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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Em defesa do espírito crítico

Quero fazer a defesa do jornalista. O génio do jornalista é humilde porque tem um enorme espírito crítico e tem, além disso, uma enorme pretensão. Digamos que pretende dar às pessoas coordenadas de que elas precisam para serem livres e se autogovernarem. E esta é a fonte da sua humildade. O jornalista critica-se a si mesmo e critica os factos. E os outros. Tem a consciência livre, isto é, despida de toda e qualquer vaidade. A falta de liberdade de expressão não é problema que resolva sozinho, mas luta com energia para ganhar e manter a liberdade de espírito. A sua finalidade é contar a verdade de que as pessoas precisam, e lhes cabe em justiça. Ao contrário do soberbo, que vê todos os acontecimentos numa perspectiva exclusivamente subjectiva, o jornalista maravilha-se com a imensidade de um facto. O medo e a inércia não são paixões que o dominem, mas é atacado por eles. Quando tem crises de convicção é o seu trabalho que entra em crise. E por arrasto entra em crise a cultura. Quando foi comprado pelo negócio do entretenimento e da comunicação classificaram o seu trabalho no ramo das Actividades Subsidiárias dos Grandes Grupos Empresariais. Aí o espírito crítico agradeceu habitar o génio do jornalista.


 

Dar a outra face

A propósito do que aqui escrevi, é bom lembrar que existe a outra face da moeda. Há dias vi José Manuel Mostre, da SIC, a dar uma lição aos jornalistas que andam a matar o jornalismo. Em directo, o José Manuel entrevistava um relutante João Cunha e Silva, vice-presidente do Governo Regional da Madeira. Esquivo, o delfim de Alberto João Jardim recusava-se a responder às perguntas - maioritariamente sobre a questão dos seguros e o tipo de indemnizações a que os afectados poderiam ou não ter direito - e o jornalista não o largou. Mesmo quando a emissão foi interrompida por questões técnicas. De volta ao Funchal, lá estava José Manuel Mestre a insistir na pergunta e a encurralar o delfim, que de facto não tem, nem de perto nem de longe, a sabedoria de Jardim. A isto chama-se jornalismo de serviço público. Mesmo quando é feito numa estação privada.

Adivinha

 

 

 

 

Noutro dia almoçava em Cascais com um grupo de amigos de sempre. Todos votantes no PSD ou no CDS e todos com imenso desprezo pela classe política. Bom, acham, os laranjinhas, que Cavaco não pertence à classe política. Dizem, os populares, que mesmo assim o Paulo é de outra cepa.  A conversa, a certa altura, virou-se para a comparação entre Rangel, que consideram unanimemente um predestinado a mudar o país, porque sim, e Passos, que consideram igual a Sócrates, porque sim, também.

Deixo a esses amigos (sim, verdadeiros amigos, alguns até condiscipulos durante muitos anos) e a quem mais quiser tentar, uma adivinha. Abaixo estão 2 respostas, uma de Rangel e outra de Passos, a questões sobre o Orçamento e que posição assumir face ao PS. Quem é Passos e que é Rangel?  Vá lá, adivinhem...

 

Candidato A

 

              O Orçamento para este ano não convenceu muita gente.

- Apesar de tudo é um caso conjuntural. Mas já é um caso negativo. Acho que foi um sinal de eleitoralismo, porque o Governo queria eleições antes das presidenciais. Não sei se depois deste caso TVI/PT quer.

Concordou com a abstenção, apesar de tudo?

- Concordei. Não devia estar ligado a nada do que lá está. Mas por uma questão de responsabilidade concordei. Mas no PEC já não se pode andar a brincar. Estamos a falar de um plano a médio prazo. E, por isso, as grandes obras devem ser suspensas. Se não forem não é um documento credível. E aí o PSD deve ser intransigente.

Se não for o PSD consigo não o assume?

- Temos de esperar para ver.

 

 

Candidato B

 

Se já fosse líder do PSD, teria viabilizado, em nome do combate à crise, este Orçamento?

 

Este Orçamento como está não serve ao País.

 

 

Mas a minha pergunta é muito directa: teria viabilizado, ou o PSD chumbaria este Orçamento?

Eu tive ocasião de dizer que, se fosse líder do PSD quando se iniciou esta discussão, teria dito que não aceitava viabilizar este Orçamento sem duas condições. Primeira: sem que o Governo aceitasse suspender to-das as decisões que tinha tomado quanto a grandes obras públicas até elas poderem ser reavaliadas, porque são encargos que não se reflectem neste Orçamento mas que se vão reflectir nos 30 orçamentos dos 30 anos subsequentes a este e, em segundo lugar, sem haver um compromisso claro da parte do Governo de ter um Orçamento de combate à crise, que é como quem diz, de diminuição séria da despesa pública, mas já no ano de 2010!

