Um Monstro difícil de matar
A evidência empírica disponível aponta no sentido de que os programas de ajustamento orçamental centrados em cortes de despesa afectam menos o crescimento económico do que programas de igual magnitude assentes em aumentos de impostos. Adicionalmente, o trabalho empírico de referências mundiais na economia política das instituições, como Alberto Alessina, aponta inquestionavelmente para a existência de maiores dividendos políticos quando se levam a cabo programas assentes na racionalização da dimensão das administrações públicas.
Por consequência, se quisermos viver num país com condições mínimas de viabilidade, teremos de levar a cabo o maior exercício de racionalização do Estado de toda a nossa história. Ainda recentemente, um estudo do Banco de Pagamentos Internacionais do concluiu que para Portugal voltar aos níveis de endividamento de 2007 (rácio de divida em relação ao PIB, não tendo em conta a dívida fora de balanço das PPPs e das empresas públicas cronicamente deficitárias), o saldo primário das administrações públicas teria que ser positivo de 5.7% ao ano nos próximos 5 anos ou de 3.1% ao ano nos próximos 10 anos.
Nunca no passado levamos a cabo semelhante gesta. Mas agora não temos alternativa se queremos evitar que o Monstro gere uma catástrofe de proporções historicamente singulares para nós e para os nossos filhos. É que o Monstro assumiu proporções inimagináveis face ao que Cavaco denunciou em 2000.
sexta-feira no Correio da Manhã.