O cancro que mudou a minha vida
Dentro de dias é posto à venda o meu primeiro livro.
São setenta crónicas escritas entre Janeiro e Abril de 2009 para o Rádio Clube durante os tratamentos que fiz antes de uma operação para remover um tumor no recto.
O cancro que mudou a minha vida
Esta é a minha última crónica da sala de espera.
Estou a escassos dias da minha operação.
Estou a muito pouco tempo de me livrar disto, espero eu, para
sempre.
Vou ter tratamentos de quimioterapia no futuro, mas agora já
com o objectivo de eliminar riscos de um regresso da doença.
E não podia terminar estas crónicas sem dizer aqui uma coisa.
Quero que saibam que este cancro mudou a minha vida para sempre;
e mudou-a para melhor.
Porque senti algo que nunca sentira antes.
Senti o afecto, um enorme afecto por parte das pessoas que me
ouviram, que me escreveram, que choraram por mim.
Isso fez de mim um homem melhor.
Escrevi todas estas crónicas aprendendo a ser esse homem melhor.
E senti também, como jornalista, que este é o meu lugar. O jornalismo
é a minha casa. Gosto de olhar o mundo e de o contar.
Contar histórias de homens e de mulheres que sofrem, como eu
sofri, levando-nos todos a sentir que não estamos sós, que somos
uma família de gente que passou, que passa pelas mesmas coisas.
As mesmas dores, as mesmas angústias, os mesmos abandonos,
mas também as mesmas explosões de amor.
Algumas vindas de onde e de quem nada esperava.
E isso foi bom.
Isso fez da minha vida uma vida melhor!
Um dia, um médico meu amigo disse-me que, por vezes, é o próprio
destino que se encarrega de nos mudar a vida quando nós não
somos capazes de o fazer sozinhos.
Há alguns meses, sentia essa incapacidade de mudar.
Até que me diagnosticaram este cancro.
Mas hoje é esse cancro que tem os dias contados, não eu.
Regresso em Maio, meus queridos ouvintes do Rádio Clube Português.
É o mês dos meus anos, o mês em que vim a este mundo, a esta
vida que adoro, para a viver junto das pessoas que também adoro.
Gente junto de quem gosto de me sentir e estar a seu lado.
Mas também gente, como você que me ouve agora, e que não conheço:
os ouvintes do Rádio Clube Português, que me têm dito
e escrito: «Pedro sinto-me como se fosse da sua família.»
É tão bom sentir isso, não imaginam…
E não imaginam como isso muda a vida de uma pessoa.
A terminar…
Daqui envio também um grande e forte abraço a todos os meus
colegas do Rádio Clube Português, com a promessa de voltar em
Maio.
Um Maio de amores, como na canção do Zeca Afonso: «Maio,
Maduro Maio».