Portugal, SARL. Sociedade anónima, de responsabilidade (muito) limitada
Há uma velha abstracção que não consta das coisas que Deus fez e a que damos o nome de Estado, desde que Maquiavel transformou em substantivo uma certa forma do verbo "estar". Infelizmente, alguns actores políticos, julgando que "l'État c'est moi", continuam a manifestar evidentes tiques de megalomania, sem compreenderem que o tal Estado a que chegámos, herdeiro do Marquês de Pombal, de Fontes Pereira de Melo, Afonso Costa e Oliveira Salazar, é, ao mesmo tempo, pequeno demais para os grandes desafios do nosso tempo e grande demais, para os pequenos problemas da vida, daqueles que deviam caber às verdadeiras decisões de proximidade. Não percebem que a mania das grandezas de um aparelho de Estado nominalmente forte pode ser um manto de fantasia que procura disfarçar os pés de barro de uma república, comunidade ou sociedade enfraquecida, com muita banha, ossos descalcificados e pouco músculo. Porque é mais publicamente Estado, o Estado-Comunidade, ou república, do que o Estado-Aparelho, a que se dava o nome de principado. O persistente cobrador de impostos, que exagera no monopólio da protecção, em nome dos ideologismos, parece-se cada vez mais com uma dessas velhas companhias de seguros que tanto rejeita os conselhos dos actuários como não admite a solidariedade viva das consociações intermediárias, supletivas ou subsidiárias. Até pretende assumir o monopólio do conceito de bem comum, não assumindo que essa síntese da justiça com a ordem tanto já é supra-estadual e transnacional, como também exige a mobilização do público dito infra-estadual, como são as associações profissionais, as autarquias e as próprias regiões. Por mim, prefiro que nos ajudem a pescar e que não nos distribuam apenas peixinhos descongelados, com o ar de fresco, mesmo que lhes chamem investimento público.