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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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Quando a bola de cristal se embacia

"O PSD começou a dar gigantes passos para perder as próximas eleições."

Clara Ferreira Alves, SIC N (20 de Março)

"Passos provavelmente não chegará a governante, medíocre ou não."

Vasco Pulido Valente, Público (15 de Abril)

«Por este andar, o PSD só governará quando os maluquinhos da Exponor lhe pedirem ou as galinhas do dr. Nobre tiverem dentes, de acordo com o que acontecer primeiro.»

Alberto Gonçalves, DN (17 de Abril)

«Um dos casos mais evidentes foi o radicalismo inconsciente de “correr o Sócrates o mais depressa possível”, a que no PSD se deu ouvidos e cujo resultado ameaça ser ou mantê-lo, contra todas as evidências, ou dar-lhe o melhor cenário possível para um retorno ao poder a curto prazo. E o melhor cenário possível, não custa perceber, é um PSD ganhador por uma pequena margem sobre um PS que sai do seu annus horribilis sem grandes estragos.O radicalismo inconsciente de "correr o Sócrates o mais depressa possível", a que no PSD se deu ouvidos, ameaça mantê-lo, contra todas as evidências.(...) [Sócrates] estará na primeira bancada da Assembleia a conduzir uma oposição revanchista e perigosa face a um PSD muito debilitado por uma vitória que será de Pirro.»

Pacheco Pereira, Público (23 de Abril)

3 comentários

Joaquim Camacho 17.06.2011 10:48

Caro Pedro
Não houve de modo nenhum bolas de cristal embaciadas. O que houve (e repito o que aqui disse há dias) foi um fenómeno parecido com o que o teu amigo Figueira disse que aconteceu ao PP espanhol, que "viu uma vitória que parecia certa esfumar-se, e transformar-se, em meia dúzia de horas, numa derrota absoluta".
No caso português, insisto, a vitória do PSD era em determinados momentos, como aqueles em que os cronistas que acima citas escreveram o que escreveram, altamente improvável, tantos os tiros nos pés! A inversão da tendência de voto que permitiu a vitória do PSD só se tornou possível como resultado directo do desenfreado massacre mediático à Goebbels de que o Sócrates foi vítima, principalmente nos últimos 15 dias que antecederam as eleições.
Foi a vitória da demagogia, da propaganda, do bombardeamento de saturação, das mentiras atiradas com estrépito para a praça pública, enquanto desmentidos inquestionáveis eram cínica e vergonhosamente varridos para debaixo do tapete.
Os americanos Harlan K. Ullman e James P. Wade teorizaram a "metodologia" no conceito de "Shock and Awe", que tu, como jornalista especializado em questões de política internacional, por certo conheces bem. Os Maquiavéis à moda do Minho cá do burgo não fizeram mais do que adaptá-la a este desgraçado quintal!
Podes crer que o que se passou nos últimos anos ficará para a História como uma das páginas mais vergonhosas do jornalismo e da justiça portugueses, entre outras gloriosas militâncias e valentâncias!
Pedro Correia 17.06.2011 22:10

Caro Joaquim:
Nem só as bolas de cristal que menciono andaram embaciadas. Pela tua tese, que aliás foste exprimindo com meridiana clareza nestas caixas de comentários, Sócrates chegou a ter a vitória garantida até poucos dias antes do escrutínio de 5 de Junho. O eleitorado, burro, deixou-se conduzir pelas estratégias "à la Goebbels" (espantosa a forma como banalizas a criminosa propaganda nazi, transplantando-a para o Portugal de 2011 como se fosse algo comparável) e votou às cegas, coitado, no Passos Coelho. Que chatice.
No fundo, se bem interpreto o que pretendes dizer, o bom povo português até gostaria de continuar a ter o excelente e genial Sócrates como primeiro-ministro durante mais quatro anos, mas a "demagogia" e a "propaganda" (artes que o mesmo Sócrates jamais praticou, claro) levaram a melhor, cegando os eleitores.
Uma chatice, esta coisa de deixarmos o povo pronunciar-se nas urnas. No tempo do Goebbels - o genuíno - não havia destes luxos...
Joaquim Camacho 18.06.2011 13:00

