Em Verdade nos diz
O Dr. Pacheco Pereira de quando em vez ressurge para criticar/aconselhar (no caso dele não há distinção entre os dois verbos) a forma como a comunicação social deveria ou não deveria (no caso dele não há um conselho sem a correspondente admoestação) comunicar com as respectivas audiências. É-lhe indiferente que as suas críticas/conselhos (as mediáticas e os político-comunicacionais) tenham contribuido sobremaneira para levar a Drª. Manuela Ferreira Leite a uma derrota escusada nas últimas eleições. Para o Dr. Pacheco Pereira só a Verdade conta. Essa Verdade não comunicável, essa Verdade sem filtros, essa Verdade que deveria chegar por via intravenosa a cada português e cada portuguesa ou, em alternativa, disponibilizando o Ponto/Contraponto no intervalo de cada jogo de futebol como forma de camartelar nas massas o guião que se recusam a entender.
É evidente que o Dr. Pacheco Pereira leu tudo. Ele sabe que o meio é a mensagem. Leu McLuhan e Chomsky, Gramsci e Lipovetsky, os maoistas e os pós-modernos, até os classificados do "Correio da Manhã". Todas estas leituras, no entanto, serviram-lhe apenas para continuar a malhar no mesmo erro: Que o jornalismo é puro por essência, sendo as agências de comunicação o Mal que instrumentaliza jornalistas a soldo de interesses vários. A Verdade, para o Dr. Pacheco Pereira, seria eventualmente o regresso aos tempos em que - segundo contam - ele mesmo telefonava para "O Independente" e as manchetes de sexta-feira estragavam a vida aos ministros do seu próprio partido. Isso, obviamente, não era instrumentalização dos média na óptica do Dr. Pacheco Pereira. Só os consultores das agências, esses Fu-Manchus que opiam o povo com as suas agendas ocultas, são o anátema, o inimigo, o braço armado de qualquer clube de conspiradores obcecado em dominar o mundo.
O PSD não trabalha com nenhuma agência. Nem isso seria necessário para que se entendesse que a fotografia de Pedro Passos Coelho em pose descontraída durante as férias surgida na capa do "Expresso" é uma ilustração natural da proximidade que o líder do PSD quer demonstrar perante o seu eleitorado potencial, por oposição ao distanciamento de José Sócrates, refugiado como um qualquer Cristiano Ronaldo num resort de luxo. Não para Passos Coelho "parecer" que é assim, mas porque é mesmo assim, no seu dia a dia.
Para o Dr. Pacheco Pereira, no entanto, qualquer naturalidade é artificial. Não é possível para ele entender que as capas não sejam fabricadas, que os títulos não sejam encomendados, que os jornalistas não sejam aliciados com sabe-se lá que recompensas futuras por agências invisíveis. Vai-se a ver, o Dr. Pacheco Pereira não concebe a possibilidade de a verdade existir. Não aquela com V em caixa alta que ele ingloriamente defendeu mas a outra. A verdade dos factos, do dia a dia, das coisas como são, do jornalismo como é, da política como tem de ser. Longa vida ao Dr. Pacheco Pereira.