Outra patrulha ideológica
É sempre saudável um bom debate sobre o passado, mas existe uma patrulha ideológica monárquica que tenta criar um mito sobre a I República e a queda da monarquia usando um tom de combate radical.
Este post de José Mendonça da Cruz é quase inacreditável. Não me refiro às opiniões do autor, mas ao que ele tenta fazer passar como factos. Mendonça da Cruz escreve que nenhuma eleição da I República teve 10 mil eleitores. Falso.
Pode argumentar-se, numa polémica, que as eleições republicanas foram menos democráticas do que as da monarquia constitucional; que as eleições para a assembleia constituinte de 1911 teriam um universo de eleitores menor do que as de 28 de Agosto de 1910. Poderá ser recordado que os republicanos ganhavam nas zonas urbanas e perdiam nas rurais devido ao controlo de sindicatos de voto (daí a redução do universo).
Mas nas eleições de 1911 votaram 250 mil homens (chefes de família ou alfabetizados com mais de 21 anos) e a vitória dos republicanos foi esmagadora. O país, na altura, tinha 5 milhões de habitantes, portanto, pouca gente votava, mas eram mais do que 10 mil.
Nas eleições de 28 de Maio de 1911, nos dois círculos de Lisboa, foram eleitos Sebastião de Magalhães Lima (18 853 votos); Afonso Augusto Costa (18 0845 votos); Alexandre Braga (18 104 votos), e por aí fora, até ao 21º eleito, António Machado Santos, com 16 537 votos.
A eleição realizava-se por listas e o somatório das duas votações dá 38 mil eleitores em Lisboa. Deste total, os outros partidos (radicais e socialistas) não chegam a mil votos, pelo que os republicanos somam 37 mil.
As eleições decorreram na maior tranquilidade. Pode dizer-se que milhares de portugueses tinham perdido o direito ao voto, mas também não sabemos em quem teriam votado ou se isso foi mesmo decisivo.