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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Carta ao Menino Jesus

 

 

 

 

Querido Menino Jeus,

 

Este ano, por respeito à crise e aos que estão a passar menos bem, mergulhei num período de introspecção e percebi que é injusto vir para aqui pedir bens materiais.

Guarda-os para quem realmente precisa, que nós por cá temos passado bem, graças a Deus.

 

Diz-se que o Natal é o momento de dar e receber. Mas nunca ninguém se lembrou de que pode ser um excelente período para retirar.

 

Ora o que te venho propôr é isso mesmo: que me retires. Concretamente, quatro quilos.

 

Poderás achar a proposta pouco ortodoxa ou quiça afastada dos nobres princípios natalícios mas, se não me ajudares, serei obrigada a lançar-me aos saldos de janeiro e a cometer aquilo que, nos dias que correm, pode ser considerado um pecado capital: a orgia consumista.

 

Não é chantagem, Menino Jesus, jamais me atreveria a tal. É uma mera constatação: ou os quilos desaparecem ou a roupa terá de aumentar um número.

 

Apelo, por isso, ao teu sentido cristão e aguardarei pela noite da consoada para assistir ao milagre de comer filhoses e rabanadas a uma velocidade proporcional à que perco banhas.

 

Por favor não me deixes desamparada. Seria um desastre esqueceres-te do meu pedido e deixares-me, em dia de festa, a rebentar pelas costuras.

 

Deixo-te um xi-coração e a promessa de me portar olimpicamente durante o ano de 2011.

 

Francisca

 

 

Não é a realidade que se engana

Quando o PSD alertou para o tristemente inevitável, a rapaziada do Governo bem tentou dizer que não e tal, apresentando tabelas e quadros em jeito de papas e bolos para enganar os tolos. Felizmente, há cada vez menos tolos. E infelizmente, nem o PSD nem a realidade se enganaram: A taxa de desemprego em Portugal situou-se em Outubro nos 11%, enquanto na Zona Euro subiu para os 10,1%, segundo o Eurostat

“O art. 17.º da nossa infâmia” *

«Os esforços de justificação desta ignomínia ainda são mais reveladores da imensa desconsideração que os responsáveis partidários detêm pela lucidez dos portugueses - tentaram impingir-nos a ínvia fábula que assegurava que caso persistissem os cortes salariais na Caixa aquela rapaziada que para lá foi enviada (ou para outros lugares análogos) como gratificação adquirida por percursos e fretes politiqueiros, debandaria, amuada, para o J.P. Morgan Chase ou para o HSBC, que, claro, os receberiam de braços e bolsas abertas!

Quiseram fazer-nos acreditar que os nossos gestores públicos, na sua maioria, autênticos especialistas em afundar as empresas por onde passam, poderão ser aproveitados por alguma entidade privada em que o mérito prevaleça e que não necessite de "Varices", ou seja dos conúbios insalubres entre decisores públicos e privados.»

 

 

* Ontem, no Jornal de Notícias»

O terceiro poder da península

Quero deixar aqui o meu protesto. No dia do jogo entre Barcelona e Real Madrid, ouvi na rádio cânticos de adeptos catalães a insultarem adversários. O jogo foi marcado por um ambiente fanático que tinha Cristiano Ronaldo e Mourinho como alvos. Qual era o seu crime? O facto de serem portugueses. Qual era o insulto? Português.

A futebolândia tem numerosas situações irracionais. Os mais fanáticos do Porto insultam os benfiquistas e vice-versa, mas nunca vi cânticos dos portistas contra os adversários argentinos ou dos benfiquistas contra os adversários colombianos. Não, aqui há algo de mais complexo. Começou com Luís Figo, lembram-se? O jogador português ousou colocar em dúvida os salários elevados dos seus colegas holandeses e espanhóis, menos influentes na equipa. Quase tombou a catedral da Sagrada Família.

 

Talvez este racismo (estupidez ou sobranceria ou lá o que é) venha ainda de mais longe, do conturbado século XIV, quando os portugueses tentaram fazer uma aliança com os aragoneses, queimando-se da pior maneira.

Há quem imagine que existindo três nações na Península, seria desejável criar um novo equilíbrio, mas as eleições catalãs de domingo também dão que pensar. No fundo, os catalães parecem cansados da sua própria retórica independentista. Os partidos verdadeiramente independentistas são muito minoritários, tendo eleito dez por cento do parlamento catalão. A vitória do maior partido centro-direita, que é federalista, tem sobretudo uma leitura nacional (espanhola) e a vitória esmagadora da CiU de Artur Mas representa acima de tudo a derrota dos socialistas.

No futuro, o partido nacionalista catalão poderá ser crucial para viabilizar um futuro governo do PP em Espanha.  Por enquanto, os catalães apenas querem pagar menos para o poder central e defendem os interesses económicos no conjunto da Espanha, numa crítica à ideia da solidariedade em relação às regiões mais pobres do país. Foi isso que votaram, além da receita tradicional da direita moderada, sem nada de novo. Aliás, à excepção da Grécia e de um estado alemão, as eleições que se realizaram na Europa desde o início da crise traduziram uma viragem à direita dos eleitorados. Foi também isso que aconteceu na Catalunha.

 

Com três poderes na Península, seria lógico que Portugal se aproximasse da Catalunha, para contrabalançar a hegemonia de Madrid na economia, diplomacia ou cultura. O rei D. Fernando I tentou fazer exactamente isso, aproveitando uma guerra civil em Castela e concluindo uma aliança aragonesa. Foi um erro, claro, como seria agora um erro confiar em excesso na ideia duvidosa de que Barcelona funciona como contrapeso ao centralismo de Madrid.

Portugal deve a sua independência ao facto de confiar apenas nas próprias forças.

Como provam os cânticos dos adeptos do Barcelona, não há três poderes na Península, mas apenas dois.  

   

"Olhos nos olhos"

"O primeiro-ministro declarou que vai ouvir empresários, parceiros sociais e, obviamente, os sindicatos. Deve, com efeito, fazê-lo. Mas não só. Não deve perder os contactos com os dirigentes partidários, a começar pelos do PSD, que acabam de lhe dar uma ajuda decisiva".

(...)

"Um Governo que, para ser mais eficaz, deveria ser renovado, ter menos ministros e muito menos secretários de Estado e assessores. Que dê o exemplo de austeridade e da situação de emergência em que estamos. Capaz de dizer a verdade inteira, aos portugueses".

(...)

"Só dizendo a verdade inteira, o Governo pode mobilizar a vontade maioritária dos portugueses. Atrevo-me a sugerir que o primeiro-ministro fale aos portugueses, a todos, olhos nos olhos, sem intermediários, pelas televisões e pelas rádios".

 

Mário Soares, no Diário de Notícias

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