A culpa não é minha, foram aqueles meninos
Tantos anos nisto e ainda descubro notícias que me irritam. Não é incomodar. É mesmo ter vontade de enrolar o jornal e reciclá-lo em alguém.
Para começar, ao ler o título do SOL, não percebo o que têm a ver os não nomeados consultores de imagem com a falhada prestação de Paulo Rangel num debate televisivo. Um consultor de imagem - como por exemplo a experiente e profissionalíssima Xana Guerra que tanto lidou com a aparência de políticos como dos Gato Fedorento - tem como missão melhorar a imagem (lá está) externa do candidato sem nunca, de preferência, o fazer contra aquilo que é o seu modo de ser natural. Apenas recomenda adereços e técnicas adequadas à pessoa em concreto.
Seja como for, não é isso que está aqui em causa. Mencionasse o título "consultores de comunicação" ou "assessores de imprensa" e iria dar ao mesmo. O que decorre da notícia é um despudorado lavar de mãos e de toda a responsabilidade sobre a derrota no debate televisivo, à custa de profissionais. Não sei quem são, mas um deles poderia ser eu.
E este rolar de cabeças desculpabilizante, esta atitude que diz "fiz o que mandaram e a culpa foi deles" revela uma falta de personalidade e de capacidade decisória.
O papel de um líder implica ouvir os seus diferentes consultores, avaliar os prós e os contras e decidir em conformidade. Uma vez decidido, a responsabilidade é de quem manda. Matar o mensageiro não melhora a mensagem. Culpar o "consultor de imagem" só faz com que ela fique ainda mais desfocada.