O Tea Party
Os republicanos venceram as eleições intercalares americanas, conquistando a câmara baixa do Congresso, mas alguns dos seus candidatos a senadores apoiados pelo Tea Party foram derrotados, nomeadamente Sharron Angle (Nevada), Catherine O'Donnell (Delaware) e parece que Joe Miller (Alasca). Os democratas continuarão a controlar o Senado, o que dará a Barack Obama alguma protecção contra iniciativas republicanas, dispensando-o de exercer o poder de veto. E, numa leitura possível, pode dizer-se que o Tea Party terá tirado a maioria aos republicanos, ao perder três estados acessíveis, com divisões no partido e incerteza sobre a plataforma deste movimento.
Por outro lado, sondagens à boca das urnas diziam que 40% do eleitorado se revia no protesto eleitoral do Tea Party.
Julgo que do ponto de vista europeu será necessário fazer uma reflexão sobre o fenómeno. O Tea Party é basicamente um movimento de contestação a impostos, contra o Governo federal e qualquer tipo de rede social ou despesa; é anti-capitalista, isolacionista e anti-imigração. Tem franjas lunáticas, mas raízes genuinamente populares. Como escrevi mais abaixo, é populista e demagógico, e os seus ideólogos dizem barbaridades com a mesma tranquilidade com que bebem uma chávena de chá.
A política americana deverá mudar nos próximos dois anos, embora com esta vitória mitigada seja difícil perceber para onde irá o país. A América será talvez uma nação mais impaciente e dividida; menos interventiva no mundo, apesar de não se poder dar a esse luxo; mais fechada e intolerante; mais desigual. Podemos esperar dois anos de impasse e talvez até de paralisia.
O Tea Party é também um movimento baseado num novo tipo de comunicação. Os media tradicionais deixaram de controlar a sociedade e a fragmentação criou um tipo de especialista que pode transmitir as mensagens mais alucinadas a uma audiência limitada, mas com uma força que os meios tradicionais não tinham.
As milhares de organizações locais funcionam em rede e de forma descentralizada. Parece cacofonia, mas é na realidade um mecanismo inovador, barato e altamente eficaz, embora só possa ser mantido por escasso tempo e para conseguir um determinado efeito com base numa ideia simples. Neste caso, os eleitores querem que os políticos funcionem de outra maneira, querem "mudanças em Washington". E, não tarda muito, acho que vamos começar a ver estas ideias também por aqui, só que em vez de Washington os protestos vão referir Lisboa ou Bruxelas.