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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Redes Sociais

Um livro a ler em 2011: "Connected. The Suprising Power of Our Social Networks and How They Shape Our Lives", Nicholas Chistakis and James Fowler. Não sei se já existe uma edição portuguesa (brasileira existe) - a minha é da espanhola Taurus (Madrid).

 

 

tudo a passar de ano

O Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação não podia ter escolhido melhor dia para apresentar o seu Relatório 2010 com estas conclusões.

 

É apenas a confirmação que com as políticas socialistas dos últimos 15 anos o sistema educativo tornou-se numa via rápida com via verde. O que o GAVE vem confirmar, no dia 31 de Dezembro, é que todos passam de ano.

Obrigadinho!

 

 

Faltam palavras

Para quem julgava que a história do orçamento açoreano era o máximo possível (ou o mais baixo, depende do ponto de vista), aconselha-se a leitura disto (sem mais qualificativos: isto). Faltam-me palavras para caracterizar este "gesto"; mas tenho a certeza de que inúmeros beneficiários da segurança social as terão em abundância tal que compensarão o meu silêncio, o meu embaraço e o meu nojo. 

Presidenciais (11)

Parte dos desempregados e pensionistas perdem isenção de taxas moderadoras na saúde - medida que abrangerá igualmente os cônjuges dos reformados com pensões de reforma inferiores ao valor do salário mínimo nacional, até agora isentos daquelas taxas. Pensionistas e desempregados vão passar também a pagar o transporte de ambulância. Tudo isto, como é evidente, agravará ainda mais os efeitos da crise nas bolsas dos mais desfavorecidos. Uma decisão do Governo tomada apenas a três semanas das presidenciais, para facilitar a vida ao recandidato Cavaco Silva contra o candidato oficialmente apoiado pelo PS. Bem pode Manuel Alegre, justamente indignado com esta acção interna de sabotagem à sua campanha, clamar contra a inconstitucionalidade da medida - um claro ataque ao 'estado social' por parte do Executivo socialista. Cavaco, reconfortado pelas sondagens e pelo esforço desenfreado do Governo em divorciar-se ainda mais dos portugueses, só tem motivos para sorrir. E para agradecer a José Sócrates.

Final triste

Esta semana perdi dois amigos. No domingo, a Tisa, aos 45 anos. Agora, o Comandante Azevedo Soares, vítima da mesma doença, aos 69. A despeito da diferença de idades e de, provavelmente, nunca se terem conhecido, eram pessoas muito parecidas: verdadeiras, educadissimas, tolerantes, inteligentes. Vou sentir a sua falta em 2011.

Um triste final de ano

O ano termina de uma maneira muito triste com a morte do Comandante Eduardo Azevedo Soares. Tal como para o Vitor Matos, também foi para mim inesperado o seu falecimento e também, tal como o Vitor, sempre o associei às agradáveis e interessantíssimas conversas que tive com ele na sede do PSD ou sentados à mesa do almoço no "seu" restaurante, o Coelho da Rocha. Conversas em que partilhava histórias do passado mas enquadradas no momento presente, ao qual permanecia sempre atento.

Galante para as senhoras, cavalheiro entre cavalheiros, os inimigos chamavam-lhe "O Cacilheiro" e não eram poucos, dada a sua frontalidade e forma de estar. Mas estou certo de que os amigos foram em muito maior número. Imagino-o com efeito "Um amigo fabuloso" como o diz Marques Mendes, alguém que teve tantas vezes oportunidade de comprová-lo. À família, as minhas profundamente sentidas condolências.  

The Great Portuguese Disaster

 

No The Great American Disaster, ao Marquês, sabemos ao que vamos: hambúrgueres, milkshakes e batatas fritas são constantes do menu. No The Great Portuguese Disaster, à Estrela, já não se servem refeições de jeito e o serviço tem vindo a piorar. Nos mercados olham-nos com desconfiança e já não lhes vendem fiado, por isso o chef de cuisine lá vai enfartando os comensais com as suas maravilhosas confecções culinárias: amuse-bouche de PEC 1 (ácido), entrada fria de PEC 2 (amarga), travessa de PEC 3 (azeda). Estes três pratos transformaram o Petit Palais de Saint-Benoît – em tempos um afamado três estrelas Michelin – numa infame casa-de-pasto. A cozinha é um verdadeiro desastre: à confusão de aventais – que se amontoam, bem sujinhos, por todo o lado – junta-se a falta de higiene política. Ao que consta, o The Great Portuguese Disaster estará já mesmo a cozinhar uma sobremesa de PEC 4 (cáustica), a servir logo nos primeiros tempos do próximo ano. Ali entre a eleição de Cavaco Silva e a chegada dos senhores do FMI. Assim será servida mais uma receita que promete provocar intoxicações alimentares em massa.

