiva de transformação face a um enquadramento impositivo externo - leia-se Europeu e mesmo Mundial – mas também perante o ruído mediático, orientado pelas suas regras de funcionamento para amplificar qualquer acontecimento numa moldura de embate entre os principais protagonistas.

Tudo isto levará a que o eleitorado tenda para ser confrontado com uma comunicação em modelo de “megafone invertido”. Ou seja, que em lugar de amplificar concentrará, como um funil, a quantidade, diversidade e qualidade dos conteúdos potencialmente relevantes num fluxo condensado que fará a papa Cerelac (não Maizena) parecer que detém a consistência de um cozido à Portuguesa.

Dito isto, importa aos responsáveis das diferentes forças políticas regressar àquilo que é a essência do marketing, seja político ou não: Diferenciação e Vantagens, neste caso para o eleitor. A questão, para quem  está saturado/a do   modelo até agora existente, modelo esse  que padece dos sinais evidentes de colapso e doença é a de porquê votar? E, também, porquê, ao votar, fazê-lo num determinado  partido e não em outro.

Nestas eleições, a resposta a estas perguntas será dicotomicamente repartida entre decisões complementares; Subjectivamente, os eleitores votarão em quem lhe transmita confiança para liderar e lidar com as dificuldades que, finalmente, todos interiorizam como evidentes. A somar, material ou objectivamente, o mesmo eleitorado tenderá a dar o seu voto a quem – como Jô Soares dizia há umas décadas – mexer o menos possível no seu bolso.

Entre o subjectivo e o material ou objectivo, a regra de dois imples, o nó górdio destas eleições, resumir-se-á a isto: Quem tem melhores capacidades para ser capaz de inverter o ciclo depressivo que vivemos e fazê-lo sem perdermos ainda mais qualidade de vida?

Ao próximo Governo de Recuperação Nacional, a “maioria silenciosa”, mais a “geração à rasca”, mais os restantes desiludidos do sistema representativo/partidário, os que hesitam em emigrar ou não, a ainda resistente classe média que ficará sem subsídios de férias e Natal, a classe trabalhadora desempregada a cada fábrica que fechará nos próximos meses, a casta dos invisíveis precários nos 'call centers' da vida empurrada para a clandestinidade social, todos pedem apenas uma e a mesma coisa: O E=MC ao quadrado mágico para fugirmos da crise à velocidade o mais aproximada que se consiga da luz.  

Pedem o impossível? É bem provável. Mas quem conseguir aproximar-se desse impossível fazendo perceber que todos vemos hoje em dia o horizonte fugir à medida que caminhamos, será aquele capaz de ser seguido por quem tem vontade e esperança para acompanhar esse percurso.

Todos somos, nos tempos que correm, parte indispensável de uma utopia que se tornou inevitável matéria. De um corpo colectivo que sente o que nos mexe na alma porque toca no nosso futuro e dos que nos estão próximos e amamos.

Não pedimos, nem queremos, nem acreditamos, em messias ou anjos. Apresentem-se eles em ascensão ou em queda. Mas todos precisamos de alguém que nos faça elevar em frente (sim, é mesmo isto que quero dizer), desbravando se preciso for à catanada esta selva para a qual fomos conduzidos, em busca do Eldorado inexistente, desperdiçando as especiarias ou o ouro que existiram pelo caminho.

Esta capacidade de redenção partilhada é a verdadeira quadratura do círculo. A flor possível da vida que nos resta. A diferença entre continuar deste lugar para outro melhor, ou dar por nós no beco sem saída.