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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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A polémica dos impostos para os ricos

Não se trata de querer acabar com eles, como se escreve aqui. Há certamente argumentos técnicos impecáveis para zurzir na ideia de taxar os ricos. Mas esta é uma questão política. Se eu faço sacrifícios, se a classe média está a fazer sacrifícios, se os mais pobres estão a fazer sacrifícios, não posso compreender a razão dos milionários ficarem fora do aperto de cinto. Ah, claro, faltava esta: não se sabe o que é um rico. Depois de passar a vontade de rir, julgo ser adequado dizer que um rico é uma pessoa com dinheiro e que tem mil maneiras legais de fugir ao pagamento de impostos, não dando o mesmo contributo que um pobre para os sacrifícios que temos de fazer.

Já estou a ouvir o argumento seguinte: pois é, se agora foge, no futuro ainda vai fugir mais. Mas isto não é uma questão técnica, é política. Cabe-nos condenar o raciocínio da boleia social. Não podemos respeitar empresários cujo único talento é o de saberem esmifrar o trabalho e depois evadirem o pagamento da sua parte justa. Não admira, pois, que Portugal seja um país desigual e, portanto, mais pobre do que podia ser.

 

Nos últimos anos, o cidadão comum perdeu entre 10% e 20% do seu rendimento real, tendo em conta inflação, estagnação de salários, desemprego de uma parte, os aumentos de impostos. Mas as festas dos ricos continuam esplendorosas e ostentatórias. Se eu empobreci 10% desde o início desta crise, ou talvez mais, não percebo a razão para os milionários não poderem fazer um ajustamento na mesma proporção (não estou a falar das perdas virtuais em bolsa). E sou favorável a uma taxa Tobin que ajude a financiar ou aumente o orçamento da União Europeia.

Arranje-se maneira de aplicar um imposto que abranja património, acções, carros e vivendas. Salários milionários ou lucros pessoais em bolsa. Os milionários alemães e suecos pagam impostos em taxas elevadas e estes países são bastante igualitários, com elevada qualidade de vida para todos.

Portugal é um dos países europeus com maiores diferenças de rendimento e os argumentos da blogosfera do centro-direita ou da liberal mais dogmática não são compreensíveis. Que eles vão fugir com o dinheiro para as ilhas Caimão (mas levam o palacete e o Rolls?), que ficam sem incentivo para criar novas maneiras de fazer dinheiro, que isto é tudo populismo do tempo da dona carlota joaquina. Tadinhos dos milionários, tão sacrificados! Aumento de impostos, que escândalo!

Os exemplos citados podem ser comoventes, mas não convencem nenhum dos suspeitos do costume, aqueles que pagam a factura desta crise, os que pagaram as crises anteriores, os que pagarão as do futuro, sempre os mesmos.

Aos autores que ainda não compreenderam a natureza desta discussão, faço o seguinte apelo: saiam das torres de marfim, por favor.

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