Caro Pedro
Insisto: a propaganda à la Goebbels desempenhou um papel crucial nesta campanha eleitoral, mas o método já estava a ser utilizado antes de o Sócrates ganhar as primeiras eleições, como sabes. Basta recordar a campanha sobre a sexualidade do homem, ainda antes da sua primeira vitória eleitoral, ou o aproveitamento nojento dessa campanha feito pelo Santana Lopes num debate televisivo. Só que nessa época o método estava ainda em fase de ensaios, não tinha ganho a dimensão avassaladora dos dias de hoje e o pagode não foi na conversa!
Toda a gente sabe que a situação do Portugal de hoje não tem qualquer semelhança com a da Alemanha hitleriana. Dizer, porém, que a técnica é a mesma não é o mesmo que banalizar "a criminosa propaganda nazi", mas sim constatar um facto.
Claro que o Sócrates também manipulou, como qualquer político que se preze, em maior ou menor grau, mas os meios usados contra ele ultrapassaram todos os limites da decência e garanto-te que a História registará isso. Os teus filhos e netos lerão livros, teses, ensaios e trabalhos jornalísticos de investigação sobre o que te estou a dizer. As escolas de jornalismo do futuro apontarão esta época como exemplo de quase generalização de práticas deontologicamente condenáveis e, não sendo eu o oráculo de Delfos, posso garantir-te que muitos nomes da política, do sistema de justiça e do jornalismo de hoje ilustrarão os casos que tais trabalhos vão analisar.
É claro que só poderão ser feitos por historiadores e jornalistas descomprometidos e independentes dos interesses sociais e económicos de agora e dos poderes mediáticos com eles casados ou amigados (união de facto, como se diz agora). Falta muito tempo, e só por essa razão a maior parte dos donos desses nomes não passará vergonhas perante a descendência. Nessa altura já estarão (e eu com eles) a fazer tijolo ou de consciência "protegida" pela Alzheimer, os felizardos!
Um pequeno exemplo, em fait-divers, do completo descontrolo e falta de vergonha em que se caiu (primeiro link em versão resumida e o segundo em versão completa):

http://www.youtube.com/watch?v=hDcU-5l-N2s&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=DQvxelvNX-E#

Do Sócrates tenho razões de queixa concretas, da época em que, como ministro do Ambiente, deu cobertura política aos atropelos cometidos pela Brisa na escolha de parte do traçado da Auto-Estrada do Sul, que me causou prejuízos irremediáveis, sem qualquer espécie de conserto. Se nessa altura estavas no DN, apercebeste-te provavelmente disso. Gastei rios de dinheiro, perdi centenas de horas a combater esses atropelos e perdi. Mas não coloco o meu umbigo no centro da galáxia nem confundo o meu interesse pessoal com os interesses do país! A cobertura política então dada pelo Ministério do Ambiente ao diktat da Brisa não difere da prática habitual dos governos de qualquer parte do mundo. É condenável, é criticável, mas nem o prejuízo pessoal que ela me acarretou consegue impedir-me de sentir nojo pela miserável campanha pessoal de que o homem foi vítima.
Para perceberes como funciono, dou-te um exemplo: a minha posição sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez é coincidente com a do Francisco Louçã, mas quando este, num debate com o Portas sobre o assunto, bolçou aquela boca cretina e idiota de que ele não sabia o que era gerar uma vida e por isso estava limitado no direito de se pronunciar sobre a “protecção da vida” (slogan que o centrista então usava à saciedade), a minha trincheira passou imediatamente a ser a do Portas. E tu sabes bem que, além de estar politicamente nos antípodas, não gramo o bicho nem com molho de tomate!
Caro Pedro, o eleitorado foi tão “burro” desta vez como quando elegeu o Sócrates nas duas últimas (nenhuma delas com o meu voto, ao contrário de agora). A democracia é isso mesmo: o povo falou, tá falado! Mas uma coisa é aceitar o veredicto do povo. Outra, bem diferente, é fechar os olhos à vergonha a que me tenho referido e fingir que está tudo bem.

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