 

Votaria contra, portanto?

 

Em consciência votaria contra, porque eu não posso, em nome de uma qualquer estabilidade, de uma paz podre para o País, viabilizar um Orçamento que sei que é um mau Orçamento.

é simples, quem é o A (o conciliador)  e quem é o B (o que confronta)?

da Selecção Natural do Sol (sem recurso a escutas)

 

 
Em Agosto de 2008, publicámos nesta coluna um artigo em que referíamos que “o funcionamento do mercado de arrendamento de habitação constituía um dos melhores exemplos de como uma má ”regulação” do mercado podia provocar efeitos negativos muito para além do que se poderia inicialmente imaginar.”
 
Na verdade, logo na altura referimos que a regulação violenta desse mercado (e também do mercado de arrendamento de espaços comerciais) foi inicialmente o da intenção “caridosa” de salvaguardar os interesses dos mais fracos do poder dos mais fortes, entendendo-se que caberia ao Estado proteger os “pobres” (os inquilinos) condicionando administrativamente a capacidade dos “ricos” (os senhorios) na sua relação comercial com os primeiros. Esta abordagem esqueceu não só que  não se deve promover a redistribuição de rendimentos por via da intervenção administrativa em mercados como, por outro lado, não havia equivalência entre as classes de rendimento e a situação concreta dos agentes no mercado em causa. 
 
            Os resultados são conhecidos: os centros do Porto e de Lisboa estão despovoados e degradados, as gerações subsequentes aos arrendatários originais foram empurradas para as periferias e para a compra de casa (esperando muitos ainda o acesso pleno à condição de proprietários uma vez que, na verdade, têm os seus activos colateralizados junto de instituições de crédito). Também prejudicou os senhorios prejudicados por via congelamento inicial dos preços (distorção nunca corrigida). Aqueles acabaram, muitas vezes, numa situação de incapacidade de fazer face às despesas de manutenção dos activos para além da clara falha na perspectiva original de rendimentos que pudessem ter, em particular face ao valor do investimento inicial. 
 
            Entre os beneficiários líquidos da medida encontram-se os inquilinos “premiados” pelos congelamentos, muitos dos quais nunca deveriam ter sido favorecidos uma vez que, função do seu rendimento e património deveriam ter sido antes contribuintes líquidos. Fortemente beneficiados também foram toda a turba de “patos bravos” e empreiteiros que promoveram a expansão das grandes cidades para fora do seu centro e que, imagino, não tivessem estado entre as preocupações do legislador original e até de alguns dos que se lhe seguiram.
 
            Só que os “patos bravos” e empreiteiros não agiram sozinhos. Não podiam sequer agir sozinhos, pois não detinham o capital necessário à criação das selvas urbanas e suburbanas em que se transformaram as cercanias de Lisboa e Porto enquanto os respectivos centros se desertificaram. Foram ajudados pela banca, pública e privada, que em Portugal sempre mostrou vocação especial para o financiamento do betão e do cimento e, sobretudo, pela classe política e pelas suas muito curtas vistas e más escolhas de políticas públicas.
 
            De facto, os mesmos políticos que não foram capazes de alterar de facto a iníqua e ineficiente lei do arrendamento urbano (ou simplesmente não o quiseram fazer) estimularam fortemente a criação das periferias que conhecemos. Ao ponto de terem usado o dinheiro dos contribuintes para criar a aparentemente inocente figura dos juros bonificados aos jovens para compra de habitação própria no inicio dos anos 90, que Pina Moura tentou reduzir fortemente em 2000, tendo sido de imediato obrigado a recuar e que só Durão Barroso consegui finalmente eliminar.  Para além do enorme nível de fraude que se registou com toda a espécie de “chico-espertismos” em que os portugueses são exímios, essa medida, não só ajudou à “consolidação” da situação que conhecemos como se traduziu, em termos líquidos e agregados, por mais uma das razões pela qual temos o défice externo que temos.
 
            Ou seja, a situação a que chegamos de dependência do crédito externo à economia não vem de agora. Vem de há muito—manifesta-se de forma visível desde a última metade da década de 90—e  da conjugação de muitas políticas como as duas de que falamos neste artigo (a lei do arrendamento e o subsidio público à compra de habitação). Porventura muito bem-intencionadas e muito interessantes para alguma banca e para alguns construtores. Mas erradas. E um ónus para todos nós!
 
