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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Catroga

É uma jogada de alto risco. Eduardo Catroga ao assumir que o governo de Sócrates devia ir a tribunal pelo "fartar vilanagem" colocou a fasquia num ponto de onde já não se percebe caminho de volta. O homem que escreveu as ideias de Passos Coelho acusa o primeiro-ministro e os seus de serem criminosos. Caminho perigoso este - coloca o jogo onde Sócrates mais gosta, tal como fez Ferreira Leite quando perdeu os seus últimos meses a falar de asfixia democrática. Catroga é o senador de que o PSD dispõe, é estimável e competente, mas o português médio gosta de ordem e respeitinho. E mesmo que deteste Sócrates só o troca se lhe apresentarem algo em troca – ele é mau, detestável e tudo o resto, mas alguma alma caridosa mostre que vale a pena agarrarmo-nos a um pretexto que seja.

Subsídio para a alavancagem do Movimento Confrádico Nacional

 

A ler-se na placa, esta Ordem deve ser a Ordem de Malta das Confrarias dos Degustadores, imagino-a o nec plus ultra das organizações confrádicas nacionais. Olhei à volta, curioso, à procura de uns senhores abigodados, necessariamente pançudos, de capas esvoaçantes, capuz & plumas (quem sabe de tricórnio), mas nada, dos soberanos confrades, nem um sinal. O mais provável é terem pegado nuns valentes tintóis e ido de minibus (a soberania da ordem ainda não lhes confere imunidade diplomática em caso de condução alcoolizada – pura teimosia das Necessidades, calculo) fazerem uma visitinha à Senhora Dona Fernanda Dias, Mordomo-Mor da Confraria do Bucho de Arganil ou até mesmo, quem sabe, ao Senhor Major Jorge Caseiro, da Confraria do Arroz e do Mar.

Uma analogia futebolística

O PSD tem obrigação de vencer as próximas eleições, não por causa do PSD, mas por causa do País.

Nunca foi tão urgente derrubar uma situação. O partido que nos levou à bancarrota e à condição de pedintes internacionais, o Partido Socialista de José Sócrates, quer agora escapar à sua responsabilidade. As frases de Eduardo Catroga são "caluniosas" e "inqualificáveis", diz um dirigente socialista. Mas se o país chegou a este ponto, não foi um fartar vilanagem? Desemprego histórico, dívida pública histórica, a duplicar em meia dúzia de anos, o descalabro financeiro nos ministérios, nas autarquias, nas empresas públicas; a incerteza total sobre quem vai pagar as contas, sobre se haverá salário e emprego, mais a humilhação de sermos forçados a engolir um plano de austeridade imposto de fora, sem margem de manobra para quem vencer as eleições. Só nos dão o dinheiro (e por favor) se concordarmos, antes da votação, com tudo o que a troika decidir.

A União Europeia estilhaça o espírito e a letra dos tratados europeus, mas essa é outra história, uma factura que Bruxelas pagará mais tarde.

 

Para já, o essencial é que o País precisa de mudar e é necessário que os cidadãos ignorem a batota mediática. A realidade é torcida para que se pareça com o mundo alternativo que José Sócrates criou nos últimos seis anos e que nos levou a este descalabro. Os comentadores repetem mil vezes meias verdades distorcidas, demonizando a oposição, pegando em detalhes insignificantes para ocultar o essencial, que é o estado calamitoso da economia e o nosso afundamento financeiro.

 

O eleitor deve fazer uma primeira pergunta: "Como é possível que o país esteja nesta situação e de quem é a responsabilidade?"

E a resposta parece-me simples: houve um fartar vilanagem que beneficiou uns quantos, venderam-nos ilusões e governaram-nos mal. No mínimo, o Governo foi incompetente.

A segunda pergunta do eleitor deve ser "quem nos pode tirar do buraco?"

E nessa resposta será necessário escolher entre dois: entre quem nos lançou para lá, os socialistas, ou quem tentou evitar o colapso, a direita. 

Muitos portugueses vão votar nos partidos de protesto, mas julgo que desta vez é melhor para o País que a direita vença as eleições. E, na direita, o partido que pode formar governo estável é o PSD. Será preciso credibilidade, sensatez, mas sobretudo verdade e mudança. Quanto mais fraco for o PSD, mais instável a situação a 6 de Junho.

