Jawöhl, meine Kanzlerin
Seria um erro ver nestas declarações de Angela Merkel qualquer apoio a José Sócrates. O que ela diz é muito mais grave: que não lhe interessa qual o partido a que pertence o Primeiro-Ministro português desde que ele execute as medidas que ela defende. José Sócrates comprometeu-se a aplicar integralmente essas medidas, por isso servia muito bem. Em consequência, foi altamente censurável a decisão do Parlamento português em não dar apoio às medidas que ela determinou. Caberia perguntar à Senhora Merkel se acha que o Primeiro-Ministro português (qualquer que ele seja) não responde perante o Parlamento nacional, da mesma forma que ela responde perante o Bundestag, e se os deputados têm que aceitar acriticamente as propostas do Governo em matérias que são da sua estrita competência.
Destas declarações só se pode assim retirar uma conclusão: que Portugal deixou de ser um Estado soberano. Na verdade, a partir do momento em que um governante de um país estrangeiro se permite censurar uma decisão soberana do Parlamento português, e não é imediatamente objecto de um violento protesto por parte do Governo em funções, tal só pode significar a perda da soberania nacional. Como já se tinha visto com a ida de Sócrates a despacho a Berlim, este Governo transformou Portugal num protectorado alemão. Já não há qualquer espaço de decisão para os órgãos de soberania nacionais traçarem o seu próprio caminho para resolverem a crise. A única coisa que podem fazer é aplicar o Diktat da Senhora Merkel. Por isso, talvez fosse melhor o PSD mandar traduzir isto para alemão.
Acho escandaloso que um país com 800 anos de história receba agora ordens de um governante de um Estado estrangeiro, e fique reduzido a dizer "Jawöhl, meine Kanzlerin". Mas ainda acho mais escandaloso que ninguém no país se indigne com tamanho descaramento. Não haverá por aí alguém entre os nossos políticos disponível para dizer à Senhora Merkel que em Portugal mandam os Portugueses?