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Albergue Espanhol

"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

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"-Já alguma vez estiveste apaixonado? - Não, fui barman toda a minha vida." My Darling Clementine, John Ford.

Um governo para quatro anos.

 

O resultado destas eleições representa a resolução definitiva da crise política permanente em que vivíamos desde as eleições de 2009 e que na altura caracterizei como correspondendo a um Parlamento pendurado. Efectivamente, o Governo minoritário de então vivia a fazer chantagem permanente sobre a oposição com a ameaça de se demitir e desencadear a bancarrota. Ora, por muito dramática que fosse a ameaça, é evidente que a situação do País não poderia arrastar-se eternamente nesse condicionalismo. O País ansiava por resolver a situação através de eleições, as quais até já deveriam ter ocorrido há muito mais tempo.

 

O novo quadro parlamentar tem a vantagem de permitir uma grande estabilidade governativa, desde que o PSD e o CDS tenham a inteligência de chegar desde já a um total acordo em relação a um programa governamental com um quadro exigente de reformas e com a duração de quatro anos. Recordemos que em Portugal nunca houve um Governo de coligação que tenha conseguido cumprir uma legislatura, o que levou à tradição nacional da formação de Governos minoritários, que tem causado estranheza em toda a Europa. É a altura de se demonstrar ao país que se pode formar um governo de coligação coeso e com a duração de uma legislatura. 

 

No Parlamento as condições de sobrevivência desse Governo estão facilitadas. Existe uma ampla maioria do PSD e do CDS, da qual se espera um efectivo apoio ao novo Governo. E os partidos da oposição encontram-se muito enfraquecidos. O PS ficou desfeito com o resultado eleitoral e, apesar dos elogios da praxe que todos têm vindo a fazer a Sócrates, é evidente que irá pagar durante muitos anos o preço da teimosia deste. E o Bloco de Esquerda acabou no dia 5 de Junho, tornando-se evidente que nunca conseguirá fazer concorrência ao PCP. Atrevo-me a prever que o destino dos bloquistas é a inscrição no PS, especialmente por me parecer claro que este partido irá virar à esquerda no seu próximo congresso. Só o PCP se mantém estagnado, mas também sem perspectivas de crescimento futuro.

 

As grandes dificuldades do novo Governo não estão por isso no Parlamento mas na contestação sindical e nas manifestações de rua. É de prever efectivamente uma grande contestação às medidas que a troika mandou aplicar, pelo que é de esperar uma sucessão de greves e manifestações, à semelhança do que se tem vindo a verificar na Grécia e na Irlanda. O agravamento da recessão económica poderá causar grandes situações de descrença na população, pelo que é fundamental que o novo Governo seja capaz de fazer passar a mensagem de que os sacrifícios vão valer a pena. O povo terá que confiar que no fim da legislatura a situação do País estará melhor do que hoje. Só assim conseguirá suportar esses sacrifícios.

 

O momento crítico para o próximo Governo será o das eleições autárquicas de 2013. Entre nós existe a estranha tradição de os Governos poderem cair depois de um mau resultado dos seus partidos a nível autárquico, como o demonstram os exemplos dos Governos de Balsemão e de Guterres. Os partidos da coligação deverão por isso preparar-se cautelosamente para essas eleições e conseguir aguentar o embate de um eventual mau resultado. É imperioso que esta legislatura chegue ao fim. Se toda a gente está a referir que agora se cumpriu finalmente o sonho de Sá Carneiro: uma maioria, um governo, um presidente, é altura de recordar um outro sonho seu que nunca foi cumprido: um Governo de coligação para quatro anos.