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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

O marasmo nacional

Visto a partir da Europa Central, Portugal é uma pequena anomalia. Um País altamente endividado, com mão-de-obra impreparada e que gastou todo o dinheiro europeu apenas em infra-estruturas necessárias e desnecessárias. País pouco competitivo e que continua atrasado, com um governo (por sinal socialista) que parece incapaz de enfrentar o marasmo. Tem dois terços da população a ocupar um terço do território e uma esquerda especializada em retórica marxista. A intelectualidade repete argumentação típica dos anos 80 e acha todo o mundo exterior provinciano. O sistema político encontra-se paralisado, ou pelo menos assim parece, com os partidos transformados em agências de empregos. Em 35 anos de democracia, nunca como hoje houve tal controlo do poder político sobre negócios, jornalistas e magistrados. Das carreiras aos lucros, tudo depende do bom comportamento. 

 

Em 2008, houve uma crise internacional que deixou à mostra os problemas que já existiam no país: desequilíbrio externo crónico, estagnação económica e crescente fosso entre ricos e pobres.

Mesmo assim, nada mudou de substancial nos últimos dois anos, ao contrário do que aconteceu no resto da Europa, onde houve mudanças importantes. A Alemanha assumiu, de facto, a liderança do continente. Cinco das seis grandes potências da UE têm hoje governos de centro-direita. A sexta, a Espanha, poderá ter eleições na Primavera, com queda provável do governo socialista local. Nos últimos meses, a direita venceu eleições na Bélgica, Holanda, Hungria, República Checa, Eslováquia e Reino Unido. Os partidos da esquerda perderam todas estas eleições. Em 27 Estados, a esquerda está no poder em Chipre, Grécia, Espanha e Portugal.

No leste, a mudança foi brutal: pela primeira vez, o grupo de Visegrad (Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria) tem quatro governos de centro-direita. É preciso não esquecer que este grupo tem os votos da França no Conselho Europeu e que a UE entrou numa fase importante de discussão orçamental, preparando a negociação do próximo pacote de subsídios. Estes países estão em condições de ser os grandes beneficiados, à custa dos países do sul. Além disso, estas sociedades estão em mudança acelerada, com o afastamento quase total dos partidos pós-comunistas que controlaram a transição e permitiram corrupção em larga escala.

 

Os comentadores políticos portugueses ignoram todas estas alterações, ou fingem ignorá-las, discutindo a espuma. Não dizem, por exemplo, que os rigores orçamentais impostos pelos tratados europeus não serão para cumprir apenas nos próximos anos, enquanto estivermos com a corda na garganta. Estas regras serão impostas daqui para o futuro sem qualquer flexibilidade. Ou seja, todas as despesas de hoje são para pagar amanhã e os países que não cumprirem serão confrontados da pior maneira com esse incumprimento.

Enquanto os partidos da esquerda europeia se preparam para mudanças drásticas nas suas plataformas e ideias, a esquerda portuguesa parece metida num estado de sonambulismo, repetindo fórmulas falhadas e prometendo o que não pode prometer. A oposição de direita, por outro lado, parece ter conseguido alguma unidade interna, mas falta-lhe chegar ao eleitorado, o que não conseguirá sem ideias mais claras. Mesmo que consiga isso, ainda terá a hostilidade dos comentadores, além da desconfiança de muitos portugueses descrentes, após uma década de inércia e apatia.

  

 

 

 

 

Um vento sufocante

Era bom que houvesse uma pequena reflexão sobre a qualidade do debate político na blogosfera. O nível de algumas polémicas e o nível dos comentários mostra que chegámos ao grau zero. Quando escrevo um texto que me parece claro sobre um tema simples, logo aparecem ou comentadores ou outros autores que leram coisas bem diferentes daquelas que escrevi.

