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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Biblioteca retira Kurt Vonnegut

O romance de Kurt Vonnegut Slaughterhouse-Five (Matadouro-5) é um dos dois livros retirados da biblioteca de uma escola do Missouri, como se conta aqui. Estranhos tempos, estes. O conteúdo é chocante e as criancinhas não podem ser expostas à linguagem e, suponho, sobretudo às ideias subversivas da obra, cujas personagens parecem andar à deriva num mundo sem sentido.

Este clássico, de difícil tradução, é um dos grandes textos do século XX, pelo menos da literatura americana do século XX. Infelizmente, tem sido confundido com um exemplo de género, no caso de ficção científica, o que talvez tenha limitado o conhecimento do público. Também foi um livro sempre perseguido pela censura do politicamente correcto, o que não admira, pois o seu humor negro é perturbador.

Em Portugal foi publicado numa tradução antiga, mas está fora do mercado. Existe no original (para quem conseguir ler em inglês) em edições baratas.

Vonnegut, que faleceu em 2007, foi um dos grandes escritores americanos. Escreveu contos notáveis e outra obra-prima, Cat's Cradle. As suas críticas à América de George W. Bush, em Um Homem Sem Pátria (ed. Tinta da China) causaram alguma sensação em meados da década passada. 

Rapidinhas a Norte #1

# O Douro Film Harvest de 2011 promete: Abre com a anteestreia mundial do filme "A Morte de Carlos Gardel" adaptado e realizado pela sueca Solveig Nordlum, a partir do livro de António Lobo Antunes e a exibição conta com a presença do actor Ruy de Carvalho e o produtor Luís Galvão Teles. E encerra com a anteestreia nacional do último filme de Woody Allen, "Midnight in Paris". Pelo caminho, uma raridade de Carmen Miranda. Isso e vários momentos especiais. Para saber tudo em primeira mão, segundo a organização, o melhor é seguir a página oficial no facebook.

 

 

# Anda um tipo a escrever uma série de postas sobre o Porto e, passado uns dias, dá de caras com uma polémica absolutamente estúpida sobre as Tripas à Moda do Porto e um concurso de tanga com mais "sete maravilhas", agora gastronómicas (que falta de originalidade, já mete dó esta coisa das maravilhas!). Hoje, quando vi a reportagem da TVI no jornal nacional, corei de vergonha. Que coisa mais pequenina. Por causa de um prato delicioso, andam às turras na praça pública. Sinceramente, o Porto não merece semelhante enxovalho. Em bom português, do Porto, bardamerda!

 

O regresso da doutrina Brejnev?

 

 

Depois das recentes declarações de Jean-Claude Juncker à Focus sustentando que a contrapartida da concessão de ajuda externa seria uma forte limitação da soberania da Grécia, surgem agora estas declarações à Stern do Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, segundo o qual os Estados que no futuro reclamarem ajuda externa deverão ser objecto de sanções mais fortes e terão que ceder parte da sua soberania à União Europeia, já que tal será para eles sempre muito melhor do que a pura e simples expulsão do euro.

 

Tudo parece convergir para uma repetição, a nível da União Europeia, da célebre doutrina Brejnev, segundo a qual todos os Estados membros do bloco socialista teriam a sua soberania limitada, tendo que aceitar a ingerência da União Soviética nos seus assuntos internos e não podendo ser autorizados a abandonar o pacto de Varsóvia, uma vez que as fronteiras internacionais do bloco socialista não poderiam ser alteradas. Agora também os Estados membros da União Europeia que se virem obrigados a recorrer à ajuda externa deixam de ser países soberanos para se tornarem protectorados da própria União, à qual estarão obrigados a ceder a sua soberania para evitarem uma catástrofe económica.

 

Desde a queda do muro de Berlim em 1989 que não se assistia a nada de semelhante na Europa. Estará a União Europeia a caminho de se transformar num novo pacto de Varsóvia? Se assim for, a extraordinária obra de visionários que representou a construção europeia ter-se-á tornado num pesadelo para os Estados membros em dificuldades.

