Algures na Europa
Em menos de duas semanas pode acontecer algo de inédito em democracias europeias: os conservadores húngaros do Fidesz, que estiveram no poder entre 1998 e 2002, preparam-se para uma votação que lhes dará maioria de dois terços no parlamento. Não me lembro de algo semelhante acontecer num país da UE sem sistema uninominal puro. As sondagens dão ao Fidesz de Viktor Órban (na foto) 55% dos votos, contra 12% dos socialistas (no poder) e 10% para o Jobbik, formação ultranacionalista. Dado o sistema húngaro misto, em duas voltas, com listas nacionais e círculos uninominais, a vitória será esmagadora. E só estes três partidos terão o mínimo de 5% para entrar no parlamento.
A derrota socialista explica-se por oito anos de mentiras, demagogia, erros, corrupção, favorecimento na apropriação dos lugares públicos e controlo da comunicação. Os húngaros vão cilindrar os pós-comunistas e afastá-los do poder. É uma alteração histórica.
O Jobbik (a palavra mistura grande e direita) é um fenómeno menos compreensível: anti-semita e ultra-nacionalista, este partido tem uma franja lunática, mas também dirigentes com passado comunista. Será esta uma provocação meio folclórica para tirar a maioria ao Fidesz e assustar os mercados? Ou um partido útil para dominar noticiários estrangeiros? Não sei, mas o fenómeno é bizarro. Para citar um exemplo, eles usam as bandeiras da Grande Hungria medieval, de barras horizontais brancas e vermelhas, para assustar os vizinhos. E misturam-se nas manifestações do Fidesz.
Quando Órban vencer as eleições, toda a gente vai escrever sobre o Jobbik, apesar da maioria de dois terços não permitir à ultradireita qualquer participação nas decisões. Esta informação incompleta já é visível. Mas julgo que a eleição na Hungria tem de ser lida à luz de um padrão cada vez mais evidente na Europa Central: o pós-comunismo acabou e os sistemas emergentes não terão a metade de eleitorado à esquerda que existe nas democracias parlamentares no Ocidente.
