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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Cenários radicais

 

  

Defendi neste blogue que eleições democráticas no Egipto (e já agora, na Tunísia) darão com toda a probabilidade a vitória aos islamitas, no caso egípcio a Irmandade Muçulmana e no tunisino o Partido do Renascimento (Ennadha ou al-Nahda).

Nuno Gouveia escreve este artigo sobre os islamitas egípcios e tento entrar em controvérsia por não ser possível comentar o seu post. E o autor cita Robert Kaplan, aqui, como estando a refutar um cenário de vitória islâmica.

Se bem interpretei o texto, Robert Kaplan tenta dizer que não é inevitável um cenário iraniano, o que é diferente de não admitir a vitória islâmica. O autor faz uma comparação com a Europa de Leste, na linha do que também já escrevi, de que a actual crise é comparável à queda do Muro de Berlim, e admite vários cenários, desde transição fácil a guerra civil.

 

Nesta discussão, há elementos incontroversos: o poder eleitoral destes movimentos é importante. De facto, a irmandade não tem líder carismático, mas em vários países do leste europeu a oposição não tinha líderes carismáticos conhecidos no exterior e isso não impediu a transição. Na Tunísia existe um líder carismático, Rachid Ghannouchi, que compara o seu partido ao turco Justiça e Desenvolvimento, AK, que é uma formação democrática. 

No Egipto, em 2005, os candidatos independentes ligados à irmandade elegeram 88 deputados, apesar da chapelada governamental. Na Tunísia, em 1989, com todas as contrariedades do mundo, diz-se que os candidatos independentes ligados ao Ennadha podem ter ultrapassado os 10%. Vinte anos depois, correu muita tinta e estes movimentos ganharam popularidade, não a perderam.

 

Se houver eleições livres, no mínimo os partidos islâmicos terão boas votações. O que não quer dizer que vão imitar o Irão, pois a democracia representa para eles uma vantagem. Parece-me que existe uma confusão em algumas das abordagens que tenho lido: a maioria dos autores acha que a vitória islamita implica o fim da democracia. Mas existe uma leitura alternativa, de que a democracia dará provavelmente lugar à vitória islamita, iniciando uma transição para regimes democráticos onde os islâmicos serão o poder e os seculares estarão na oposição.

Ou seja, o cenário iraniano não é inevitável, mesmo que estes partidos radicais triunfem.

 

Nota: a minha insistência nestes pontos deve-se ao facto de ter feito reportagem na Tunísia e no Egipto. Falei com pessoas do regime e tive a sensação da rua. Em ambos os países tive a impressão nítida de que os islamitas na clandestinidade ou ilegalizados eram muito fortes.

Esta revolução no Egipto tem certa organização, o que implica a presença decisiva da irmandade. É de louvar a forma como eles protegeram o Museu do Cairo, onde estão tantas preciosidades do velho Egipto.

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