Navegações

Uma excelente ideia, um belo poema.

Notável post de Maria do Rosário Pedreira, a fazer um resumo da situação da literatura.

Carla Quevedo fala aqui do cinismo que se instalou na comunicação social. Concordo inteiramente com o diagnóstico da autora.

Por falar em cinismo, este autor diz que alinha em críticas injustas e não sérias. Ou seja, subscreve eventuais posições arbitrárias ou irracionais sobre o tema; apoia futuras afirmações desonestas e disparatadas, desde que sejam sobre António Nogueira Leite. E eu pergunto: o que se está a passar ao certo na nossa sociedade?

 

Muito interessante, este texto em Ladrões de Bicicletas. No entanto, o autor, Alexandre Abreu, podia ter ido um bocadinho mais longe. Quando conheci pela primeira vez o caso do comércio de caju na Guiné-Bissau, há 13 anos, o negócio baseava-se numa relação de um para um. Por um quilo de caju, os camponeses recebiam um quilo de arroz. No mercado internacional, a proporção era de 1 para 7, pelo que os negociantes tinham lucros fabulosos. Agora, mantendo-se a diferença relativa de preços nos mercados internacionais, para conseguirem um quilo de arroz, os camponeses têm de dar quatro quilos de caju.

O Insurgente diria que é o mercado a funcionar.

 

Entretanto, a seca na África Oriental já afecta 11 milhões de pessoas; há fome generalizada no sul da Somália, onde a ajuda humanitária não pode chegar devido a impedimentos colocados pelas milícias islâmicas. Nas fronteiras, estão a aparecer massas de refugiados e teme-se uma catástrofe. Isto tem a ver com o fracasso da ordem económica mundial e com as mudanças climáticas. E, claro, com a indiferença do resto do planeta.

Salada de blasfémias

Não defendi o fenómeno Wikileaks e sinto-me à vontade para criticar o post de Helena Matos, em Blasfémias, sob o título "A turminha indignada". A autora não compreende a vergonha pública com o caso News of the World (NoW), atribui essa irritação a uma "turminha", maneira a priori de desvalorizar qualquer argumento contra os métodos de Rupert Murdoch. Acha mal? É menino de uma turminha.

A blogosfera está repleta destes truques retóricos e o post de Helena Matos parece resumir muito bem os saltos de lógica tão em voga entre alguns autores que, pela sua seriedade geral, deviam ter mais cuidado.

As primeiras frases do post são reveladoras. Há "surtos de indignação" que levam a ambientes quase "místicos". Alguém que surja a "manifestar dúvidas sobre tanta certeza é imediatamente tratado como um blasfemo". Uma boa definição de blasfemo, diria, mas parece que a autora não leva demasiado a sério o nome do blogue onde escreve. Isto faz parte do debate: colocar objecções a uma tese dominante dá origem a críticas e se a pessoa desvaloriza à partida essas críticas, então está a praticar aquilo que acusa os outros de fazer, ou seja, a falar com excesso de certezas.

 

Mas vamos à substância do post. A autora cita um artigo de Wall Street Journal para lançar a sua tese, esquecendo-se de referir que esta publicação faz parte do universo empresarial de Rupert Murdoch. Ali assume-se uma igualdade entre Wikileaks e as escutas ilegais do NoW, mas a ideia não resiste a 30 segundos de análise.

A organização Wikileaks tem carácter anarquista e pretende denunciar abusos de poder. Não sabemos ao certo quem a financia e de onde vem o seu líder, Julian Assange. A Wikileaks divulgou documentos oficiais sensíveis, nomeadamente correspondência diplomática americana, incluindo telegramas classificados, com efeitos aparentemente péssimos para os interesses dos EUA. Estes documentos foram roubados por terceiros. Não sabemos a quem interessou politicamente o fenómeno, que só é possível porque existe a internet, um território não regulado. Também foi divulgado, para citar um exemplo, o vídeo onde se via o massacre de civis iraquianos filmado por um helicóptero norte-americano. Este incidente (na imagem) foi levado em conta quando foi necessário proceder a uma mudança de estratégia na condução do conflito.

