Estão a passar-se
Há uns ódios no PSD que me deixam estarrecido. Leiam este texto de Maria João Marques, em O Insurgente. Pedro Passos Coelho (PPC) ainda nem tomou posse da sua vitória democrática e já se escrevem coisas destas. A votação deu origem a um resultado que é "coisa funesta", o passismo, caracterizado pelo "cinismo", a "deslealdade" e a "inconsistência". Os comentadores anti-passistas, como Maria João Marques, são alvo de "insultos" e "ameaças". Eles não insultam nem ameaçam ninguém, nunca o fizeram, são apenas vítimas da incompreensão geral.
Nestas eleições internas, Rangel ganhou "nas zonas nobres". Supõe-se que perdeu onde imperou o "aparelhismo" e o "caciquismo". PPC teria perdido contra Marcelo, como é evidente. Maria João Marques apenas reconhece, generosa, que PPC, um futuro "tiranete socrático", foi "além dos votos sindicados". Veja-se a clara natureza de ataque pessoal. Não existe neste texto uma linha sobre política.
Para além do insulto a todos os militantes do PSD, que são certamente uns idiotas, este texto revela uma estranha incompreensão da realidade. Do ponto de vista de um militante do PSD, o que devia estar a ser escrito era que o partido perdeu as últimas eleições legislativas e que o PS e José Sócrates estão no poder há cinco anos a cometer erros. O partido tem obrigação de vencer as próximas eleições e os erros de governação não devem ser repetidos.
Um militante do PSD que goste do seu partido deverá tentar perceber porque é que PPC venceu com quase dois terços do voto interno. Poderá tentar dar conselhos ao novo líder, dar-lhe a oportunidade de mostrar o que vale e criticá-lo pelos erros que vier a cometer. Mas parece descabelado atacar um líder que nem sequer tomou posse. É tonto desvalorizar toda a sua equipa antes dela existir.
Este texto revela que há membros do PSD que não perceberam nada do que sucedeu. Havia uma estratégia de federar a direita através da conquista do partido, mas esta falhou. Os militantes rejeitaram esse caminho de transformar o PSD num grande CDS ou numa espécie de PP espanhol. O partido social-democrata não é de direita e a frustração dos conservadores está a dificultar a luta contra o PS. É, objectivamente, o melhor apoio que Sócrates podia desejar.
Isto leva-me a outra questão muito interessante. Os órgãos de comunicação têm tradicionalmente comentadores da área do PSD mas, pela primeira vez, acontecerá algo de bizarro: serão quase todos hostis à direcção eleita. Este fenómeno verifica-se também na blogosfera, onde os blogues que se afirmavam do PSD estão a virar à direita a grande velocidade, preparando-se para dizer de Passos Coelho aquilo que os maometanos não dizem da carne de porco.