A culpa do homem branco (uma polémica)

É sempre um luxo (infelizmente raro) poder manter uma polémica com alguém que escreve um post desta qualidade. Nuno Gouveia, em Cachimbo de Magritte responde a um post meu. Verifico que o autor concorda com alguns dos pontos essenciais do que escrevi e, por isso, vou centrar-me nas duas questões onde julgo haver discordância. Em primeiro lugar, o tema da culpa histórica; em segundo, a questão da democracia em África.

 

Nuno Gouveia começa por associar a questão da culpa do homem branco a correntes neomarxistas, o que julgo não ser exacto. De qualquer maneira, é preciso olhar para a realidade. A colonização de África pelos europeus foi especialmente brutal, talvez por ter sido tardia e na altura do auge ter havido teorias raciais que davam o homem branco como sendo superior. Estas ideias ainda não desapareceram.

Para o autor de Cachimbo de Magritte, "o colonialismo é um facto histórico" e continuar a responsabilizar os europeus pelo atraso estrutural africano é uma forma de "relativismo histórico". Surge também a referência à colonização de outros continentes, mas o argumento parece reforçar o que escrevi, já que a colonização da América foi obtida através do extermínio das populações nativas, destruição de civilizações (Maias e Incas) e exploração da escravatura. A expansão da Rússia foi feita à custa de regiões relativamente vazias. E sempre que enfrentaram Civilizações mais fortes, os europeus tiveram dificuldade em estabelecer o seu domínio, como aconteceu do Egipto ao Japão, áreas onde só no século XVIII se estabeleceu uma verdadeira supremacia europeia.

Do ponto de vista dos nativos que o sofreram na pele, é difícil encontrar efeitos positivos dos impérios europeus, apesar de nos últimos anos do colonialismo em África se ter apostado mais na educação ou medicina.

 

Parece que a réplica ignora um dos pontos cruciais do meu post: aquilo a que se chama vulgarmente neo-colonialismo (já estou a ouvir a crítica da cartilha marxista), no entanto o facto é que não conheço melhor designação. O Nuno pode optar por uma alternativa: chame-lhe desequilíbrio de trocas comerciais, por exemplo.

Penso ser impossível interpretar a África contemporânea sem perceber que a ordem económica mundial se limita a extrair as suas riquezas da forma mais barata possível. Como tentei argumentar, este esquema do neo-imperialismo é bem mais barato do que manter colónias que se podem tornar rebeldes. Nem sequer a África do Sul, onde a elite branca estava no poder, conseguiu escapar a esta lógica. As riquezas minerais, energéticas e agrícolas de África são gigantescas, certamente muito superiores às europeias.

 

Quando se fala em elites corruptas e jugo de ditadores oculta-se a circunstância de não haver elites em África. Os poderes coloniais nunca tiveram interesse em desenvolver elites locais e, quando o tentaram fazer, ocorreu a descolonização. Muitos dos ditadores eram militares de baixa patente em exércitos coloniais ou ex-guerrilheiros das guerras de independência. Todos geralmente pouco letrados. A verdadeira elite angolana, para citar o exemplo do autor, foi cilindrada e sobrevive no exílio ou em silêncio. Um grupo político apropriou-se das riquezas, mas isso é semelhante a muitos dos outros países subsarianos.

 

A última questão tem a ver com a democracia parlamentar de modelo europeu. Por que razão se exige a estes países fragmentados e sem identidade a execução regular de farsas eleitorais? Os ditadores fazem-se eleger pelo povo e passam a ser regimes democráticos, mas todos os cargos lucrativos e os órgãos de segurança são entregues à tribo do vencedor, que recebe uma fatia desproporcionada do bolo económico. Refira-se que este bolo é sobretudo constituído pelas licenças monopolísticas vendidas a europeus extractores de recursos ou a empresas de serviço europeias com bons contactos e que ficam confortavelmente instaladas nos seus lucrativos monopólios (não é preciso investir muito e a infra-estrutura continua péssima). Os chineses vieram entretanto reclamar a sua parte e os americanos também não querem perder as vastas oportunidades disponíveis. Estou a falar de licenças de petróleo ou de extracção de madeira ou de pescas, de minas de urânio ou de ouro. Estou a falar de construção de estradas, palácios, edifícios públicos e barragens, projectos agro-industriais e banca. O preço é sempre baixo porque os líderes gananciosos podem ser derrubados (lembrar, a título de exemplo, o colorido episódio da operação de mercenários na Guiné Equatorial, em 2004).

 

Por tudo isto, tenho dificuldade em acreditar nos faróis de democracia. Até 1993, a Costa do Marfim era um dos melhores exemplos africanos de desenvolvimento. Agora, está à beira da segunda guerra civil.

Pergunta Nuno Gouveia se o "povo africano deve estar condenado a viver sob o jugo de ditadores e elites corruptas que roubam os seus recursos para proveito próprio?".

Preferia responder não, mas julgo que sim, que está condenado, pois é isso mesmo que acontece há 500 anos, ou mais.

   

 

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