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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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O playmobil de João Miguel Tavares

 

Segui com interesse uma polémica recente entre João Miguel Tavares e Pedro Marques Lopes sobre a liberdade dos colunistas, que depois desaguou no blogue Jugular, onde deu origem a esta pérola. A discussão teve contornos políticos que me dispenso de comentar. O que me interessa é a substância da notícia.

Não quero maçar os leitores e tento fazer um resumo da matéria: na tese de João Miguel Tavares, prevalece o direito de quem opina, por exemplo o direito de acusar um político com base num artigo de jornal. O autor de um texto de opinião pode afirmar que o primeiro ministro roubou um playmobil, se ler isso numa notícia, e não tem de provar nada. É inimputável.

Rogério Costa Pereira tentou, e bem, convencer o autor de que isto não é bem assim, mas o colunista insiste: na sua opinião, o jornalista que escreveu o artigo tem de incluir as provas, mas a opinião é livre e por isso quem assina tem direito de flagelar o alvo sem ser incomodado ou exibir qualquer demonstração daquilo que afirma. A liberdade de expressão é mais forte do que a honorabilidade do sujeito atingido.

Sou jornalista e sempre aprendi que as pessoas são, no máximo, suspeitas de crimes, até que a sua culpabilidade seja provada em tribunal. Recentemente, no espanhol ABC, o jornalismo pós-moderno deu origem a uma primeira página lamentável, em que um suspeito de crime sexual aparecia a toda a altura com um título do género "o olhar do monstro". Verificou-se depois que o homem estava inocente. 

O uso de alegado ou presumível não tem a ver com a timidez do jornalista ou o respeitinho pela autoridade, mas com a defesa dos direitos daqueles que não se podem defender. A ética serve para defender os cidadãos e a opinião não é apenas um direito, mas uma responsabilidade.

Um detentor de cargo público que seja acusado de alguma coisa tem de ser tratado como qualquer outro cidadão, embora neste caso haja eventuais responsabilidades políticas que os autores de opinião podem (se o quiserem) explorar nos respectivos textos: exigir a demissão do dirigente político devido a suspeitas é diferente de acusá-lo de um crime de que possa estar inocente. Na vida pública, deve-se estar acima de qualquer suspeita, mas isso depende da consciência de cada um.

Em conclusão, não existe uma ética para jornalistas e outra para colunistas. A opinião exige o mesmo rigor que a notícia e nunca foi coisa de brincadeira.

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