Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Cesariny roubado à Isabel Coutinho.
Hoje, no Brasil, vai ser apresentada a edição 2011 do Douro Film Harvest. Primeiro foi o Vinho, depois a paisagem Património da Humanidade e agora é o cinema a promover a região do Douro, o meu amado Douro.
Cada vez acho mais insustentável a situação na Grécia. O Parlamento Grego, por imposição dos seus credores, aprova atento, venerador e obrigado, o plano de austeridade que lhe exigem. Os Presidentes do Conselho e da Comissão Europeia, cujo papel na gestão desta crise ainda ninguém percebeu qual é, apressam-se a saudar o "sentido de responsabilidade" do referido Parlamento Grego. Entretanto, o voto desencadeia uma verdadeira batalha campal nas ruas de Atenas onde até gás lacrimogéneo é atirado sobre os manifestantes.
Mas, apesar de tudo, há boas notícias. A banca mundial fechou em alta, mal foi conhecida a aprovação do plano de austeridade grego e até a Bolsa de Lisboa subiu 2,5%. E até o euro atingiu 1,44 dólares, graças a esta decisão do Parlamento Grego. Parece, portanto, que o Parlamento Grego acaba de prestar um grande serviço à banca europeia, às bolsas e até ao euro. Só os infelizes dos cidadãos gregos, em cujo nome os seus deputados votam, é que provavelmente se irão ver mesmo gregos com o novo plano de austeridade.
Claro que deve. Mas não era suposto a glorificação estar focada na escola?
No mesmo link:
Mas estranho mesmo é que o sempre apurado olho de lince do "Miguel", não tenha feito referência a que o título da notícia seja diferente do que consta no url.
Porque sou liberal, sempre considerei que o estado a que chegámos é, ao mesmo tempo, pequeno demais e grande demais. Pequeno demais para os nossos grandes problemas. Grande demais para os pequenos problemas do quotidiano, quando os poderosos, fracos perante os grandes, se vingam nos pequeninos. Apenas estou a glosar Daniel Bell e a rir-me de certo espectáculo e de alguma retórica do estadão.
A necessidade de desfeudalização, desministerialização e desentorpecimento individual é quase a mesma que a do tempo em que os liberais aboliram a inquisição, extinguiram os serviços feudais, deram direitos às pessoas e libertaram a terra. Até a propriedade já está de novo ensarilhada, sobretudo a propriedade do trabalho.
Porque sou reformista nos métodos e radical nos objectivos, também considero que bastava uma dúzia de decretos à Mouzinho da Silveira para refundar o Estado onde ele faz falta e extingui-lo no que ele é inútil. E somando reforço com abolição, a conta seria bem menos mesada. Por outras palavras, não chega liberalizar, impõe-se a libertação. Até dos chamados liberalizadores de fachada.
Por isso, duvido de palavras à procura de discurso, num espaço de transacção pleno de cláusulas gerais e de conceitos indeterminados. Procurei, assim, alguns exemplos no programa de governo. E reparei que, em quatro das cinco vezes, a palavra corrupção aparece sob os auspícios da palavra "combate", banalizando os dois termos e gerando contradições, porque uma vezes é posta ao nível do combate "a posições dominantes", outras, equiparada "conflitos de interesses", para atingir o seu auge como secção da política desportiva: "erradicar fenómenos como a corrupção, a violência, a dopagem, a intolerância, o racismo e a xenofobia". Da mesma maneira, em dez das catorze vezes em que aparece a palavra universidade, ela é precedida ou está dependente da palavra empresa, nunca rimando com humanismo...
Já a palavra combate aparece 38 vezes... Nação e pátria, nunca. República, só para compromissos internacionais, e uma única vez. Já comunidade tem direito a 26 vezes, mas sem nunca ter o sentido que lhe deu o Infante D. Pedro... Mas, mais do que tudo, a palavra empresa aparece 120 vezes... Por outras palavras, torna-se a medida de todas as coisas.
Mas a melhor forma de reforçarmos o colectivo está na multiplicação de indivíduos autónomos, responsáveis e disponíveis para compreenderem que o nós está dentro do eu, porque o nós precede o eu. Sem indivíduo e sem comunidade não há nada: nem empresa, nem, muito menos, ideia de obra. Não há pessoa que não tenha dentro de si uma dimensão individual e uma dimensão comunitária. Humanismo é isto: gerar manifestações de comunhão e pilotar o futuro, mobilizando o todo, através de cada um.
Aliás, não é apenas por coincidência que os países que estão na dianteira da economia mundial são os que mais investem em humanismo. Comecemos pelas universidades norte-americanas... até em teologia investem! Passemos depois para o Vaticano que, ao que consta, Jesus Cristo era dos que não sabia nada de finanças, da mesma maneira que o Estaline desdenhava as legiões do Vaticano. João Paulo II, o tal humanista, deu-lhes a volta como nós sabemos...foi, aliás, o tal humanismo que derrubou o Muro e inventou essa coisa do capitalismo, com a devida ética protestante.
Não é por acaso que a parte mais fluente do programa, para além do prefácio, ainda em ritmo de "Mudar", está nos negócios estrangeiros; a mais convicta, embora fragmentária, na justiça; e a mais sintética e contida, na defesa dita nacional. Embora a palavra Europa só apareça seis vezes, até na comparação provinciana de, em saúde, alcançarmos "os melhores da Europa".
Os requintes de arte "naïf" que emergem da secção agrícola do programa para uso do Portugal dito profundo contrastam com o sentido técnico consolidado de alguns "clusters" da inovação, da ciência ou da política do mar, embora a parte do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria ainda não atinja o nível republicano do Fomento, ou da geração que nos integrou na EFTA e, consequentemente, na Europa.
Por outras palavras, e em emergência sarcástica, o programa de governo não passa de um programa à procura de autor, apesar de muitos actores embevecidos e dos auditores passivos que o têm de pagar, mesmo que ele, com tantos algoritmos, não esteja minimamente quantificado, até em termos cronográficos e de previsão de planos B, com GPS avariado pelo desaparecimento das condições propícias da balança da Europa! Continuo a preferir o livro "Mudar".