Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Ter o bolo e comê-lo

O tema que escolhi para hoje não me vai tornar popular, muito pelo contrário. Vai certamente gerar toda a série de má-criações a que quem anda por estas bandas da bloga se sujeita. Trata-se do salário do CEO da EDP, António Mexia, de quem sou amigo desde que me conheço. Mas não se trata de uma defesa de amigos, trata-se apenas de reavivar a memória de alguns e contribuir (modestamente, como se impõe) para a clareza de raciocínio de outros. Independentemente do que me seja conveniente defender, é isto que entendo vale a pena recordar:

 

Em primeiro lugar, convém relembrar que a relação de António Mexia com a EDP é, antes de mais, de natureza contratual. De um contrato que não é a expressão jurídica de um diktat de António Mexia ao órgão competente da empresa (a comissão de remunerações). Eu sei que no contexto presente ninguém quer colocar a questão neste plano: o da execução de um contrato livremente aceite entre as partes. E este regime remuneratório, como qual Mexia naturalmente concordou, não foi invenção sua ou objecto de negociação com a tutela, mas antes a resolução de um órgão dotado de poderes para tanto, de acordo com as melhores práticas de governance corporativa. Os bem-pensantes da “governança corporativa” e os próprios reguladores e outros agentes de mercado esperam que os contratos se cumpram, não que caiam através de uma berraria criada nos media e coadjuvada pelos políticos e opinadores do costume.

 

Acresce que, muitos dos que agora acham que contratos firmados devem ser letra morta neste extraordinário Estado de Direito, porque dá politicamente jeito bater em António Mexia ou porque gostariam de estar na posição de António Mexia, deixaram de poder em consciência dizer muito do que agora dizem quando não contestaram a colocação no mercado dos seus antigos monopólios. É que tem que ser o Estado a jogar pelas regras do mercado e não o mercado a adaptar-se às conveniências do Estado.  Se querem ver os ex-monopólios públicos como entidades do Estado então devolvam o dinheiro aos investidores e tornem-nos públicos de novo, como pedem Louçã e Sousa.  É que aqui tem de haver um critério: tal como digo lá em casa à pequenada, não se pode é ter o bolo e comê-lo.

 

Um país em que os políticos navegam ao sabor dos casos desenvolvidos na imprensa, tratando dos assuntos das empresas cotadas como se fossem os assuntos de repartições públicas, sem se preocupar com os efeitos colaterais na economia, não progride, não avança.  Parafraseando António Guterres mais uma vez mostrámos algo em que somos exímios: na associação da inveja com a mediocridade.

2 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Pedro Caseiro 07.04.2010 14:41

    Mas é imoral porquê?

    O salário é a recompensa pelo trabalho efectuado, pela produtividade de cada pessoa, pelo menos em teoria. Se o salário do CEO da RTP (que não sei quanto é) fosse 3 milhões, tudo bem, provavelmente até concordava consigo... É que a RTP não dá 1000 milhões de lucro.

    Quem tem de decidir os salários dos gestores são os Accionistas. O gestor é um empregado como outro qualquer. Repare: contratar um cientista que vá dar 100M lucro/ano por 3M/ano é um negócio do outro mundo. Pagar 100M mais ordenados por Cristiano Ronaldo ou pagar os estratosféricos salários de alguns futebolistas como Messi dá imenso lucro. Ninguém se importa com isso.

    Com os gestores é exactamente a mesma coisa. Repare, o que é que prefere: pagar o que paga ao actual administrador da TAP (que não estou a dizer que seja mau ou que tenha culpa na actual condição da empresa) e ter o prejuízo que a TAP vai ter (5M salvo erro) ou pagar 1M € a mais de salário a outro gestor que consiga pôr a empresa em break-even ou até a dar lucro?

    Percebo que a discrepância seja enorme, mas isso não deveria ser um problema. As pessoas têm de ser recompensadas pelas suas capacidades, ou então... Emigram. Para países onde sejam recompensadas por essas capacidades.

    O problema dos salários baixos em Portugal não está na comparação com os altos, está nos motivos que levam os trabalhadores a não serem suficientemente produtivos para que as empresas lhes possam pagar salários mais altos. A baixa educação (ou, em alguns casos, educação superior pouco exigente), a vontade de (não) trabalhar, etc...
    Em Portugal rege a mentalidade de que não é preciso saber uma série de coisas. "Sou Professor de Matemática, não tenho de saber escrever sem erros" ou "Sou enfermeiro, porque raios tenho de saber mutiplicar"? Não estou dizer que no desempenho das suas funções específicas estas pessoas tenham de saber isto, mas o que não me cabe na cabeça é que o nosso sistema seja permissivo ao ponto de permitir que estas pessoas cheguem ao Ensino Superior sem saberem escrever. Ou multiplicar.

    Nem todos somos bons. Nem todos fomos talhados para a mesma coisa. Somos o único país do mundo em que parece que ser bom é crime.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.