Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

É incompreensível tanto amadorismo

 

Ouvi há pouco o ministro da Bancarrota em declarações à TVI. Em sintonia com o chefe, foi incapaz de pedir desculpa aos portugueses pelo défice real das contas públicas, só hoje conhecido: 8,6% - mais 1,3% do que o Governo tinha anunciado, o que constitui um novo marco no longo cadastro de "inverdades" do ainda primeiro-ministro. O País está de tanga, mas o referido entrevistado da TVI, também ministro do Estado a Que Isto Chegou, garante que não moverá um dedo para pedir ajuda externa de emergência, cada vez mais imperiosa e inevitável. A entrevista destinou-se apenas a reafirmar o estilo de galo de briga a que José Sócrates habituou os portugueses: o seu braço direito na desgovernação fez gala em jogar ao braço-de-ferro com o Presidente da República. Motivo? Minutos antes, num discurso ao País, Cavaco Silva sublinhara esta evidência que só o Governo teima em negar: o Executivo "não está impedido de praticar os actos necessários à condução dos destinos do País, tanto no plano interno como no plano externo."

No dia em que também se soube que a dívida pública portuguesa foi revista "em alta", saltando para 92,4%, e que os juros da dívida a cinco anos dispararam para uns inéditos - e inaceitáveis - 9,52%, recordei-me das palavras arrasadoras de António Costa, proferidas há duas semanas, contra o homem que se destaca como o principal rosto da ruína financeira portuguesa: é "incompreensível" tanto "amadorismo".

Ataturk, na guerra contra os gregos, proclamava aos seus homens: "Eu não vos ordeno que ataquem. Ordeno-vos que morram." Por vezes parece que Sócrates ordena o mesmo a alguns dos seus ministros. Com uma diferença assinalável: o líder turco foi capaz de ganhar a guerra.

Pela democratização desta falsa ditadura das finanças, pretensamente sem dor

 

Degradação, ausência de confiança recíproca, momento crítico, situação extremamente grave, agravamento, crise, crispação. Presidente certifica. Mas quase em simultâneo, o ministro das finanças usa o pretérito louvaminheiro e sacode a água do pacote. O Estado não é ele. E nem ele devia ser o governo. O registo notarial da atitude foi patente. Temos de ir além.

 

Os actores políticos já começaram a falar. Quase todos no mais do mesmo. E alguns exageram quando se notam flagrantes distâncias entre aquilo que dizem em propaganda e aquilo que, pela atitude, mostram pensar. Não faltam sequer os que ainda se julgam em reunião do Conselho de Estado, bem como os tradicionais cobardes que se disciplinam apenas para que os chefe os volte a escolher.

 

Depois de um discurso institucionalmente correcto, típico da autolimitação de um presidente feito previsibilidade, o que é menos mau do que emenda sidonista, não estranho a cobardia de certos políticos profissionais, presos nas teias neofeudais do carreirismo. Até a prometida coragem de há dias deu lugar a descarados servilismos. Preferem torcer a quebrar e merecem adequado desprezo.

 

Segundo o ministro das finanças, agora, só o presidente da república tem legitimidade para comprometer o país. Palavras para quê? Por isso é que ele se esqueceu disso, nem sequer o informando, quando fez um acordo com as chamadas autoridades europeias. Chega de contradições!

 

A falsa lógica de ditadura das finanças sem dor, de quem se gaba de poder pegar no telefone e falar directamente ao senhor Trichet, pode ser resiliente, mas esquece que o poder tecnocrático e a negociação de política externa estão totalmente dependentes do pluralismo institucional com que configurámos a democracia. Ponto final. Já chega!

Versão resumida da entrevista de Teixeira dos Santos:

O pior ministro das finanças da Europa, segundo esses maldosos do FT, foi entrevistado na TVI. Para não maçar os leitores, aqui fica a versão resumida da dita:

 

 

TVI - Mas afinal, depois do que foi dito pelo Presidente da República e inúmeros especialistas, o Sr. Ministro vai ou não pedir ajuda?

 

TS - Não!

 

TVI - E o motivo...

 

TS - Não! Eles (a oposição) são os culpados e o Primeiro-ministro já me disse para não mexer nem uma palhinha.

 

TVI - Mas assim o país vai ao charco...

 

TS - É bem feito para eles (oposição) aprenderem!

 

TVI - E o interesse nacional?

 

TS - Desculpe, disse?

 

TVI - O interesse nacional?

 

TS - Isso é o quê?

 

TVI - ??????????????????????

 

TS - Minha senhora, o Jorge já tinha avisado, quem se mete com o PS....

Governo atira fora o bebé junto com a água

A entrevista do ainda ministro de Estado e das Finanças à TVI assume, no meu entender, contornos muito graves. Teixeira dos Santos deu o mote para o que poderá ser uma campanha eleitoral sem nível, onde o próprio Presidente da República não escapa aos ataques do partido que suporta o Governo. "A única entidade que pode assumir compromissos é o Presidente da República", disse o ministro a Judite de Sousa.
 