Ontem, critiquei um autor sobre uma generalização em relação à Imprensa. Chamaram-me controleiro (militantes que o PCP usava para controlar as células do partido) e recebi comentários com pessoas indignadas porque estava a impedir que se criticasse uma notícia ou os jornais. É evidente que a Imprensa portuguesa atravessa uma crise gravíssima, mas essa ninguém discute. A cobertura dos assuntos americanos podia ser melhor, sem dúvida, mas isso implica custos. O que ninguém discute. Ou seja, para alguns, a "qualidade" está desligada do contexto em que o produto surge. A ameaça crescente sobre todo um sector vital para a democracia, isso já é uma banalidade. Enfim, é fácil dizer que a música em Portugal é fraca, sobretudo se a discussão não abranger o financiamento das orquestras e o estado do ensino. Depois, é só dizer mal, até se concluir que a música é tão má que mais vale fechar as instituições, em vez de procurar soluções trabalhosas que permitam melhorá-las.

 

Em Portugal, os intelectuais estão a especializar-se em discussões laterais. Na blogosfera, o esquema está a ser levado a um ponto de caricatura. Veja-se a política. Quais são os grandes problemas do país? Por exemplo, quem foi ou não foi à manifestação contra a lapidação da senhora iraniana condenada à morte. A questão dos ciganos expulsos em França está também a ser dissecada com todo o cuidado em textos inteligentíssimos de quem nada sabe sobre ciganos balcânicos. Recentemente, discutia-se o carácter suburbano do chefe da oposição.

A economia, o desemprego, a estagnação de uma década negra que ameaça prolongar-se mais dez anos? As mentiras sistemáticas do poder? Os truques de pequena política? A ausência dos melhores e a desertificação dos partidos? Falar desses temas é demasiado incómodo. Chuto para canto.

Há um vento de politicamente correcto na blogosfera portuguesa que ameaça transformar-se num verdadeiro sufoco.

Existe outro aspecto, para mim bastante irritante, os grupinhos. Passam o tempo a dar palmadinhas nas costas uns dos outros, a elogiar-se mutuamente, meu amigo para aqui, meu amigo para acolá. Agrupam-se de acordo com cor partidária, mas de forma mais subtil por filiações sociais. Há os que dizem xícara e os que dizem chávena. De vez em quando zangam-se por ninharias. Mas nunca discutem serenamente um assunto difícil.

 

Em caso de desespero, recorra-se à futebolândia, de preferência com argumentação tasqueira em tom de guerra civil.

O padrão é sempre o mesmo, discutir trivialidades, passar ao lado do assunto incómodo. Mais vale escrever sobre temas inócuos. E se alguém incomoda, vamos atacar com comentários. A realidade? Quem quer saber disso? 

 

Nuno Gouveia não desiste

Nuno Gouveia insiste. Quer criticar peças jornalísticas? Pois critique peças jornalísticas. Há mau jornalismo? Há.

Agora, bem diferente, é a generalização que faz no seu post. Mas leu todas as peças que foram escritas sobre a concentração do Tea Party? Parece que não leu. Então, de onde vem a sua generalização sobre os jornais portugueses e o alegado enviesamento ideológico dos jornais portugueses? É que se tivesse lido a minha peça no DN não chegava às conclusões a que chegou.

 

Depois, é irritante ver como os criticados se defendem das críticas às suas críticas: sou controleiro, está tudo explicado. Sabe o que é um controleiro? Faço-lhe um desconto e admito que não saiba. Porque, para mim, é ofensa.

 

A blogosfera anda tonta! Isto está insuportável! Então, não o posso criticar? (*****) Era só o que faltava!

 

Então, o senhor põe o meu emprego em perigo e não o posso criticar? E não se defenda a dizer que o cito mal. Está lá escrito o seguinte: "Graças a Deus que já não estamos limitados à imprensa nacional para seguirmos a actualidade internacional. É muito raro prestar atenção ao que  escrevem os jornalistas portugueses (com uma ou outra honrosa excepção) sobre os Estados Unidos. Os nossos jornalistas não descrevem a realidade: eles são uns meros transmissores de uma certa América, funcionando como ideólogos que transformam peças noticiosas em artigos de opinião. Por isso não vale muito a pena ligar ao que escrevem".

