Tirinhos no pé e coisas importantes
É inegável que tem havido muitos tirinhos no pé dados pelo PSD, como aqui escreve Pedro Marques Lopes, mas penso que os eleitores vão ignorar esta espuma e concentrar-se no essencial, sobretudo os que ainda hesitam na direita e na esquerda, talvez mais de um milhão que decidirão em frente ao boletim de voto.
Não sei se as Novas Oportunidades têm assim tantos méritos e se os portugueses apreciam cursos tirados na farinha amparo. Sei que esta nunca foi uma sociedade que ligasse muito ao mérito e que sempre deu excessivo valor ao canudo e ao certificado. Mas reconheço que do ponto de vista da comunicação mediática, a introdução de mais este tema foi inoportuna, por muito estatístico que ele seja.
No entanto, os portugueses não vão votar a 5 de Junho em função de casos secundários, como este ou outros nos quais a campanha se tem centrado, apesar dos esforços socialistas para banalizar os temas.
Os portugueses vão votar porque estão desempregados e fartos de mentiras ou de meias verdades. Vão votar porque o País está à beira da falência e necessita de ajuda externa urgente para pagar as dívidas. Vão votar por causa da ansiedade económica e laboral, sobretudo devido à situação das pequenas empresas, onde empregam ou são empregados, porque deixou de haver negócio ou perspectivas de futuro. Os portugueses vão votar por estarem fartos de promessas vãs e discursos balofos, cansados de serem enganados sobre a verdadeira situação do País. Vão votar porque, se continuar tudo da mesma forma, não terão futuro.
Sobem o desemprego e a inflação, a crise é paga pela classe média, em impostos e redução de salários reais. Os próximos cinco ou seis anos serão dramáticos. É preciso mudar e muitos eleitores têm consciência disso.
Não sei se existe maioria de eleitores a atribuir ao PS e a José Sócrates a responsabilidade por seis anos de declínio económico amparado pela retórica da ilusão. As sondagens apontam para um empate entre as duas maiores forças, PS e PSD. Espero que no debate de sexta-feira, entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, o líder da oposição deixe bem claro que votar em Sócrates não é apenas votar em seis anos para esquecer, mas é também votar em mais quatro de instabilidade governativa.
Sócrates será incapaz de fazer uma coligação com o PSD ou com o CDS; incapaz de se coligar com Francisco Louçã ou Jerónimo de Sousa. Se ganhar, resta-lhe governar sozinho. Penso que Passos Coelho tentará sublinhar esta circunstância peculiar e crucial, que pode determinar o voto de muitos portugueses ainda indecisos.
A única solução estável de governo passa por uma vitória da direita e, para que esta tenha força, o PSD terá de vencer o PS. Ou seja, o voto no CDS não garante a estabilidade se o PSD for menor do que o PS. E não pode haver ambiguidades sobre a derrota que Sócrates merece: se o PS tiver mais votos e menos deputados, espera-nos a guerrilha institucional e a paralisia política.
Tem de ser uma vitória que permita mesmo a mudança: maioria de direita e o PSD com mais votos e mais deputados.
Desculpem o tom panfletário, mas já não controlamos o nosso destino. Portugal perdeu soberania, a ponto de uma chefe de governo estrangeira, Angela Merkel, se permitir criticar num comício as férias e as reformas dos portugueses, que ela acha excessivas (embora em tudo sejam semelhantes às alemãs).
É inaceitável. Sinto vergonha pelo estado a que chegou o meu País.
Há no entanto um problema político que os eleitores controlam: podem livrar-se a 5 de Junho do principal culpado por este descalabro.