Colunistas de esquerda, colunistas de direita, colunistas furta-cores, colunistas sem coluna - todos falam, gritam, berram, imploram, exigem que o PSD "viabilize" um péssimo orçamento, em que ninguém se revê, que rompe os consensos sociais estabelecidos em Portugal nas últimas duas décadas (nomeadamente na questão das deduções fiscais) e com metas macro-económicas que não tardarão a ser ultrapassadas pela realidade, à semelhança do que sucedeu com o orçamento de 2010.
Invocam-se, para o efeito, argumentos de autoridade. Vindos de quem? De eminentes vultos como Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa, Francisco Pinto Balsemão, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Paulo Rangel e o prestigiado economista Miguel Sousa Tavares. Espantosamente, à esquerda há mesmo já quem invoque - na desesperada tentativa de pressionar Pedro Passos Coelho a alinhar com a dupla Sócrates-Teixeira dos Santos - opiniões debitadas por Vasco Pulido Valente, Medina Carreira e Pedro Santana Lopes.
Vale tudo para validar o esbulho. Mas, na perspectiva do PSD, a pergunta que num momento grave como este deve ser feita é simplesmente esta: como agiria Francisco Sá Carneiro se estivesse no lugar de Passos Coelho?
Por mim, não tenho dúvidas: o fundador do PSD sempre preferiu as rupturas aos falsos consensos. Dissessem o que dissessem os eminentes vultos.
Aqui na minha terra dir-se-ia que usa 'óculos de Alcanena': são aquelas palas que se colocam nos olhos dos burros para eles só olharem na direcção que queremos (bastando para isso virar-lhes a cabeça). O que o PS agradece, certamente, é o contributo de 'analistas' e 'comentaristas' como o Pedro Correia. Pegando no seu exemplo da ruptura de Cavaco Silva, basta lembrar que foi eleito no dia 19 de Maio de 1985 e houve eleições legislativas cinco meses e 16 dias depois. Bastava que Passos Coelho o tivesse imitado: tendo sido 'entronizado' no congresso de Mafra em 14 de Março, as eleições legislativas podiam ter acontecido em 30 de Agosto. Perderia o pequeno-almoço e o tango com Sócrates....
Chama burro a quem pensa de maneira diferente. Isso revela uma sólida capacidade argumentativa da sua parte. Digna de um animal feroz. Das imediações do Rato.
O interessante destes 'diálogos' consigo é que o Pedro Correia nunca contesta os argumentos alheios. Fica-se pelos rótulos, pelas 'bocas', pelas insinuações e pelas 'catalogações': quem não o aplaude é, invariavelmente, desqualificado. Isto fica bem patente nos comentários a este seu texto: a todos respondeu, a todos rebaixou, a nenhum contestou a argumentação. No que me toca, primeiro o PS agradece-me. Como não pegou, agora sou do PS... O máximo é esta sua resposta: por que não replica à minha comparação Cavaco/Passos e responde ao que não escrevi? Eu não lhe chamei burro! Disse apenas que o Pedro Correia só via para um lado. E é verdade.
Lembro-lhe cinco tópicos que enuncio nesta mesma caixa de comentários em resposta a outros leitores e aproveito para deixar também aqui.
Aqui vão: 1. O PSD, em 36 anos de história, só teve dois líderes vencedores. Sá Carneiro e Cavaco Silva. 2. Sá Carneiro e Cavaco venceram porque foram homens de rupturas, não de consensos. Nenhum deles advogou o bloco central. Nenhum deles aprovou um orçamento socialista. 3. O actual líder deve inspirar-se nestes modelos internos e em nenhum outro. 4. Tanto Sá Carneiro em 1979 como Cavaco em 1985 tiveram contra eles a agremiação dos comentadores e "analistas", que funciona numa lógica de bloco central, favorecendo sempre os políticos do "consenso". Esta agremiação preferia em 1979 a ASDI, que contava com a bênção do presidente Eanes, e em 1985 apostou em João Salgueiro, o candidato preferido de Mário Soares. Enganou-se, como tantas vezes tem acontecido. 5. É pura desonestidade intelectual estabelecer uma equivalência política e moral entre JS e PPC. Um é primeiro-ministro há quase seis anos, outro nunca esteve no poder.
1. O PSD, em 36 anos de história, só teve dois líderes vencedores. Sá Carneiro e Cavaco Silva. - Mentira. Pinto Balsemão venceu eleições em 1982, Rebelo de Sousa e Marques Mendes também, Durão Barroso igualmente. 2. Sá Carneiro e Cavaco venceram porque foram homens de rupturas, não de consensos. Nenhum deles advogou o bloco central. Nenhum deles aprovou um orçamento socialista. - Já ripostei a este 'dogma': Qualquer deles rompeu muito mais cedo do que você advoga agora para Passos Coelho; e nenhum deles dançou o tango com Mário Soares (apesar das flores no Rato para Cavaco...). Mas, no tempo de Sá Carneiro, o PSD viabilizou, pela abstenção, o primeiro orçamento do governo Soares... 3. O actual líder deve inspirar-se nestes modelos internos e em nenhum outro. - Também já comentei: devia (sublinhado) ter-se inspirado em momento oportuno. Agora, a inspirar-se, que seja na frase de Sá Carneiro que também já citei. 4. Tanto Sá Carneiro em 1979 como Cavaco em 1985 tiveram contra eles a agremiação dos comentadores e "analistas", que funciona numa lógica de bloco central, favorecendo sempre os políticos do "consenso". Esta agremiação preferia em 1979 a ASDI, que contava com a bênção do presidente Eanes, e em 1985 apostou em João Salgueiro, o candidato preferido de Mário Soares. Enganou-se, como tantas vezes tem acontecido. - Exactamente! E como está a acontecer agora: boa parte da 'agremiação dos comentadores e "analistas"' pressiona Passos Coelho para o suicídio do País, numa lógica de 'só eu sei'. 5. É pura desonestidade intelectual estabelecer uma equivalência política e moral entre JS e PPC. Um é primeiro-ministro há quase seis anos, outro nunca esteve no poder. - Pois é... Por isso é que, para demonstrar as diferenças, Passos Coelho não pode fazer o jogo de Sócrates e tem que demonstrar verdadeira dimensão de estadista.
Extraordinário: você não acerta uma. Balsemão abandonou em 1982 a liderança do partido. Mendes e Marcelo nem sequer foram a votos. Durão venceu legislativas sem maioria absoluta, o que o forçou - a ranger os dentes - a formar uma coligação com Paulo Portas e abandonou o poder antes do fim da legislatura, como todos sabemos. Para quem chama mentiroso aos outros, à laia de "argumento", não está mal... Informe-se melhor para evitar passar por ignorante. Reafirmo: em 36 anos, o PSD teve apenas dois líderes vencedores, capazes de conquistar maioria absoluta para o partido em São Bento. Sá Carneiro e Cavaco. Não vale a pena tentar rebater mais nada da sua ladainha. Lamento, mas tenho mais que fazer.