RTP, RTP Porto e RTPN
Um amigo meu, jornalista da RTP, poucos dias depois das eleições legislativas, convidou-me para almoçar. Durante o repasto, defendeu que a privatização da RTP era um erro e que, segundo ele, facilmente se consegue diminuir 100 milhões ao passivo anual da RTP sem mexer na qualidade do produto e sem sangue. Até posso acreditar, ele conhece bem melhor a RTP do que eu. Porém, a minha questão não é essa.
Ou seja, continuo a ter muitas dúvidas que valha a pena ter uma RTP1, uma Antena 1 e uma Antena 3 no sector público de comunicação. Sobretudo quando olho para os actuais produtos (programações) e respectivos custos/benefícios. Depois, outro problema: a RTP Porto. Não consigo perceber duas coisas muito simples: segundo um estudo, se a memória não me falha, do tempo de Almerindo Marques, produzir na RTP Porto era bem mais barato que produzir através de Lisboa, sem perdas de qualidade. Se olharmos com a devida atenção para algumas das principais caras da informação da RTP e dos canais privados verificamos que boa parte deles e delas tiveram na RTP Porto a sua grande escola. Contudo, nos últimos tempos, a RTP Porto foi abandonada. Que programas continuam a ser produzidos pela RTP Porto? Ora verifiquem, se faz favor. Mesmo sem se assistir a uma redução dos seus quadros e custos.
Depois, vejam o que aconteceu, recentemente, à RTPN. Uma vez mais, a RTP Porto foi, perdoem a expressão, decapitada e tudo passou a ser gerido por e via RTP Lisboa. Se assim é, pergunto: para que serve a RTP Porto?
Francamente, não consigo compreender e custa-me aceitar não só este desbaratar de dinheiros públicos como esta estratégia de desvalorização da RTP Porto. Existe, pelo menos assim parece, uma vontade forte de matar a RTP Porto, algo que não se percebe. Obviamente, o Porto Canal e os seus investidores, sobretudo aqueles que a partir do próximo dia 1 de Julho tomarão conta deste canal, agradecem a oferta. Se querem acabar com a RTP Porto, pelo menos tenham a coragem de o fazer a sério e assumindo as consequências. Agora, decapitar a empresa mas continuar a somar custos e custos sem qualquer benefício para todos aqueles que o pagam, é um abuso, um crime.
Pelo que se percebe do programa de Governo, a privatização da RTP não é para já. Não o sendo, façam o favor de colocar ordem na casa e se é para (e bem) conter fortemente os custos operacionais, falem com quem sabe, ouçam todas as partes e tentem, sff, verificar o que deve ser feito para reduzir os custos. Segundo o tal estudo já feito, um caminho óbvio é aumentar a produção via RTP Porto (por ser mais barato). Defender a RTP Porto e a RTPN no Porto não é bairrismo nem "regionalismos serôdios", é justificado por fazer o mesmo diminuindo os custos. É gestão, boas práticas de gestão.
Falo por mim. O meu bairrismo faz-me defender o Porto Canal (que é privado) e o JN (privado). E todos os projectos privados nascidos na minha região. Outra coisa, bem diferente, são projectos públicos. Esses posso até defender mas por motivos diferentes - o uso de dinheiros públicos obriga a outro tipo de cuidados e obrigações. Por ser dinheiro de todos e não "de alguns"...