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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Polémica com O insurgente

Quanto li o título deste post de Miguel Botelho Moniz (MBM), pensei em não responder. Ao ler o texto, percebi que se trata de um título muito infeliz para um post que merece resposta, pois há ali equívocos que convém esclarecer e um tema importante que seria útil discutir. Vou ignorar os remoques da falta de limpeza, das carapuças e do não pensar.

Na blogosfera há polémicas de um género que me irrita, que consiste em ocupar o terreno favorável, num patamar mais elevado, e dali debitar doutrina e lavar rabinho a meninos. Estamos, portanto, no primeiro equívoco. Sou acusado de ter tentado fazer o que sempre critiquei.

O autor de O Insurgente pensa que a minha frase "as pessoas bem informadas sabem..." presumia alguma ignorância da sua parte, quando fazia exactamente o inverso. Reconheço que fui pouco claro, mas este argumento era central na minha posição: se o autor sabe, então por que escreve o que escreve?

Há um segundo equívoco. Começo o meu texto por referir um facto: Pedro Passos Coelho foi objecto de ataques sem razão aparente (e ainda é); não afirmei que o autor critica por preconceito, daí que seja inútil o esclarecimento "não aprecio que me atribuam intenções ou preconceitos que não tenho", já que não lhe foi atribuído nenhum preconceito, apenas uma crítica sem razão aparente. MBM devia ter escrito: "Não aprecio que me atribuam ataques sem razão aparente".

O final do meu texto é de facto uma ironia, forma que aprecio, sabendo embora que os portugueses costumam detestar. A intenção não foi, obviamente, a de ofender.

 

Podemos agora entrar no sumo da questão, onde existe uma divergência política que seria útil discutir. O autor de O Insurgente julga ser legitimo e lógico fazer críticas ao actual governo durante o estado de graça, nomeadamente por causa de uma decisão que diz respeito ao subsídio de Natal dos portugueses, definida como "facilitista". Eu penso que até para a oposição isso é prematuro. Na realidade, não vejo qualquer utilidade neste tipo de ataque por parte do centro-direita ou mesmo do centro-esquerda. Custa-me compreender críticas a uma decisão cujas consequências não são ainda perceptíveis, a não ser que o autor tenha conhecimentos sobre as consequências.

A decisão resulta de uma emergência e não indica qualquer padrão na actuação do governo. Portugal tem de cumprir o objectivo do défice de 5,9% do PIB. Saberemos no início do próximo ano se a taxa resultou: se o défice for de 6%, tratou-se de uma má decisão; se for de 5,9%, estaremos perante uma boa decisão. E o autor do post não refere que esta medida cria receita mas também corta na despesa.

Também para mim é duro pagar, naturalmente; pelas minhas contas, a minha parte é de quase mil euros, que me fazem falta, mas reservo a crítica ou elogio para o início do próximo ano. Se o meu sacrifício for inútil ou desproporcionado, terei então amplas oportunidades para censurar o governo, por isso continuo a não perceber a crítica de MBM a duas semanas da entrada em funções, sendo isso o que estamos a discutir, mais a blindagem do discurso (quem critica o crítico é corporativo, um não argumento).

No post em que responde ao meu texto, MBM começa a certo ponto a explicar-me que simpatiza com o CDS, o que me leva a presumir (talvez erradamente) que no seu texto inicial o autor estava a criticar a parte CDS do governo... [não se ofenda, isto também era ironia].