Novamente o caso Wikileaks
Este caso Wikileaks ameaça tornar-se a machadada final que provocará o descrédito total das instituições portuguesas, sem que o sistema político seja capaz de dar a esta crise a resposta que os cidadãos esperariam. Confirma-se, para quem ainda tivesse dúvidas, que o Governo não diz a verdade ao Parlamento sobre o caso dos voos da CIA, embora já se saiba que amanhã aparecerá com outra enésima versão da história, com a complacência dos deputados, que até se interrogam sobre se têm possibilidade legal de o confrontar sobre a questão. Agora dizem-nos que um Banco português acha que a sua área de actividade é fazer espionagem a favor de um Estado estrangeiro contra outro Estado estrangeiro, não se sabendo o que o regulador pensa dessa inovadora iniciativa. E a procissão ainda vai no adro. Aguardam-se mais telegramas com outras edificantes revelações.
Há quem ache, porém, que o que a Wikileaks anda a fazer não é jornalismo. Resta saber então o que é jornalismo e se não se espera que numa sociedade democrática a verdade seja revelada aos cidadãos para eles poderem decidir conscientemente sobre quem deve merecer o seu voto. Cavaco Silva parece que tranquilizou os americanos sobre Guantanamo, dizendo que Portugal tem "uma imprensa muito suave". Ele lá saberá do que está a falar. Eu acrescentaria que não é só a imprensa que é muito suave. Os reguladores também são muito suaves. O Parlamento é igualmente muito suave e o próprio Presidente da República foi muito suave neste primeiro mandato. Como os portugueses são um povo de brandos costumes, temos suavidade a mais e capacidade de indignação a menos. Não admira por isso que o nosso País tenha chegado ao estado a que chegou.