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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Divisões europeias

O tema foi abordado aqui no Albergue: Luis Menezes Leitão mencionou a questão da soberania, José Adelino Maltez fez uma alusão a Otto von Bismarck. Mas o assunto mereceu um estranho silêncio da maioria dos comentadores da blogosfera, mesmo os mais argutos.

As críticas públicas da chanceler alemã em relação ao chumbo do PEC IV estão na linha de uma nova (e perigosa) tendência que se desenha na UE, a Europa do directório a duas velocidades.

Merkel (e Sarkozy) criticaram violentamente o PSD e o seu líder pelo chumbo e pela crise. Um partido da mesma família política, partido que poderá ser de Governo, é criticado na reunião do PPE e no exterior, embora dê garantias de que cumprirá o que foi acordado entre governos. Aparentemente, estas garantias não chegam.

Dá para perguntar se a decisão do parlamento português não foi definitiva e soberana? Merkel e Sarkozy podem mudá-la?

 

A decisão do parlamento foi má para a Alemanha e a chanceler tem eleições no domingo, com sondagens desastrosas para o parceiro de coligação (FDP) no decisivo estado de Baden-Wurttenberg. Se a eleição correr como dizem as sondagens, Merkel pode ser forçada a mudar de parceiro de coligação.

Assim, a frustração da chanceler com os acontecimentos em Portugal é compreensível. A França é mais difícil de entender, mas Paris aposta tudo na subalternização em relação à Alemanha, única forma de manter algum poder no mundo.

No entanto, e apesar do contexto, foi ultrapassada uma barreira invisível (a segunda em três semanas) quando Angela Merkel criticou a decisão soberana do parlamento português, em vez de criticar no Conselho Europeu o primeiro-ministro José Sócrates. Foi Sócrates quem prometeu algo que não podia cumprir. Ele era o interlocutor da senhora Merkel.

Como explicar as pressões na reunião do PPE? Havia alguma decisão a nível do Partido Popular Europeu?  Há votações no PPE? Portugal vai sofrer castigos? Interrompe-se a democracia portuguesa? Suspendem-se as eleições e volta tudo atrás? 

 

Na anterior cimeira europeia ocorrera outra alteração fundamental, contra o espírito dos tratados da UE: o Conselho Europeu começou a 27, discutiu a situação na Líbia, e depois continuou a 17, só com os membros do euro, para discutir alterações fundamentais no funcionamento da moeda única e da união. O Reino Unido saiu da sala, a Polónia saiu da sala, o próprio titular da presidência saiu da sala. A instituição de um governo económico, a imposição de regras que apontam para harmonização fiscal e leis laborais semelhantes para todos será também para países que ao aderirem ao euro não discutiram a nova ordem.

Esta é já uma Europa a duas velocidades, discutida previamente pelo eixo franco-alemão e depois imposta aos restantes. É também o pesadelo da Alemanha, que não deseja parecer demasiado forte, mas que se permite continuar Conselhos Europeus em reuniões partidárias, interferindo na política interna de outros Estados.

Isto não é José Luis Zapatero a apoiar os seus camaradas socialistas portugueses, participando num comício em Lisboa. É muito mais grave: Merkel e Sarkozy tratam-nos como habitantes do protectorado. Dizem "manda quem pode, obedece quem deve". 

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