Nem tudo foi mau em 2010
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Hoje na Praia do Guincho
O Viegas teve uma ideia diferente. Não me sinto assim em Janeiro mas também não podia, há ali demasiadas coisas que não sou e não saberia ser.
Era uma vez…
Quando eu era miúdo os meus pais levaram-me ao circo. No final, para desgosto de um dos progenitores, informei-os de que tinha detestado. Profundamente. Nasci no seio de uma família que nos habituou a viver/lidar com animais. Entre gatos e cães retirados da rua sem esquecer uma galinha de estimação, a Anastácia, descobri a amizade e o respeito pelos animais. Assistir a um espectáculo onde Leões e outros animais eram (são) domesticados na base do chicote e “ensinados” a fazer palhaçadas para agradar às criancinhas e aos seus progenitores repugnou-me e repugna-me.
Uns bons anos depois, após pedidos lancinantes da famelga, acedi numa visita ao Zoomarine em Albufeira. A sensação ao assistir ao espectáculo foi a mesma que, anos antes, tivera no circo. Para nunca mais. Agora, novamente de férias, numa incursão/excursão à FNAC adquiri o documentário “The Cove – A Baía da Vergonha”, vencedor do Óscar de 2010 (melhor documentário).
É absolutamente fabuloso e a sua visualização deveria ser obrigatória nas disciplinas de Ciências Naturais no ensino preparatório (ainda existe?).
Sabendo que o Algarve é a escolha de férias de muitos portugueses, aproveito para pedir que visionem este documentário e, depois, decidam se vão ou não ao Zoomarine…
Para quem desejar "participar".
Nuno Gouveia, em Cachimbo de Magritte, responde aqui ao meu anterior post sobre a questão africana, no qual tento explicar que o homem branco não tem muita consciência da sua culpa.
Julgo que nesta polémica há duas posições distintas sobre o "continente esquecido", que é uma expressão feliz. Na minha opinião, o neo-colonialismo não pode ajudar África, pelo contrário, prolonga a sua agonia. O que pode ajudar África é a intervenção humanitária como a faz actualmente a Igreja Católica, levando em conta o desenvolvimento económico, a educação e a saúde, mas também o progresso moral das populações. E tudo ao mesmo tempo. Claro que estas missões são uma gota de água no oceano das misérias locais.
O autor de Cachimbo de Magritte escreve a dado passo o seguinte: "Quem poderá comprar os recursos e os bens africanos senão os países ricos? É evidente que uma empresa quando vai comprar os produtos africanos tenta obter o melhor preço. São essas as regras do mercado e não há volta dar".
Eu sou um pouco mais pessimista em relação aos benefícios do mercado, cuja liberdade depende da existência de vários compradores ou de opções de venda diferentes.
Conto uma pequena história da actualidade na Guiné-Bissau que mostra bem estes abismos. Os camponeses trocam caju por arroz. A proporção actual é de um quilo de arroz (o seu alimento principal) por quatro quilos de caju. Há 12 anos era de um para um. No final da década, o custo do arroz no mercado internacional rondava cem dólares por tonelada; o de caju era de 700 dólares. O mercado do caju é monopolístico, controlado por comerciantes indianos que fazem o preço que entendem. A castanha é comestível e da polpa não comestível extrai-se um óleo que serve para lubrificante de electrónica.
O assistencialismo dos países europeus também não poderá mudar a situação. Por vezes é mesmo perverso e um simples negócio. As populações habituam-se à assistência gratuita e deixam de procurar o próprio sustento, ficando dependentes dessa assistência, cujo custo chega a eliminar produtores locais. Seria ainda preciso mudar fronteiras e exigir melhor comportamento aos dirigentes locais, mas cada potência ex-colonial defende os seus interesses e mais nada. De resto, julgo que no essencial estamos de acordo, eu mais pessimista. Deixo aqui votos de bom ano para Nuno Gouveia e para Cachimbo de Magritte.