Falando minutos depois da comunicação do PR, Teixeira dos Santos disse que "este Governo não tem qualquer legitimidade para assumir compromissos". Como é possível uma coisa destas? Isto depois do PR ter dito claramente que o Governo está em gestão mas pode pedir ajuda externa. Se o Presidente pede menos "crispação", o Governo devolve-lhe a sugestão com um ataque desmedido e, na prática, atira-lhe para cima o ónus do pedido de resgate, sabendo muito bem que uma acção dessas não cabe ao chefe do Estado no nosso quadro constitucional. A campanha começou, com o Governo a envolver o Presidente e a colocá-lo como seu alvo preferencial. Não é um bom augúrio.

Incompetência e impudência.

 

O estado a que chegou a nossa governação está (demasiado) bem espelhado em duas notícias que marcaram o dia de hoje:

O rácio da dívida pública ultrapassou os 90% do PIB em 2010 e é o mais elevado desde 1850.

 

O despacho de nomeação de um administrador dos CTT (assinado por um secretário de Estado que tinha tido sociedade com o nomeado) continha dados falsos na nota curricular, atribuindo ao nomeado uma inexistente licenciatura pelo ISEG.

 

Quando a incompetência e a impudência se juntam na condução dos destinos do País, a mudança de governo passa a ser um desígnio nacional. Vassoura neles, sr. Presidente.

Partidarices aparte..

 

 

 

 

Vamos ouvir. 

 

E já agora, paralelamente ao debate na assembleia, gostava, aqui com vocês, de perceber qual é a vossa posição, concepção e solução em matérias de precariedade. 

 

Porque, pessoalmente, é necessário perceber as várias perspectivas de solução que podem surgir.

 

Se quiserem, porque se não quiserem ficamos amigos à mesma!

 

 

Resposta à carta da Irlanda

Querida Irlanda:

Os cavalheiros respondem às cartas e li com apreço a tua missiva "Bit of Friendly advice, Portugal", já aqui publicada. Serve a presente de resposta. Se não te importas, vou usar a forma "tu", que não existe na tua língua. Mas, enfim, já és uma rapariga crescida e conhecemo-nos há mais de seis séculos.

 

Estava aqui a ponderar que nos une o clima húmido, o coração largo, a ocasional nostalgia, o espírito independente. Mas somos os dois azarados. Eu tive um império e larguei pelo mundo fora como uma barata tonta e nunca é fácil regressar à mesquinhez de um rectângulo. No teu caso, foi a fome que alargou os horizontes. Somos ambos provincianos e os europeus acham-nos saloios, mas eles não sabem que aprendemos muito com as dificuldades e temos os dois uma sabedoria antiga. Enfim, nenhum de nós nasceu para servir.

Não me quero meter na tua vida, Irlanda, mas vi uns filmes de John Ford e imagino que sejas rebelde, que não gostas de injustiças, nem de receber ordens. Um vizinho grande deu-te grandes cotoveladas e ao fim dos séculos a gente habitua-se, mas tivemos o mesmo problema, tu com a Inglaterra, eu com a Espanha. Ah, e falas um inglês esquisito que me encanta, por parecer cantado.

 

Obrigado pelo teu conselho de que os meus políticos não querem o resgate financeiro, mas vão ter de o aceitar, provavelmente a um domingo. Já tinha suspeitas de que isso vai mesmo acontecer assim.

Agradeço também os comentários sobre as eleições, embora esta não seja uma "diversão agradável pelas próximas semanas", como dizes, mas falamos mais em meses, pois aqui os prazos constitucionais são terríveis, todos tirados de calhamaços do século passado e desactualizados em relação ao mundo moderno.

Mas as eleições até podem ser úteis, pois aqui a situação é um pouco diferente da tua: eu não tinha um governo de maioria que meteu água e afundou o país; tinha um governo de minoria que meteu água e afundou o país. Agora, preciso de um governo de maioria que possa melhorar um bocadinho a flutuabilidade geral. Assim, o meu é um problema de liquidez, so to speak.

 

Minha querida amiga Irlanda. Tal como acontece comigo, tu não gostas muito da realidade e assim o confessas, embora a realidade possa ter as suas vantagens, sobretudo quando se engole em doses muito pequeninas.

E agradeço quando me aconselhas a gozar as ilusões de que a ajuda externa é mesmo ajuda e de que um salvamento é mesmo salvamento. Será bom iludir-me, por uma vez. Ao fim de 900 anos de existência, já deixei de ter grandes ilusões sobre a bondade dos grandes poderes. Sei que os erros se pagam caro e sei que esta conta é difícil de pagar. Terei de trabalhar como um irlandês (perdão, bad joke) para cavar ainda mais o buraco onde já estou. Vou também pintar a minha economia (como aconselhas) com uma nova camada de tinta fresca e respirar, por breves e satisfatórios momentos, o cheiro da tinta fresca.

Enfim, vemo-nos no Conselho Europeu, e combinamos os dois chatear os alemães e rir à brava, eu a emborcar um tinto e tu uma pint.

E temos também encontro marcado para a final do Euro 2012, depois de eu ter eliminado a Espanha e tu a Inglaterra. Na final, que ganhe o melhor e depois rimos à brava.

Do teu

Portugal

 

Pág. 1/26