As escutas ilegais do NoW não têm nada a ver com isto. Estamos perante um jornal que espiou sistematicamente cidadãos, incluindo políticos, celebridades e vítimas, um jornal que não cumpriu regras mínimas. Tudo indica que foram cometidos crimes, que a polícia foi subornada, que houve concorrência desleal (o jornal que obtém uma notícia sensacional usando métodos de espionagem está a prejudicar os outros, que cumpriram a lei).

Não consigo encontrar semelhanças. No que se refere ao interesse público das informações, também não há comparação. Wikileaks teve elevado impacto; a doença do filho de Gordon Brown, sinceramente...

 

Não contente em ter misturado alhos com bugalhos, Helena Matos dedica um terço do seu post a escrever sobre a "indignação exótica" dos portugueses, introduzindo um terceiro tema, as escutas ilegais em Portugal, que considera "um adquirido nacional". Não se percebe a relação com os outros dois temas, mas de facto a paranóia existe. Sabe-se que houve escutas no âmbito de processos (algumas destruídas, outras divulgadas parcialmente em jornais), sabe-se que a polícia usa escutas para tentar recolher provas de crimes. O resto são "vulnerabilidades" e "desconfiança". Pode até ser mito urbano. Helena Matos não consegue dizer quem faz as escutas e quem é escutado. São jornais? Polícias sem chefia? Políticos? Detectives privados à solta?

Mas se eu disser que não existe nada, se não partilhar das certezas da autora sobre a existência de escutas ilegais em Portugal, não estarei a dizer uma blasfémia, a contrariar o mito da moda, repetido mil vezes em ambiente quase místico?

Mas imaginemos por um instante que há mesmo escutas ilegais em Portugal. Foram divulgados na net segredos diplomáticos portugueses com base nelas? Então, qual a relação com Wikileaks? Há tablóides a publicar notícias com base nessas escutas? Então, nada tem a ver com o caso NoW. De que fala a autora de blasfémias?

Por falar em Porto...

Como já nem me lembro da última vez que escrevi sobre o Porto, nada como citar o enorme Hélder Pacheco, um catedrático do tema e que, no JN de Sábado, conseguiu com arte e mestria resumir tudo o que penso:

 

“Nós, portuenses, não temos tal problema (a língua): o país unificou-se em torno de um idioma que, moldado às variantes locais, é o mesmo de norte a sul. Mas temos, como dizia o poeta catalão Miguel Marti i Pol, “o espaço de história concreta que nos pertence e um minúsculo território onde vivê-la”.

 

“E este espaço deve ser defendido. Para isso, sem conivências com a hidra centralista, gritemos quem somos e que todos o escutem. Porque numa cidade que tem de se emancipar pela cultura, ciência, conhecimento e afirme a sua matriz, as conivências são ridículas e quase caricatas. Dentro desta linha estão documentários que correm na internet sobre o Porto.

 

Com imagens bairristas, mostram a sua incultura quando, como fundo musical, incluem fados de Lisboa, baladas coimbrãs e outras escolhas alheias à cidade.

(...)

Como é possível afirmar o Porto, por quem não percebe que o que torna as cidades competitivas é sobretudo a diferença relativamente às concorrentes – a sua identidade?

 

Hélder Pacheco, JN de 23 de Julho de 2011 (sem link)

 

 

É isto que pretendo quando escrevo sobre o Porto e, mutatis mutandi, sobre o Norte. O sublinhar da diferença mais não é do que a afirmação identitária de um território. Só assim teremos, ou poderemos ter, regiões ganhadoras. E com isso é Portugal que ganha.

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