Publicado na coluna Selecção Natural do SOL

Todos os nomes

 

A força de uma candidatura à liderança também se mede pelo número de subscritores que a endossam. Porque a adesão a essa candidatura exclui a viabilização de qualquer outra. Além de que nenhum candidato se quer ficar pelo número mínimo, em cima do fecho do prazo. Do Conselho de Jurisdição Nacional espera-se nada menos do que uma verificação exaustiva de todos os nomes e a eliminação de militantes duplicados. Com o sindicato de recolha de assinaturas em marcha, a atenção deve ser redobrada.

Passador-Geral da República

Bruáás que circulam à boca pequena, no chiqueiro por detrás do buraco da fechadura, dão a entender que circulam por aí documentos, digitalizados em formato pdf, aparente e alegadamente provenientes do Gabinete do Procurador-Geral da República. Os mesmos bruáás juram a pés juntos, e sem figas, que parte desta imagem é um print screen de um desses documentos. É totalmente falso que assim seja. Repudia-se, pois, de forma veemente, que esta imagem seja retirada de um desses documentos e considera-se uma ignomínia da mais baixa extracção moral que se pondere, sequer, pensar isso.

boa sorte para ler as letras miudinhas

Marcelo, PSL e o quarto candidato

A entrevista de Pedro Santana Lopes ao semanário Sol tem algumas pérolas que convém ir registando, porque marcam o regresso do enfant terrible do PSD - ou do PPD/PSD, como sempre preferiu dizer. "Acredito que haja mais um candidato", diz Santana Lopes, sem especificar. Eu também acredito que apareça um quarto candidato e não estou propriamente a pensar no Castanheira Barros.

 

Marcelo Rebelo de Sousa pode ser esse quarto candidato, se quiser. O professor, ao contrário de Aguiar-Branco e de Rangel, beneficia com o facto de haver outras três candidaturas. Ou seja, teria mais dificuldades e mais pruridos em entrar na corrida mano a mano com Passos Coelho e esse problema deixou de existir com o avanço fracticida dos  dois rivais do Porto. Até ao fim, provavelmente até ao dia do congresso extraordinário ou ao fecho das candidaturas às directas, Marcelo vai debater-se com o seu velho dilema.

 

O antigo presidente do PSD sabe que desta vez, a avançar, tem sérias possibilidades de ir a votos em legislativas e de se tornar primeiro-ministro, o seu velho sonho de infância. É isso que alimenta o apetite aos outros três candidatos. O apelo de Belém está, para já, adiado sine die, enquanto Cavaco Silva mantiver o tabu da recandidatura. Nesse campo, Marcelo só terá de se precaver com o regresso a Lisboa de Durão Barroso, daqui a cinco anos. Por isso, terá de estar activo até à sucessão de Cavaco. Na política activa ou na televisão.

 

Outra nota a registar na entrevista de Santana Lopes é a sua análise sombria da situação interna do partido. "O PSD não é um partido, é uma casa de ódios", diz Santana. Se juntarmos a isto a notícia do diário i, que adianta que o ex-líder está de volta e vai partir a loiça ao congresso, podendo até voltar a ameaçar com a retirada, temos o filme completo.

 

Como já disse aqui antes, o congresso de Mafra parece-se cada vez mais com o de Viseu, em Fevereiro de 2000. Três candidatos assumidos (na altura Barroso, Santana e Marques Mendes) e um outsider a discutir ideias (na altura Paulo Teixeira Pinto). Na altura, Santana chegou a esse congresso depois de várias notícias que o davam como estando de saída e a preparar um novo partido - que se poderia chamar PSL, Partido Social Liberal - e acabou por ficar para herdar o poder (podre) da mão de Barroso.

Voyeurismo de Estado

A calamidade que se abateu sobre a Madeira tem dado direito a directos de todas as televisões, que mobilizaram para a região autónoma muitos dos seus meios técnicos e humanos. Num desses directos, vi uma reportagem da estação pública numa cantina militar onde estavam dezenas e dezenas de desalojados. Comiam desolados, pobres homens, mulheres e crianças. Sem casa, com as vidas arrasadas pelo temporal. E a estação pública entrevistava-os, pedia-lhes pormenores sobre o grau das suas perdas, enquanto mostrava as caras e a câmara circulava alegremente pela sala. Como se se tratasse do programa de variedades da manhã. Até que uma mulher virou a cara e escondeu o rosto. Disse não aos voyeurs da desgraça alheia. Era para isto que a ERC devia servir.

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