Quando os media nos distraem com pequenos incidentes estão a tentar enganar-nos. Tentam criar uma ideia de que os políticos são todos iguais, o que é mentira. Tentam demonstrar que um governo de direita seria fraco e inútil, o que é outra mentira. Por vezes, caem em contradição, juntando o argumento da fraqueza ao da destruição do Estado social (eles seriam pouco eficazes e capazes ao mesmo tempo).

 

O que se passa na política portuguesa tem uma analogia futebolística: uma das equipas tenta enervar a outra, derrotando-a com truques de cabaret; os jogadores lançam-se para o chão e fingem-se vítimas de agressões; a força da gravidade é especialmente forte na grande área do adversário; há anti-jogo e falta de ética; no fundo, pouco futebol para mostrar e muito teatro. A certo ponto deixa de haver jogo, só há provocações e picardias, como se diz em futebolês, só há incidências.

Mas o público deve exigir aos jogadores que joguem segundo as regras e aos comentadores que não favoreçam sempre o mesmo, a equipa que faz mais batota e que tem os árbitros do seu lado.

Num jogo de futebol, o resultado é sempre mais ou menos irrelevante. Haverá outra taça, por isso a analogia não funciona totalmente. No confronto político, o que está em jogo é o nosso futuro, o que é bem mais sério. Desta vez, estaremos a votar entre a continuação da nossa ruína e uma pequena esperança de reconstrução.    

 

Um partido sem emenda (6)

«Nós não temos hoje à frente dos dois principais partidos pessoas que tenham capacidade e preparação para enfrentar a crise que temos.»

Pacheco Pereira, quinta-feira, na Quadratura do Círculo (SIC N)

 

«O PSD é um partido sem estratégia.»

Pacheco Pereira, ontem, em entrevista à Antena 1 e reproduzida na RTP

 

Faltam 36 dias para as legislativas.

António Barreto e os monstros

De entre os homens verdadeiramente livres, no sentido cartesiano da expressão, o meu preferido é António Barreto. Conseguiu algo raro: ganhou um espaço político fora dos partidos sem precisar de oferecer pão e circo - a larga maioria das pessoas fica mais baixa e curvada com a idade, mas Barreto parece hoje ainda mais alto, insuportavelmente alto quando por vezes o vemos ao lado de alguma figura de circunstância.

Tudo para chegar à ideia que apresentou num qualquer colóquio. Uma ideia simples que certamente condenaria na sua juventude. E o que defendeu? Que na Constituição passe a ser obrigatório a aprovação por maioria absoluta dos programas de governo. Isso evitaria instabilidade e ruído desnecessário o que face às circunstâncias é uma boa ideia. Como outras que poderiam ser lançadas.

Assusta-me que os nossos homens livres, os melhores entre os melhores no seu caminhar para o fim, estão a condenar a democracia em nome da própria democracia. O valor da estabilidade é mais importante do que o valor do confronto e do combate pelas ideias. Alguns dos nossos melhores pedem consenso, responsabilidade, juizinho, segurança, união. Nessas boas intenções viraram as costas às convicções e abriram uma caixa de Pandora de onde podem sair monstros. António Barreto é um homem livre e que soube o que foi lutar por convicções. Deveria saber que a liberdade é imperfeita e tem um preço.   

Retroactividade

José Sócrates anda a tentar convencer-nos de que a crise não é culpa dele, de que o desgoverno do país nada tem a haver com o PS e de que a culpa de tudo isto não é de quem decide mal, mas sim da oposição que basicamente se opôs a tudo aquilo que Sócrates decidiu para o país. Decisões estas que nos conduziram a este pântano. 

 

Confuso? Nem por isso, Miguel Relvas falou da "política do retrovisor" levada acabo pelo PS nesta pré-campanha. Eu concordo, mas vou mais longe. Gostava era que a política do próximo governo fosse retroactiva, ou seja, servisse para responsabilizar judicialmente aqueles que nos trouxeram até aqui. A culpa, na política, não pode continuar a morrer solteira.

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