Polémica com Blasfémias
O autor de Blasfémias Rui a. acha triste a minha mentalidade, parcialmente responsável pela pobreza do País.
Na blogosfera portuguesa corre uma tese que atribui aos empresários nacionais qualidades acima do vulgar. São geralmente os mesmos autores que lamentam a forma como a economia portuguesa se tornou dependente do Estado. O blogue Blasfémias está na vanguarda de uma corrente de opinião liberal que atribui grande parte dos problemas portugueses ao excesso de intervenção estatal. No entanto, de vez em quando, escreve-se no mesmo blogue que os empresários portugueses são uma maravilha.
Se Rui a. quer ser coerente, terá de admitir que os empresários nacionais têm beneficiado de elevados padrões de subsídio-dependência. Por exemplo, dependência dos subsídios europeus. Estará o autor disposto a reduzir de forma drástica as ajudas de Estado de que as empresas têm beneficiado?
Os empresários portugueses não beneficaram apenas de subsídios pagos com dinheiro do contribuinte. Tiveram acesso a poder político, o que se traduziu em contratos de Estado, negócios com empresas do Estado, etc. Quando numa economia, o Estado controla metade, é óbvio que apenas as muito pequenas empresas podem viver sem ele. Tudo isto gera lucros e enriquece os proprietários.
Por outro lado, nos sacrifícios, os empresários já parecem ser dispensáveis. O raciocínio é o seguinte: não sei o que é um rico, não disponho aqui de uma definição exacta, logo, dispenso-o de uma taxa adicional sobre os seus rendimentos. Depois, são enumerados vários argumentos técnicos muito sensatos.
Como afirmei no post anterior, isto é uma injustiça política. A teoria é bonita, mas pouco prática. Não é possível continuar a pedir mais sacrifícios aos portugueses, sem os pedir a todos os portugueses, nomeadamente aos que podem pagar. E também é evidente que os ricos têm de pagar mais do que os pobres, pois muitos destes já estão no limiar da fome.
Querem a TSU mais baixa? Então participem.
Querem subsídios? Então, participem no esforço. Por exemplo, não compreendo como pode haver subsídios europeus e nacionais para grupos que abusam dos off-shore. Mas essa é outra conversa.
O buraco nas contas públicas terá de ser pago, e não é com receitas extraordinárias. O ajustamento do próximo ano será bem mais difícil do que estava previsto no memorando da troika, pois os 1,8 mil milhões de euros de défice adicional passam para o ano seguinte e só serão cobertos este ano por receitas extraordinárias que penalizam fortemente a classe média. Chama-se a isto empurrar com a barriga, cortesia do anterior governo socialista (socialistas que agora sacodem olimpicamente a água do capote).
O que me espanta é o facto de parte da direita também não ter percebido a dimensão do problema e continuar a defender teses como a de Rui a. Taxar os ricos só vai dar 100 milhões? Dá 200? Pois, faça-se na mesma, e por razões de equidade ou simbólicas ou o que queiram. Desta vez, não serão apenas os do costume a pagar, aqueles que não podem fintar o fisco e que têm mostrado grande bom senso em aceitar os sacrifícios que nos são impostos pela ajuda externa.
Bom senso que os ricos parecem achar dispensável, quando lhes toca a vez.