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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

A crise europeia e a rebelião dos eleitores

Esta notícia passou de forma discreta, mas só pode ter consequências, incluindo a possibilidade de eleições antecipadas na Alemanha.

E depois há isto, a revelar uma França à beira de um ataque de nervos.

E ainda isto. Que pode ser cruzado com isto. A Espanha prepara-se para uma mudança em grande, mas o PP tem uma fragilidade qualquer e não convence. Os comunistas sobem.

 

Tentando extrair algum sentido destas notícias, parece existir uma espécie de rebelião eleitoral a nível europeu. Os alemães castigam o governo de Angela Merkel (a derrota em Baden-Wurttenberg é maior do que se supunha); em Espanha, vemos os socialistas em queda livre; em França, surge uma insurreição séria, pois mais de metade do eleitorado aceita a Frente Nacional como um partido igual aos outros.

Temos elementos novos: os alemães votam nos verdes e a direita francesa aprecia mais um partido radical do que os conservadores tradicionais.

As respostas habituais já não chegam para reduzir a irritação de muitos europeus.

 

Estamos perante sinais de um declínio irreversível do projecto da União Europeia ou apenas perante um mal-estar passageiro da opinião pública? Tudo indica que este é o terreno fértil para surgir um fenómeno semelhante ao Tea Party americano, que também partiu da irritação difusa em relação aos políticos do sistema.

Na minha opinião, estas notícias resultam da crise e da resposta errada que os governos europeus estão a dar, pois o excesso de austeridade cria insegurança. Será que sou o próximo a ficar no desemprego? Como é que vou pagar as minhas contas? E terei direito a reforma? Se a resposta deles, os políticos, é a do costume, então voto contra.

Em Portugal, há um motivo adicional de zanga eleitoral: o assalto ao aparelho de Estado pela clientela socialista (toda a gente conhece pelo menos uma história), o que introduz o cinismo no eleitorado. É o pote, os tachos, eles são todos iguais, os apelos à abstenção.

 

Os países viveram acima das posses, dizem os peritos, mas isso não aconteceu necessariamente com os cidadãos comuns, sobretudo com aqueles que sempre pagaram os seus impostos e nunca beneficiaram do Estado social (basta não ter ficado doente ou desempregado). Estas pessoas simplesmente não entendem por que razão o mundo financeiro que nos levou à desgraça não participa nos sacrifícios. Mas os "investidores" não especularam na montanha de dívidas? São poupados porquê? Além disso, a receita liberal parece ser inútil neste contexto, pois ignora as ansiedades da população. Estamos a falar de pessoas, não de balanços contabilísticos. 

Muitos americanos que votaram nos candidatos do Tea Party, em Novembro, fizeram estas perguntas. Os eleitores não entendiam a razão das protecções à banca e à grande indústria, ao mesmo tempo que perdiam as suas casas e empregos. A situação na Europa ainda não tem esta gravidade, mas muitos não percebem como é que se vai pagar a dívida sem que os credores percam um tostão. Mas se os bancos também especularam, por que são protegidos?

 

A ausência de esperança e o horizonte de empobrecimento inevitável será o terreno fértil para a demagogia. Também em Portugal. Por isso, desconfio das sondagens onde o centrão surge demasiado grande e os partidos de protesto demasiado pequenos. Não há razão nenhuma para Portugal não traduzir no sentido de voto o profundo descontentamento que existe na opinião pública e que é tão poderoso como aquele que alastra no resto da Europa.

 

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