 

O seu post é um ataque à liberdade porque põe em causa os jornais portugueses e o jornalismo que se faz no país. Não há jornalistas bons, só há ideólogos a enganar o público. Para quê, então, comprar jornais, se tudo é tão mau? Enfim, nesta lógica, qualquer dia não haverá jornais em Portugal porque há autores como Nuno Gouveia a papaguearem a ideia mítica de que tudo é péssimo nos jornais portugueses, onde as notícias não passam de opinião ideologicamente enviesada. E as pessoas que não sabem inglês, vão ler o quê? E quando já não houver jornais portugueses? Então é que vai ser bom, seremos muito mais livres.

 

 

 

O amigo do Glenn

Sempre achei graça a estes espíritos superiores que "graças a Deus" já não têm de ler só jornais portugueses. Que felicidade! Como é que a Pátria chegou a 2010?

Estas pessoas sabem tão bem quem é o Glenn Beck, ainda por cima conhecem tudo sobre o Tea Party, são pessoas tão bem informadas, que só se interessam por literatura americana e até conhecem o 56º melhor escritor americano e o 99º melhor cronista dos states. Português, isso é fatela, amigo. Visão portuguesa do mundo? Ah, isso não temos. Uma pessoa culta cita de cor os americanos, é tu-cá-tu-lá com o Glenn.

 

Mas eu acho que um dia estas ideias inteligentes e politicamente correctas, estes mitos repetidos mil vezes, vão conseguir acabar com os jornais portugueses.

Então, sim, vai ser a liberdade, com as notícias todas fresquinhas sobre o Glenn.

 

O autor critica o jornalismo onde parece que só critica uma notícia. Mas sem jornais, não há liberdade de expressão, por isso o post é um ataque à própria liberdade, embora Nuno Gouveia não o perceba. E pergunto-me se o autor do post leu todos os jornais portugueses onde se escreveu sobre a matéria que ele critica. Receio bem que não tenha lido.

 

a selecção é que a eles devia renunciar

Depois de Deco e Simão, agora Paulo Ferreira. Todos anunciaram a sua renúncia à Selecção Nacional.

 

Desculpem qualquer coisa, mas este é aquele tipo de notícias que me tiram sempre do sério. Bem sei que a Federação não tem gerido a reputação (sua e da selecção) da melhor forma, mas isto de renunciar à “equipa de todos nós” soa-me sempre a renunciar à Pátria. E é por isso que eu, que nunca fui jogador de futebol e tenho 34 anos, assumo que jamais renunciarei à selecção!

 

Se terminassem a sua carreira e, por inerência, não mais jogariam na selecção era uma coisa, mas abdicarem do orgulho (espero que saibam o que isto quer dizer) de vestir a camisola da selecção e continuarem a sua carreira num qualquer clube é gozar, não com a selecção, mas com os seus compatriotas.

 

Num cinema perto de si

"Norma (Cameron Diaz) e Arthur Lewis (James Marsden) formam um casal comum a viver nos subúrbios com o seu filho pequeno. Um dia são abordados por um homem desfigurado, que lhes faz uma estranha proposta: numa determinada caixa há um botão que, se carregado, lhes dá imediatamente 1 milhão de dólares mas que, simultaneamente, tira a vida a uma pessoa. O homem dá-lhes 24 horas para decidirem, mas eles cedo descobrem que perderam completamente o controlo sobre tudo, inclusivamente sobre as suas vidas." O filme chama-se "The Box"; eu não vi nem conto ir ver, mas já li o livro: chama-se "O Mandarim" e foi escrito há mais de cem anos por um tal de José Maria Eça de Queirós.

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