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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

O fanatismo em estado puro.

 

Se Anders Behring Breivik pertencesse a uma minoria étnica ou religiosa provavelmente os membros dessa minoria estariam agora em maus lençóis, alvo da fúria irracional dos noruegueses. Como afinal é claramente nórdico e cristão luterano, os noruegueses interrogam-se como foi possível existir entre o seu próprio povo alguém capaz de tão grande barbaridade. Agora começam a surgir notícias falando sobre os inúmeros alvos estrangeiros que Breivik tinha, onde nem sequer escapavam os traidores portugueses, suspeitos de simpatias islâmicas. Mas o que é especialmente significativo é que, apesar de tanto ódio aos estrangeiros, foram precisamente cidadãos do seu próprio povo que Breivik decidiu massacrar. Na verdade, nenhum povo está imune a que surjam fanáticos entre os seus membros e o que os caracteriza é a total ausência de racionalidade, quer nos seus comportamentos, quer na escolha das suas vítimas.

 

Nesse âmbito, recordo-me de um magnífico ensaio de Amos Oz, Contra o fanatismo, em que o autor escreve o seguinte: "A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar. Nessa tendência tão comum de melhorar o vizinho, de corrigir a esposa, de fazer o filho engenheiro ou de endireitar o irmão, em vez de deixá-los ser. O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros do que em si próprio. Quer salvar a nossa alma, redimir-nos. Livrar-nos do pecado, do erro, do tabaco, da nossa fé ou da nossa carência de fé. Quer melhorar os nossos hábitos alimentares, ou curar-nos do alcoolismo e do hábito de votar. O fanático morre de amores pelo outro. Das duas uma: ou nos deita os braços ao pescoço porque nos ama de verdade ou se atira à nossa garganta em caso de sermos irrecuperáveis. Em qualquer caso, topograficamente falando, deitar os braços ao pescoço ou atirar-se à garganta é quase o mesmo gesto. De uma maneira ou de outra, o fanático está mais interessado no outro do que em si mesmo, pela simples razão de que tem um mesmo bastante exíguo ou mesmo nenhum mesmo".

 

O que mais me preocupa é que a resposta a estes bárbaros ataques de fanáticos possa passar pelo incremento de medidas securitárias, com evidente prejuízo das liberdades individuais. Porque a liberdade indvidual representa precisamente aquilo que os fanáticos mais odeiam. O sacrifício da mesma será assim sempre uma vitória do fanatismo sobre a sociedade livre e justa que temos vindo a construir.

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