O Glorioso Jantar do Albergue Espanhol
Foi ontem o glorioso jantar do Albergue Espanhol, no clube dos Jornalistas e magnificamente organizada pelo José Aguiar. Foi uma odisseia gastronómica fantástica que motivou a discussão de temas de importância fundamental para o futuro da Nação cujo o pobre estado fora discutido no Parlamento, política, cultura, educação, o dinheiro que existe, o que não existe, a famosa parede, maiorias relativas, absolutas, candidatos à liderança do PS, o futuro do Prof. Cavaco e o Prof.Cavaco no futuro, quem pintaria o retrato de um Manuel Alegre, o BCP, Portas e Sócrates, a sanidade de Sócrates (esta parte da discussão foi rápida), Passos e o PSD.
O “Gravad Lax” com Blinis e chantilly de Limão antecedeu os medalhões de Porco com Camarão e rolo estaladiço de legumes assados, para concluir com Morangos “After Eight” e tudo isto regado com Vale de Lobos – Tejo DOC Branco, 2008 e Fonte das Moças – Estremadura Tinto, 2008. Produtos que confortaram os convivas, como o Adelino Maltez, Menezes Leitão, Luís Naves ou Nogueira Leite e sem esquecer a Maria Inês e a Filipa Martins que tiveram de sair mais cedo para tristeza geral. Se a acutilância do José Aguiar foi notável, o Fernando não ficou atrás em sagacidade ou o Rodrigo em perspicácia. A elegância verbal e física que ficou toda a meu cargo até chegar o Vilallobos, altura em que fiquei com um copo de vinho à frente. Cada um tem o seu lugar e o meu era numa das pontas da mesa.
Terminado o jantar e já de saída do restaurante deu-se um encontro curioso quando uma voz angustiada se fez ouvir do outro lado da estrada: “Olá! Estou aqui! Sou eu o Miguelito!” e não foi sem grande espanto que nos deparámos com a triste visão de uma mão solitária a sair de uma janela gradeada e acenar.
- Mas quem é este semianalfabeto? – Perguntou um de nós.
- Sou eu o Miguel Abrantes, Senhor Professor, gosto tanto de si – respondeu a voz triste – Tirem-me daqui.
- Então não tens a chave dessa chafarica – perguntou um certo maiato.
- Não. Os outros fugiram e fecharam-me aqui dentro com um computador e uma arca cheia de robalos.
- Mas e o Magalhães? – Perguntámos nós.
- Com esse também mas é um chato. Ele pode ficar. Ele gosta disto.
- Mas são só vocês os dois? – Perguntou um certo emigrante húngaro.
- Há por aqui uns espojados pelos cantos mas são pouquinhos e fracos de cabeça.
- Então e tu queres sair porquê?
A voz suspirou.
-Oh meus anjos, eu vim para aqui convencido da bondade do Chefe. Os amigos do Chefe diziam-me que o Chefe gostava muito de mim. Davam-me leite e bolachas, às vezes mel nos dias de festa e vinham em fila para me ajudar a escrever belos textos de apoio ao Chefe. Agora, meus queridos, foram-se embora, não atendem os telefones, alguns já nem falam uns com os outros quanto mais comigo. Sinto-me defraudado.
- Sindroma Carlos Santos – Sentenciou o único tipo bonito do grupo. Eu.
A voz do outro lado começou a choramingar o que motivou um assomo de piedade dum alberguista de nome espanholado que lhe estendeu um lenço. O som de passos interrompeu os queixumes e uma voz nasalada cortou o ar.
- Estás outra vez a falar sozinho biltre?
A voz sobressaltada clamou “Fujam, fujam que se o Magalhães se apanha com companhia nova nunca mais se cala.”
Quando descíamos em direcção aos nossos carros, visivelmente emocionados, ainda ouvimos a voz gritar “Piedade!” enquanto a outra respondia “Grita comigo: Viva o Chefe!”.